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A noite do crime que tirou a vida de Adélcio Haubert em Santa Maria do Herval
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – Mais de uma semana se passou da fatídica noite em que Adélcio Haubert levou um tiro na cabeça em sua residência em Boa Vista do Herval, cujos ferimentos o mataram depois de passar seis dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em coma. O Herval já chorou sua partida, sua família e amigos estão desolados. As perguntas de quem fez o que fez e do porquê atirou no empresário e ex-vice-prefeito do município ainda permanecem no ar, sem respostas até o momento. O crime aconteceu na quarta-feira, 21; ele morreu na segunda e foi sepultado na terça, 27.
De acordo com o delegado Eduardo Hartz, de São Leopoldo, que está coordenando o caso juntamente à Delegacia de Herval, as imagens das câmeras de segurança da residência foram recolhidas e estão sendo analisadas, mas questionado se elas já apontavam para alguma pista informou que a polícia não está dando detalhes sobre a investigação. “Foi encaminhado para a perícia para ver se nos darão alguma informação nesse sentido. Suspeitos também não há”, disse.
De acordo com os agentes da Delegacia do município a investigação está em andamento, mas depende do laudo da perícia – que foi realizada na noite do crime – para obter os detalhes mais técnicos e assim avançar mais no caso. Ainda não há prazo de quando a perícia dará o resultado das análises.
O momento do ocorrido
Segundo informações do delegado Eduardo, o crime teria ocorrido entre 19h20 e 19h30 de quarta-feira. De acordo com informações do Ambulatório 12 de Maio, a equipe de saúde recebeu uma chamada pedindo por socorro às 19h57, cuja ligação de 51 segundos foi feita por uma amiga da esposa de Adélcio. Naquela noite Adélcio e a sua mulher Flávia estavam sozinhos na residência, na sala de estar; depois dos disparos, ao ver o marido desacordado e ensanguentado, chamou por um casal de amigos, mesmo tendo sido atingida de raspão pelo disparo – ainda não ficou esclarecido, mas informações preliminares indicam que o tiro a atingiu de raspão primeiro e, depois, acertou Adélcio na cabeça. Apesar de ferida ela está bem e esteve no velório e sepultamento do marido.
Segundo a comandante Rosângela Nunes, naquela noite uma viatura da guarnição da Brigada Militar com dois soldados estava fazendo ronda em Boa Vista de Herval e, ao retornarem para o quartel que fica no Centro receberam a chamada do Ambulatório informando do ocorrido. Imediatamente – menos de um minuto depois do pedido de socorro – a viatura retornou para a localidade, fazendo frente à ambulância que seguia logo atrás com o motorista, uma técnica e enfermeira. O médico Mauro Nor Bilodre, que estava de plantão naquela noite, disse que em situações como essas o protocolo é acionar a polícia antes de ir para o local, justamente para garantir a segurança dos profissionais da saúde.
Momentos de desespero
Ao chegar no local, já com a proteção da Brigada Militar, os profissionais da saúde encontraram Adélcio sobre o sofá, ainda sentado e desacordado com um sangramento ativo na cabeça. Sua esposa estava andando de um lado para o outro, nervosa e sem conseguir assimilar tudo o que estava acontecendo. Ele foi rapidamente colocado sobre uma maca, feito um curativo compressivo para tentar estancar o sangramento e levado para o Ambulatório sob escolta.
De acordo com Mauro, foi um momento bastante tenso, pois além da gravidade do ferimento, o paciente precisou ser rapidamente entubado e necessitava ser urgentemente transferido para uma unidade de mais alta complexidade. “Ficamos muito apreensivos, pois a Brigada Militar fazia a nossa segurança com uma equipe fortemente armada no entorno do Ambulatório, nos levando a pensar que poderia haver troca de tiros na unidade de saúde”, disse.
A comandante Rosângela esclareceu que a prioridade naquele momento era ajudar a socorrer as vítimas e garantir a segurança dos profissionais ali trabalhando. “Acompanharam eles até o Ambulatório até que o atendimento fosse feito, pois não se sabia quem tinha atirado ou o que ainda poderia acontecer”.
Escoltas e buscas
No Ambulatório o paciente foi entubado e recebeu os primeiros atendimentos para a estabilização dos sinais. “No momento em que ele estabilizou iniciamos o deslocamento de ambulância para a Unimed de Novo Hamburgo, onde foi encaminhado para tomografia e posterior cirurgia”, disse Mauro. Nessa altura a Civil também já estava acompanhando o caso e ajudou a fazer a escolta junto à Brigada Militar, indo até quase a BR-116 em Morro Reuter. “Ajudamos para melhorar o deslocamento, havia muita neblina”, disse um dos agentes.
A comandante Rosângela estava de folga, mas devido à proporção da ocorrência foi dar apoio aos colegas. “Depois do socorro feito, ficou um soldado para fazer o registro da ocorrência e retornamos para o local para preservar a cena do crime até a chegada da perícia. Até caminhamos pelo mato, procuramos, mas como era noite e escuro não se visualizava nada e não foi possível localizar ninguém. Perguntamos nas imediações, mas ninguém tinha visto nada”, afirmou, destacando que qualquer informação pode ajudar no esclarecimento do caso e, para isso, os moradores podem fazer denúncias anônimas através dos 051 99239-0286 ou 99600-5530. “Não precisa se identificar, qualquer detalhe pode ajudar; assim, estamos no escuro”.
A cena do crime
A casa de Adélcio onde ocorreu o crime fica perto da RS-373, ao lado do Frigorífico Boa Vista, fundado e erguido por ele e seu pai e que foi vendido há cerca de dois anos para um empresário de Santa Catarina. Apesar de perto da rodovia a casa fica envolta por um matagal, estando isolada. Um muro com um metro de altura cerca a residência; acima do muro ainda há uma grade e, em cima desta uma cerca elétrica. Entre o muro e a casa há um espaço que varia entre 10 a 20 metros. A polícia suspeita que o atirador tenha efetuado os disparos a partir do muro, se ajeitando entre a grade e atirando pela janela, acertando Adélcio que estava sentando no sofá ao lado da mulher.
Foi encontrado uma cápsula de um projétil calibre 38 e a perícia está averiguando para ver qual arma foi usada no crime. Devido à distância em que o tiro foi disparado e pela precisão, a probabilidade é que seja uma arma longa, como por exemplo uma puma – mas isso ainda terá de ser esclarecido.
Apesar de ser encontrado somente uma cápsula, dentro da casa há vestígios de ao menos três disparos: um que atingiu Adélcio e outros dois em locais aleatórios.