Destaques
DIÁRIO RURAL: Walachai tem a maior lavoura de lavanda de Morro Reuter
Por
Rogério Savian
Morro Reuter – O plantio de lavanda tem conquistado cada vez mais adeptos por esta ser uma cultura resistente à seca, não exigir tanto trabalho e seu retorno financeiro é muito bom. O óleo essencial é bastante procurado e o litro está sendo comercializado em média a R$ 1.100,00. Em Walachai, Ari Normélio Closs, que por 37 anos trabalhou como motorista de caminhão em fábrica de calçado, há poucos dias colheu sua plantação. Ele conta que começou a investir no cultivo de lavanda há 11 meses e já tem mais de 23 mil pés plantados. Ainda neste ano pretende plantar outros seis mil e os planos é chegar a 50 mil mudas, com uma área de 7 a 8 hectares.
Inicialmente vendia a massa verde da planta (ramos e flores), mas agora comprou a máquina que faz a destilação e ele mesmo passou a extrair o óleo. Esse processo agrega um retorno financeiro muito maior. Para agilizar o corte ele utiliza um aparador de cerca viva e conta que está usando uma técnica de poda em que tira menos do galho, facilitando o surgimento de nova brotação em um menor período. Dessa maneira a expectativa é conseguir de 4 a 5 cortes por ano. A quantidade de óleo está relacionada a de flores e se o galho for muito novo rende menos.
“A lavanda dá de 5 a 6 vezes mais lucro do que plantar mato na mesma área de terra. Meu maior investimento é a muda e depois a minha mão-de-obra, que dou conta sozinho”. A lavanda é considerada uma planta bem resistente e se adapta facilmente ao terreno de encosta dos morros. Precisa de pouca correção de solo e cuidados em geral. Também estão surgindo interessados em comprar as flores para fazer arranjos de decoração. Ari conta que não está nos seus planos cobrar para visitação, mas pretende abrir sua propriedade para quem tiver interesse em conhecer o cultivo e extração do óleo.
Extrair o óleo agrega valor ao produto
A destilação do óleo de lavanda é feita em uma máquina que aquece a água, passando pelo compartimento onde está a massa verde. Ao passar pelas plantas, o vapor faz com que elas liberem seus óleos essenciais. Esses óleos seguem misturados com o vapor até o tubo de condensação. O vapor atravessa o condensador dentro de uma serpentina. Entre a serpentina e a parede do condensador, há água gelada, que tem como função de resfriar o vapor. Neste momento, o vapor é resfriado, se tornando um líquido que mistura água e óleo essencial. No terceiro recipiente, pela diferença de densidade dos líquidos, o óleo é separado da água. Assim, ao final do processo, a água é liberada e o óleo essencial é separado. São necessários cerca de 300 quilos de planta para extrair 1 litro de óleo essencial. O processo demora cerca de 1h50 por destilação. Toda a produção é comercializada para uma empresa de Santa Maria, que investe no mercado da aromaterapia, a partir da criação de óleos e essências naturais.
Expectativa de crescimento
Seu Ari ressalta que a energia elétrica de qualidade é fundamental para o desenvolvimento das áreas rurais porque a maioria das atividades depende de maquinários acionados pela eletricidade. Por enquanto, sua maior dificuldade é que a máquina fica instalada no galpão do amigo Décio Kuhn, há cerca de 1,5 quilômetro da lavoura. Isso porque no sítio ainda não tem energia elétrica. O pedido de instalação dos cerca de 200 metros de rede baixa tensão já foi feito à RGE, mas ainda está sendo aguardado. A Administração Municipal também está trabalhando para levar energia de qualidade para a região e por isso vem cobrando a rede, que também vai beneficiar outras famílias nas imediações. Ari está construindo um ambiente para fazer a destilação no sítio e se já tivesse energia elétrica o trabalho seria muito menor porque hoje precisa transportar toda a produção para a casa de Décio. Depois de extraído o óleo, ele carrega a palha seca de volta para espalhar na lavoura, onde vai se decompor.
Cadeia produtiva
De acordo com Evandro Knob, chefe do escritório municipal da Emater, atualmente são 22 famílias que se dedicam ao cultivo de lavanda no município. Do ano passado para cá, foi registrado um grande aumento no plantio. “Isso passa também a ampliar o mercado, porque antes tínhamos apenas uma empresa que adquiria a planta. Hoje, nossos produtores contam com, pelo menos, três alternativas para a comercialização do óleo”. Em 2014, Morro Reuter criou a Lei Nº 1.533, que institui o programa de incentivo à produção de lavanda. Entre os mecanismos, a lei prevê a distribuição gratuita de mudas, transporte de insumos e da produção. O município é pioneiro na região no cultivo da planta, o que contribui para a economia e o turismo. Hoje, as pessoas plantam a lavanda com dois objetivos: econômico, em função da poda e da extração do óleo, ou há aqueles que plantam com um viés turístico. Desde 2011 o município promove a cada dois anos a Festa Nacional da Lavanda, que é o maior evento de Morro Reuter.