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Ivoti: cobras buscam refúgio em casas e preocupam população
Ivoti – A situação não chega a ser tão atípica para a época do ano, mas chamou atenção da comunidade na última terça-feira, 7. Três serpentes foram capturadas pelos Bombeiros Comunitários do município ao longo do dia em locais diferentes. Uma destas ocorrências foi na residência da moradora Alice Ludwig, no bairro Jardim Bühler.
De férias e grávida de quatro meses, Alice estava em casa quando decidiu remover alguns galhos da única árvore que fica em frente à porta, dentro do seu pátio. Na primeira tentativa, ela foi atacada por mamangavas, uma espécie de vespa, que fizeram ninhos na árvore. “Saí correndo e me tranquei em casa. Esperei um pouco até elas dispersarem”, relata. Após alguns instantes, em nova tentativa, a surpresa.
Alice foi surpreendida por cobra quando podava galhos da árvore (Créd. Alex Günther)
“Quando voltei vi a cobra enrolada no tronco. Ela tinha cerca de 60 centímetros. Acho que o ataque das mamangavas me deu sorte, porque talvez não percebesse a presença dela na primeira vez”.
Alice comenta ainda que chegou a colocar um porongo na árvore para pássaros fazerem ninhos no interior. Alguns ovinhos apareceram, mas depois de um tempo, o ninho ficou vazio. “Estranhei quando vi somente a palha. Agora suspeito que a cobra possa ter comido os ovos”, finaliza Alice.
Entendendo o comportamento delas
Situações como esta podem se tornar rotineiras na região nesta época do ano, e algumas peculiaridades podem explicar o aparecimento repentino dos animais. O doutor em paleontologia com especialidade em répteis da PUC-RS, Marco Brandalisi, destaca alguns componentes comportamentais das cobras que influenciam nos episódios recentes no município.
“Primeiramente é preciso entender que a especialidade das cobras é se esconder, procurar um refúgio. Você pode cruzar uma área ambiental e passar por 10 serpentes sem notar a presença delas”, aponta.
Questionado então o porquê delas surgirem em áreas residenciais, Brandalisi comenta: “o verão é um período em que ocorre muitas queimadas em áreas verdes, promovidas para limpar terrenos residenciais e rurais. Isso acaba provocando um deslocamento do animal, que busca um novo refúgio”, avalia.
Serpentes tendem a ficar mais ativas no verão (Créd. Alex Günther)
Marco descarta que o calor seja o principal componente para aparição dos animais nas casas, mas pode influenciar indiretamente. “Não há base científica que aponte que as altas temperaturas propiciem uma maior presença das serpentes. Obviamente que elas também sentem calor, e no verão elas ficam mais ativas na busca por locais mais frescos e secos, mas este não é um fator determinante para aparição em residências”, destaca.
De acordo com o paleontologista, o deslocamento das serpentes ocorre preferencialmente à noite, entardecer ou primeiras horas da manhã. “Raramente você verá uma cobra se movimentando entre 10 e 15 horas”, finalizou. Os acidentes ofídicos são mais frequentes na população rural, no sexo masculino e em faixa etária economicamente ativa.
Bombeiros preparados
A comandante do Corpo de Bombeiros de Estância Velha e Ivoti, tenente Deise de Oliveira Tecca, destaca que os soldados das corporações passam por um curso de 1.500 horas para lidar com situações que envolvam fonte de perigo. Dentro de ocorrências desta natureza estão inclusos animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões, a retirada de enxames e até ataque de cães.
Soldado durante captura de uma das serpentes em ocorrência da terça-feira
“Nós temos equipamentos para a captura das serpentes, promovemos treinamentos e estamos em permanente contato com o Centro de Informações Toxicológicas para buscarmos atualizações”, aponta Tecca.
Entre os chamados voltados para as fontes de perigo, em 2019 foram atendidas 73 ocorrências e, destas, foram recolhidas 22 cobras peçonhentas. “Lembrando sempre que nunca matamos as serpentes. Nós levamos os animais até locais remotos para a soltura e em alguns casos, dependendo da espécie, encaminhamos para o zoológico”, ressalta a tenente.
Em 2019 os bombeiros atenderam 73 ocorrências relacionadas a fontes de perigo. Em 22 delas recolheram cobras venenosas
Sobre as ocorrências recentes em Ivoti, Deise destaca: “É comum aqui. Não temos uma área tão urbana e as características rurais estão presentes, com bastante vegetação e estradas de terra”. Tecca informa que as espécies mais comuns na região são a Jararaca e a Coral, tanto a falsa, que não possui veneno, quanto a verdadeira.
Atendimento em Ivoti
A Secretaria de Saúde de Ivoti destaca que o Hospital São José é a referência em atendimento no município em casos de incidentes envolvendo serpentes, tanto na administração do soro antiofídico quanto demais tratamentos envolvendo picadas. O soro antiofídico é fornecido por Novo Hamburgo e, em caso de falta, o paciente tem que aguardar a vinda do medicamento da central, localizada em Porto Alegre.
O que se deve fazer na presença de cobras
- Em caso de picada de cobra, não se deve pressionar o ferimento, fazer torniquete ou tentar sugar o veneno da área afetada
- Uso de substâncias caseiras no local da picada (alho, esterco, borra de café)
- É importante identificar a espécie da serpente que causou o ferimento para facilitar na administração do soro antiofídico
- Registro fotográfico da cobra pode auxiliar neste sentido
- Se houver a possibilidade, levar o animal até o local onde a vítima está sendo atendida
- Quando contatar Bombeiros ou órgão ambiental competente para a captura, nunca perca a serpente de vista. Cobras não gostam de exposição e tendem a procurar refúgios, o que dificulta uma possível busca em uma residência ou área aberta
- Importante: se você não possui o treinamento adequado ou não tem familiaridade com o animal, nunca tente matar ou espantar a cobra. Contate o Corpo de Bombeiros da sua cidade ou departamento municipal de Meio Ambiente