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112 anos de imigração: Colônia Japonesa, em Ivoti, muda hábitos para se adaptar à pandemia

18/06/2020 - 09h31min

Kiyomi Miyabe, responsável pelo Memorial, está catalogando as peças expostas

Ivoti – Em 18 de junho de 1908, chegava a Santos (SP) o navio Kasato Maru, trazendo 781 imigrantes japoneses que logo se estabeleceram em terras brasileiras. Portanto, a imigração celebra hoje 112 anos de muitas histórias. Na região, a Colônia Japonesa foi fundada em 1966, quando 26 famílias nipônicas receberam áreas de terras para empreender e recomeçar a vida.

54 anos depois, a Colônia em Ivoti vive dias diferentes dos habituais. Embora o hábito das máscaras e da higiene seja algo relativamente cultural no Japão, adotado pela maioria dos habitantes, especialmente considerando locais de grandes aglomerações, no Brasil a história é diferente. E quem vive no interior também precisou se adaptar à situação causada pela pandemia.

A tradicional Feira da Colônia Japonesa, realizada uma vez por mês junto ao Memorial, na Rua Sakura, está suspensa desde março. Por ora, quem visita o espaço encontra um local em sua maioria vazio. A grama é cortada, e a Prefeitura melhorou os acessos. Mas os visitantes, estes que fazem o espaço ser mais colorido e cheio de vida, praticamente não aparecem mais.

André Hayashi, presidente da Associação da Colônia Japonesa, junto ao local onde a feira é realizada

“Faz falta a feira. E as pessoas mesmo têm saído pouco de casa. Nós agora estamos publicando no Facebook da Colônia os produtos que são comercializados pelos produtores. Foi a maneira que encontramos”, afirma o presidente da Associação da Colônia Japonesa, André Hayashi, que complementa: “Temos que pensar no bem das pessoas, na saúde primeiro”.

A fala é no sentido de que muitos produtores dependiam da realização da feira para garantir seu sustento. Só que o evento não tem data para retornar. “Esse ano eu acho que não podemos mais realizar, a menos que surja algum remédio ou vacina. Tomara que seja possível”, pontua Hayashi. Por volta de 25 produtores estão cadastrados para participar do evento.

“Esse ano eu acho que não podemos mais realizar, a menos que surja algum remédio ou vacina” – André Hayashi

Hiromi está produzindo e vendendo em casa

A produtora que passou a empreender de casa

Uma das produtoras afetadas foi Hiromi Miyabe, que mora no bairro Palmares. Ela, que participa da feira desde o início, diz que precisou apostar em novos produtos para encarar estes dias sem feira. Se antes ela preparava os biscoitos japoneses e os brotos de bambu, agora Hiromi tem feito uramaki, sushi e o pastel japonês, conhecido como guioza, que pode ser levado e congelado.

“Meu filho, minha filha e minha irmã estão ajudando”, afirma ela, que cozinhava arroz nas panelas elétricas enquanto a reportagem esteve no local. O negócio dela, o Miyabe’s Sushi, abriu há cerca de um mês na própria casa dela, na Rua Vale das Palmeiras, e já tem páginas no Facebook e no Instagram, além de trabalhar com tele-entregas e pedidos via WhatsApp.

Memorial está catalogando peças expostas

O Memorial da Colônia Japonesa em si está fechado para o público. A responsável pelo espaço, Kiyomi Miyabe, aproveita o tempo para catalogar as peças. Ela afirma que participou de um curso recente relacionado ao assunto, promovido pelo historiador Cristiano de Brum. “Ainda prefiro ter o público de volta. Mas daqui a algum tempo, tudo vai passar, se Deus quiser”, afirma Kiyomi.

Quem entende o idioma japonês tem contatado parentes ou acompanhado as notícias por meio da Internet em sites e outras fontes locais. Uma curiosidade: o filho de Kiyomi está no Japão a estudo e, segundo ela, todos os habitantes daquele país, independentemente da idade, receberam uma espécie de auxílio emergencial, de cerca de US$ 1 mil, também em função da pandemia.

“Acho que o pessoal tem muito receio de sair”, comenta ela. Na visão de Kiyomi, a maioria dos moradores da Colônia Japonesa preferiu o isolamento voluntário, em função de muitos serem idosos, ou seja, do grupo de risco. “Tem gente que eu não vejo há uns três meses. Algumas famílias vêm para a Colônia e ficam passeando aqui, mas todas cumprindo o distanciamento”, diz ela.

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