Cadernos
“Se pudesse, viveria tudo novamente”, diz Quitta Lenhart
Dois Irmãos – Ao andar pelas ruas da Avenida São Miguel, é difícil não encontrar uma senhora simpática que, com seus 88 anos, esbanja saúde e recorda com muita alegria sua história com Dois Irmãos. Dona Quitta Engelmann Lenhart, ou simplesmente, Quitta, como gosta de ser chamada, nasceu em 17 de agosto de 1931, em um antigo casarão, que ficava em frente à Igreja Evangélica. “A casa já não existe mais, mas de lá tenho muitas recordações boas, principalmente do pomar que tinha no terreno, logo atrás de onde morávamos. Ali tinha de tudo, poderia escolher quais frutas queria comer”, comenta. De acordo com ela, naquela época, só tinha casas em torno da avenida, que era a única rua que existia e, nos demais locais, tinha-se pomares, como no exemplo citado por dona Quitta. “Tinha pés de pera, bergamota, figo e muito mais. Nunca precisávamos comprar frutas”, recorda.
Além disso, Quitta conta que seu avô é uma das melhores recordações que tem do seu tempo de infância. “O vô era muito brincalhão, ele sempre fazia de tudo para a gente rir”, relembra, muito feliz ao, por um instante, submergir nas lembranças da época de sua infância.
Casamento
Em 1951, com 19 anos, Quitta se casou com seu esposo, Arno Lenhart, e foi morar em Novo Hamburgo com a família dele. Ficou morando na cidade por 30 anos, sendo dona de casa, até 1981, retornando para Dois Irmãos depois que o marido faleceu. Dessa união, nasceram dois filhos, quatro netos e duas bisnetas.
“Gostei tanto de morar aqui quando crianças que, quando meu marido faleceu, quis voltar para Dois Irmãos, e para a Avenida São Miguel. Pois tudo o que vivi aqui foi muito bom e, se pudesse, pelo menos por um instante, voltar no tempo, viveria tudo de novo”, disse, com um sorriso contagiante no rosto.
Os olhos, em alguns momentos, chegam a brilhar e, até mesmo, lacrimejar, ao recordar do passado e dos bons momentos vividos em Dois Irmãos. É assim que, com 88 anos, dona Quitta, relembra de momentos simples, mas, ao mesmo tempo, marcantes da sua vida
Mesmo terminado os estudos, ajudava na escola
Quitta conta que, quando terminou a escola, no quinto ano, não conseguiu mais continuar com os estudos. “Se quiséssemos continuar a estudar, teríamos que ir para outros lugares e, naquele tempo, não tinha como se deslocar, pois não tinha veículos e, também, não tinha condições financeiras”, comenta, ressaltando que, logo que concluiu os estudos, continuou participativa na escola por um tempo. “Como o colégio era perto da minha casa, eu ajudava as professoras. Elas me passavam o conteúdo e eu repassava as atividades no quadro negro para os alunos. Eu cuidava das turmas quando podia”, recorda. Apesar disso, conta que nunca teve muito interesse em continuar a estudar. “Eu comecei a namorar muito cedo, ai tive outras prioridades, já voltadas para a família”, disse.
O kerb era muito aguardado
O melhor de tudo, conta Quitta, era o kerb. Ela relembra que, da mesma forma como acontece hoje, as preparações para a festividade começavam muito cedo, mas no geral, era muito mais animado do que hoje. “Isso era sapato novo, vestido novo, pessoas se arrumando e se enfeitando para comemorar”, disse, mas ressalta que antes, tinha que participar da missa e dos cultos. “Antes de mais nada íamos rezar, depois saíamos da missa indo direto para o salão. A banda ia na frente, animando as pessoas e a gente ia atrás, dançando”, disse sorrindo, lembrando da época onde os bailes eram dentro do Salão Sander.
“Era muito divertido. Hoje as festas ainda acontecem, mas não da mesma forma, não é mais tão bonito. A rua, entre a Sociedade Atiradores e até a Santa Cecília sempre estavam lotadas de pessoas, mesmo naquele tempo onde a população era menor”, disse Quitta.
“Não podíamos ir sozinhas”
Quitta lembra que, quando começou a ir para festar e bailes, nunca pôde ir sozinha. “Nós saíamos entre cinco amigas, mas nunca sozinhas. A minha mãe sempre estava junto, nos acompanha e cuidava, até os 18 anos e, logo depois disso, eu casei”, disse.
Puxando Sino
Quando tinha 15 anos, Quitta, por muito tempo, ia todos os dias, ao entardecer, até a Igreja do Relógio, para puxar o sino. “De manhã cedo não era eu que fazia mas, todos os dias, às 18h, eu ia até a Igreja para puxar o sino. Na época era tudo manual. É uma coisa que me marcou muito, eu ia lá cumprir o meu dever, mas, ao mesmo tempo, me divertia. Pois eu puxava o sino e, quando a corda voltava, ela me levantava junto e isso era uma forma de brincar”, recorda dona Quitta.
Um lugar privilegiado
Hoje Quitta mora com um dos filhos, no Centro da Avenida São Miguel, em uma casa que construiu depois que voltou para Dois Irmãos. “Aqui é muito bom para morar, um lugar privilegiado, onde vejo o tempo passar e as coisas acontecer”, comenta, sempre com um sorriso.
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