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Saiba por que está mais caro construir na região
Região – É sempre bom fazer aquela reforma na casa, ou construir aquele puxadinho. No entanto, em meio a uma situação de pandemia, quem conseguiu juntar dinheiro para estas atividades pôde perceber um aumento nos preços dos itens vendidos nas lojas especializadas. O mesmo aconteceu para as construtoras, que viram uma alta nos valores dos insumos.
O movimento para cima é percebido tanto pelas entidades especializadas quanto pelos empresários do setor da construção. Mesmo com tantas obras sendo executadas ao mesmo tempo na região, itens básicos como tijolos, cimento, ferro e aço estão subindo. Portanto, há demanda destes produtos. Então, qual a explicação lógica para isto?
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) diz que o aumento está relacionado com a falta dos insumos, e o que sobra tem sido disputado pelos compradores. Com menos oferta, o preço sobe. É o que diz a pesquisa Sondagem Indústria da Construção, de dezembro de 2020. A mais recente foi divulgada no final de janeiro pela CBIC.
Fornecedores também não conseguiram regularizar entrega de insumos
“Num período de um semestre, muitos grupos de materiais tiveram aumentos na casa de 100%”, afirmou ao Diário o presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da Cbic e do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos. Ou seja, dobraram de valor.
De acordo com ele, muitas empresas, como siderúrgicas, até o momento não conseguiram regularizar a entrega dos insumos, e não têm material em estoque. Outro fator de relevância é o dólar alto, que, na visão de Dionyzio, pressiona para cima os preços de alguns produtos cuja matéria-prima é importada, e são pagos na moeda estrangeira, como o alumínio e o cobre.
Na Av. Presidente Lucena, no Centro de Ivoti, está sendo construído um conjunto de seis salas comerciais. A responsável pela obra é a Plenisa Incorporações, de Feliz. O proprietário da empresa, César Schmidt, afirma que já recebeu o comunicado que o aço deve subir algo em torno de 10% a 12% neste mês.
“O problema se resume em duas coisas: está caro e não tem. É preciso comprar com bastante antecedência. O ferro, para se ter uma ideia, aumentou 170% do ano passado para cá. O fio de cobre, mais de 80%. O cimento, 50%”, lista Schmidt. Na visão do empresário, os trabalhos não foram prejudicados, pois percebida a tendência de aumento, a empresa correu para se antecipar.
“O problema se resume em duas coisas: está caro e não tem. É preciso comprar com bastante antecedência”
Obra aumentou estoque para evitar paralisações
O auxiliar de almoxarifado, Renê Mossmann, que acompanha a obra em Ivoti, concorda. “Previmos um tempo à frente. No final de 2020, fizemos um estoque maior”, comenta. Com isso, a previsão de entrega do conjunto permaneceu para março. Mas ele diz que os atrasos logísticos fizeram com que fossem priorizadas algumas partes que, originalmente, não seriam feitas antes.
O proprietário da Plamacol Materiais de Construção, César Wecker, diz que sua empresa buscou manter as margens de preços, apesar das baixas no estoque. “Era preferível não ter o produto do que vendê-lo por valores abusivos”. Segundo ele, as usinas interromperam a produção durante a pandemia, e, mais tarde, quem ainda tinha as matérias-primas subiu de preço.
As vendas de produtos daqui para fora do País, que poderiam também influenciar, causam opiniões divididas. “Não acredito que esteja havendo exportação de produtos que seriam utilizados aqui. Se está, ocorre em pequena monta”, opina Dionyzio. Já César, da Plamacol, afirma que “vale mais a pena exportar”, em razão do dólar mais valorizado.
“Em um semestre, muitos grupos de materiais tiveram aumentos na casa de 100%”
Custo dos projetos acumula aumento em 2021
No Rio Grande do Sul, o CUB/m² (Custo Unitário Básico por metro quadrado) aumentou 2,79% entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, chegando a R$ 2.132,12. O CUB é o custo parcial para construir um metro quadrado de qualquer tipo de projeto. O valor citado se refere a uma casa de três dormitórios, um andar, sala, cozinha, área de serviço com banheiro e varanda e 106 m² de área real.
Em 12 meses, o índice acumula alta de 12,71%. Os dados foram divulgados pelo Sinduscon-RS. A entidade informa que os itens que mais subiram de preço no período foram o aço, que aumentou 15% no mês e 93,2% nos últimos 12 meses, tijolo, com alta de 13,5% no mês e 33,3% em 12 meses, e o tubo de ferro galvanizado (12,6% de janeiro a fevereiro e 40% em 12 meses).
Outro dado que registrou aumentos recentes foi o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em dezembro de 2020, o índice acumulava aumento de 8,81%, o maior desde 2008, puxado pelo aumento do vergalhão de aço (3,29% no mês) e de tubos e conexões de ferro e aço (5,15%).
Quando pode haver equilíbrios nos preços
Na opinião de Dionyzio, do Cbic, pode haver, em breve, um equilíbrio na demanda por insumos, e que vai afetar também na oferta, paralisando o processo de desabastecimento e consequente aumento de preços dos estoques restantes. “Por outro lado, enquanto a insegurança de saúde persistir no mundo, a economia será afetada, levando ao aumento do dólar no País”.
Embora não dê prazos para que esta virada aconteça, o presidente do Comat/Cbic afirma que o primeiro semestre ainda pode registrar desequilíbrio entre oferta e demanda. Já na visão de Schmidt, da Plenisa, a indústria atual está “dramática”, mas que o recomeço da produção deve forçar uma queda de preços. “Assim, a economia vai começar a girar um pouco”, diz ele.
Wecker, da Plamacol, comenta que os preços devem ficar naturalmente um pouco mais altos, assim que a demanda estabilizar, o que ele acredita que deve ocorrer por volta do mês de março. Ainda hoje, segundo ele, estão sendo entregues produtos, como louças, encomendados das indústrias em 2020. Assim, as pessoas estão também valorizando mais seus espaços de convívio comum.
“Hoje em dia, as famílias buscam mais conforto em casa, como consequência, fazendo com que realizem mais reformas”, comenta o proprietário da loja ivotiense. Neste sentido, o home-office também impulsionou as necessidades de melhorias por parte dos consumidores, aumentando a demanda de produtos e, de certa forma, movimentando a economia do setor.