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Cerco ao crime: tráfico de drogas em Dois Irmãos é comandado de dentro de presídio
Dois Irmãos – A sexta fase da Operação Pseudonym deu mais um passo na tentativa de fechar o cerco contra o tráfico de drogas no município. Investigações da Polícia Civil dão conta que o esquema de venda de entorpecentes é comandado por um criminoso ligado a uma facção com forte atuação no Vale dos Sinos e que está preso dentro da Penitenciária de Montenegro.
Na última fase deflagrada da operação, agentes foram até a instituição penal para cumprir mandados de busca e apreensão e localizou cinco celulares de posse do comandante do tráfico. Os aparelhos já foram apreendidos e serão utilizados nas investigações da operação.
Entretanto, a Pseudonym, desde que instaurada, já resultou em diversas prisões, pessoas indiciadas e mandados de busca e apreensão. De acordo com a Inspetora Fernanda, os trabalhos de investigação iniciaram na metade de 2019 e não tem prazo para encerrar, sendo uma das maiores operações da história da Delegacia de Polícia de Dois Irmãos, evidenciando todo um esquema de hierarquia do crime na cidade.
Monitorado desde a primeira fase
O chefe do tráfico de drogas já estava envolvido e é cabeça-chave nas investigações desde a primeira fase da operação, que prendeu quatro indivíduos que vendiam drogas no bairro São João.
Nesta fase, deflagrada em julho de 2019, a polícia cumpriu dois mandados de busca e as investigações resultou em sete pessoas indiciadas. Um traficante menor, chamado de “funcionário”, foi preso em uma boca, além do responsável pela boca e a esposa deste, em uma casa no Travessão.
Outro funcionário da boca foi preso em outra fase da operação, depois de ficar algum tempo foragido. Fernanda explica que desde o início das investigações a polícia já encontrava indícios de que o responsável por chefiar o tráfico de drogas em Dois Irmãos comandava de dentro do presídio.
Mais fases e mais prisões por tráfico
Entre a segunda e a quinta fase da operação, a polícia realizou mais seis prisões, sendo uma do foragido da fase inicial, além de oito mandados de busca e apreensão. O número de indiciados foi de seis na 2ª fase e oito na 5ª fase. A operação foi deflagrada também no bairro Vale Verde, além do São João. As investigações serviram para apontar desta vez que o preso em Montenegro comandava o tráfico de drogas em toda Dois Irmãos.
Foram presos o responsável pela venda de entorpecentes no bairro Vale Verde, um casal de motorista de aplicativos que também traficavam, além de um segundo responsável pelas bocas do bairro São João e seu funcionário. Em desdobramentos da operação, a polícia também descobriu um dos fornecedores de droga para este bairro, que mora do Kephas. Ele não foi encontrado e segue considerado como foragido da justiça.
Ao todo, ao longo das fases da operação, a polícia apreendeu diversos entorpecentes como cocaína, maconha, crack, sintéticos, além de armas, balanças de precisão, valores em dinheiro e três veículos.
Quem é o chefe do tráfico em Dois Irmãos
O preso responsável por esquematizar e organizar o tráfico de drogas em Dois Irmãos não terá o nome ou alcunha divulgados para não atrapalhar nas investigações nem dar publicidade as suas ações, visto que ainda não foi condenado pelo crime, apenas indiciado várias vezes. Ele já possui uma condenação por latrocínio.
Inclusive foi devido a este crime que ele “subiu” na hierarquia da facção. Ele foi um dos envolvidos em uma ocorrência de assalto que resultou na morte de um policial militar. De acordo com a condenação, ele foi quem disparou e matou o brigadiano.
Anteriormente, o criminoso atuava como assaltante de carros e de estabelecimentos comerciais para a facção, mas recebeu como “prêmio” comandar o tráfico em Dois Irmãos. Com a apreensão dos cinco celulares na cela do preso, ele ficará 10 dias em isolamento na penitenciária, sem poder comandar o esquema no município.
Maior operação da história de Dois Irmãos
A inspetora Fernanda destaca que nunca antes na história da Delegacia de Polícia de Dois Irmãos foi deflagrada uma operação tão grande e longa, com várias fases. “Nós costumamos comentar que esta é a nossa Operação Lava Jato”, relatou.
Ela ainda explica que, enquanto houver consumo de drogas, o tráfico não vai parar e a facção seguirá sendo financiada para seguir atuando. Ainda assim, ela faz ressalvas sobre a qualidade de vida em Dois Irmãos e o combate à criminalidade. “Aqui ainda é um município tranqüilo. Os índices são muito bons. Quase não se tem crimes mais graves como homicídio, por exemplo. Tanto a Civil como a Brigada Militar têm policiais comprometidos com a segurança da comunidade”, completou.
Entretanto, o fato de um criminoso condenado pela morte de um policial militar estar comandando toda uma organização de tráfico de drogas dentro de uma penitenciária aponta como o sistema carcerário brasileiro ainda é falho.