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Sobrevivente da tragédia em Taguaí disse que passageiros de ônibus dormiam e estavam sem cinto
Batida entre ônibus e caminhão ocorreu nesta quarta-feira na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, em Taguaí (SP). Acidente deixou 41 mortos e 10 feridos.
Um dos sobreviventes do acidente entre um ônibus e um caminhão que deixou 41 mortos e 10 feridos nesta quarta-feira (25) no interior de São Paulo disse que a maioria dos passageiros estava sem cinto de segurança e dormia no momento do acidente.
A colisão ocorreu no km 172 da Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, em Taguaí (SP). O ônibus, que não tinha autorização da Artesp para circular e estava com documentos irregulares, levava trabalhadores de uma empresa têxtil.
“Acho que só o motorista estava de cinto e uns 90%, 95% dos passageiros, estavam dormindo”, relata Elian Marcos, de Itaí (SP), que teve apenas escoriações provocadas pelo acidente.
“Eu lembro de tudo. Lembro que antes de chegar neste local, mais ou menos a 1,5 km, eu estava dormindo no ônibus. Eu acordei, e nisso era uma curva que não dava para ver bem. Vi que tinha um ônibus e um caminhão muito devagar na frente. Não sei se falhou o freio, mas chegou muito perto do caminhão, que estava devagar ,e o motorista tirou o ônibus. Nisso veio a carreta na pista contrária.”
Segundo Elian, o motorista do ônibus não tentou fazer uma ultrapassagem, mas tirou o veículo para evitar bater na traseira do caminhão que estava à frente.
Elian Marcos foi um dos sobreviventes — Foto: Reprodução/TV Globo
Após o acidente, o caminhão do tipo bitrem (de tamanho maior), que levava carga de esterco, invadiu uma propriedade rural. O motorista do veículo chegou a ser levado ao pronto-socorro de Fartura, mas morreu na unidade.
Caminhão envolvido no acidente — Foto: William Silva/TV TEM
A companheira do caminhoneiro informou que ele não tinha habilitação para dirigir caminhão, tinha apenas habilitação provisória para carro e, por isso, levava outro caminhoneiro junto nas viagens.
Várias vítimas foram arremessadas na pista com a força da batida, segundo o Corpo de Bombeiros.
“Algumas vítimas foram projetadas para fora do ônibus, algumas estavam no interior do veículo e outras ficaram presas nas ferragens e nos bancos do ônibus também, o que dificultou a retirada. Mas tivemos cautela para que não houvesse maiores danos nos corpos”, disse o tenente do Corpo de Bombeiros, Carlos Alexandre Prandini.
Até a manhã desta quinta-feira (26), foram confirmadas 41 mortes e quatro pessoas permanecem internadas.
A maioria das vítimas foi velada em ginásios de Itaí, e as prefeituras de Taguaí e Itaí decretaram luto oficial por três dias.
“Com a colisão uma parte da carroceria do caminhão se desprendeu, foi para o lado do ônibus. Ela ocasionou um grave dano na lateral do ônibus e infelizmente levando a óbito tantas pessoas. Foram arrancados bancos, vítimas com membros decepados, vítimas machucadas”, diz Daniel Aparecido Demétrio, capitão da Polícia Militar.
Segundo o tenente Alexandre Guedes, porta-voz da PM, foi o maior acidente do ano nas rodovias do estado de São Paulo.
O que diz a confecção
O advogado Emerson Rodrigues, responsável pelo setor jurídico da Stattus Jeans, empresa têxtil onde trabalhavam os passageiros levados no ônibus, disse que a empresa do veículo era contratada pelos funcionários que recebem vale-transporte. Ele não comentou sobre as condições de segurança do veículo.
Quando ocorreu o acidente, o ônibus com trabalhadores havia saído de Itaí, passado por Taquarituba e seguia até a empresa têxtil em Taguaí.
Empresa de ônibus é clandestina
A Star Viagem e Turismo não tinha autorização para operar, segundo informações da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). O G1 apurou que a empresa de ônibus já foi multada várias vezes e era considerada clandestina pelo órgão fiscalizador.
Nem no site da Artesp nem no da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) há registros sobre a Star Fretamento e Locação Eirelli EPP, criada em 2016 e com sede em Taquarituba, segundo dados da Junta Comercial do Estado.
O veículo envolvido na batida, com placa DJC 8811, acumula 11 multas – 2 municipais, 1 do Detran e 8 do D.E.R. Além disso, estava com IPVA, licenciamento e DPVAT atrasados, ou seja, não poderia estar em circulação. São mais de R$ 5 mil em débitos.
Segundo a Artesp, “a empresa não possui registro para transporte de passageiros e roda ilegalmente desde 11 de outubro de 2019”.
Milton Persoli, diretor da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), descarta que tenha havido omissão ou falta de fiscalização por parte da agência.
“A Artesp executou, só em 2020, 8 mil ações fiscalizatórias, com 5400 multas. Nós executamos uma média de 250 fiscalizações diárias, de segunda a segunda. Não existe omissão, o que existe é uma irresponsabilidade da empresa. Ela foi autuada quatro vezes em 2020, teve seus veículos retidos duas vezes. O que acontece é uma irresponsabilidade do proprietário da empresa em continuar exercendo essa atividade.”
Leia mais sobre o acidente: Primeiras informações, 41 mortos no acidente
Crédito: G1