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Lucilda Lauxen: a força de uma mulher que se ergueu diante das dificuldades

13/09/2019 - 18h23min

Atualizada em 16/09/2019 - 09h46min

Dois Irmãos – Com 79 anos, Lucilda Lauxen mora em Dois Irmãos há 59 anos. Apesar da idade, recorda com clareza e com emoção sua trajetória, falando dos obstáculos e das vitórias da sua vida. Quando tinha apenas 36 anos, seu marido, Roque Lauxen, faleceu precocemente decorrente de um câncer, deixando-a sozinha para cuidar dos sete filhos do casal, sendo que o mais velho tinha 15 anos e, o mais novo, apenas quatro.

Sempre com um sorriso no rosto, Lucilda conta histórias do seu passado. (Créd. Cleiton Zimer)

Enfrentando e superando

Lucilda é uma das sócias fundadoras da Madeireira Herval, hoje Grupo Herval. Ela ressalta que, naquela época, a empresa estava no seu início e, assim, não tinha condições de ajudá-la nesse momento delicado. Dessa forma, ela que até então era dona de casa, se viu diante da necessidade de fazer algo para garantir o sustento e o futuro dos filhos.

“Eu tive que ser pai e mãe. Então, diante da necessidade e sem experiência alguma, fui para a batalha e abri uma pequena fabriqueta, nos fundos do chalé onde morávamos, fazendo bonecas, puffs, almofadas e tapetes. Comecei com um metro de tecido. Todas as crianças ajudavam, o mais velho era vendedor, outro cortador. Os pequenos ajudavam na produção, preenchendo espuma nas bonecas e puffs”, relembra.

Família em Walachai, (Lucilda à direita, em pé), com os pais e irmãos. A foto foi tirada no dia do casamento dela. Ela conta que tirou o vestido de noiva, para aproveitar o fotógrafo e fazer a foto em família.

Vencendo

Lucilda da detalhes do local onde começou a fábrica. “A garagem estava caindo aos pedaços. Chovia até na minha cabeça. Mas eu comecei devagar, fui indo aos poucos e, com o tempo, consegui crescer bastante. No início, minha fabriqueta era quase mais forte que a Herval”, brincou, afirmando que começou a vender os seus produtos na Tenda do Umbu, em Picada Café, e na Fazenda Klein em Picada São Paulo. “Os pedidos só aumentavam, chegando a vender caminhonetes cheias”.

 

Lucilda Lauxen é uma das sócias fundadoras do Grupo Herval. Ela, com mais 12 irmãos e os pais, começaram a vida como agricultores na localidade de Walachai, se mudando para Dois Irmãos em meados de 1960.

 

Uma história que começou em Walachai

Mas tudo começou em Walachai. O pai Albino e mãe Maria Seger, junto com os treze filhos, trabalhavam na roça, de onde tiravam o sustento da família. “Nós começamos do nada, trabalhávamos muito. Fomos crescendo e, aos poucos, meu pai abriu uma mercearia, onde vendíamos secos e molhados, tecidos, fechos. Tinha um pouco de tudo”, disse Lucilda.

Os bailes

Ela conta ainda que, na época de kerb, faziam bailes dentro do mercado, onde hoje está localizada a Indústria de Calçados Wirth em Walachai. “Colocavam tudo nos cantos e lá se faziam os bailes. Eram três noites seguidas de festa. De manhã limpávamos o salão com enxada, pois tinha muita cerveja jogada nos cantos”, relembra, dizendo que essa é uma das melhores lembranças que tem do seu passado.

Todos os sete filhos de Lucilda reunidos com a mãe

 O amor

Lucila conta que conheceu o marido, Roque Lauxen, em um desses bailes. “Foi amor a primeira vista”. Eles se casaram quando ela tinha 19 anos e, dois anos depois, vieram morar em Dois Irmãos, em 1960.

Roque com seu caminhão

Quando vieram de Walachai, Roque Lauxen era caminhoneiro, e foi convidado pelo irmão de Lucilda, Felipe Seger, a entrar na sociedade Herval. “Ele vendeu o caminhão e, com esse dinheiro, entrou para a Herval”, disse Lucilda.

Lucilda e Roque no casamento (de gaita a irmã de Lucilda, Vali, somente as duas da família ainda são vivas)

 

Construindo um prédio para toda família

Lucilda conta que, depois que o marido faleceu, quando os filhos cresceram e começaram a namorar, surgiu a necessidade de cada um ter o seu lar. “Mas eu não tinha dinheiro para comprar um terreno para todos os filhos. Para mim sempre foi assim: se eu não tinha sete balas, uma para cada um, ninguém ganhava”, disse. “E pegar dinheiro em banco nem pensar, pois isso é uma bola de neve”.

Mas, surgiu a grande ideia. “Um dia, um dos meus filhos sentou do meu lado e perguntou se eu concordaria em arrancar o velho chalé – no qual vivemos e trabalhamos na fabriqueta -, e juntos construir um prédio, para que cada um tivesse o seu próprio apartamento. Ai concordei, pois esse era o único meio”, disse.

Coração na mão

Ela conta que, foi com muita pesar que viu as árvores frutíferas que tinham no terreno serem destruídas para começar a construção do prédio. “Era o único jeito de fazer uma casa para todos. Então com o coração na mão, deixei a máquina destruir todas as árvores. Fiquei dentro de casa, nem assisti”, relembra.

Passo após passo

No total, levou 15 anos para construir o prédio. “A gente comprava uma carga de pedra de alicerce, no outro mês uma carga de arreia. E assim uma coisa depois da outra, sem pegar nenhum centavo no banco. Quando terminaram os pilares, não tinha mais material. Ai eu pedia para os pedreiros não vir, até que tivesse condições de novo”, disse.

Foi assim, devagar, que Lucilda e os filhos edificaram o Edifício Lauxen, que fica na Av. 25 de Julho, tendo assim um apartamento para cada um dos filhos. “No começo, quando a obra ficou pronta, cada um comprou uma pia, um colchão e dormiam no chão. Depois, pouco a pouco, cada um pode mobiliar o seu apartamento”.

Hoje, três filhos ainda moram no prédio com a mãe e, os demais, já construíram suas próprias residências. “Eu me senti muito feliz e orgulhosa, ainda mais por ter toda a família perto e ajudando. Eu sempre ensinei para eles, que não é do nada que vem o pão, temos que trabalhar juntos”, concluiu.

Lucilda tem sete filhos, 15 netos e dois bisnetos. Ela vendeu sua parte da sociedade na Herval para a família Seger, há seis anos.

 

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