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Doisirmonense já catalogou mais de 250 espécies de aves na Encosta da Serra
Dois Irmãos – Antes de ler este título, quantas espécies de aves você pensou que poderiam viver na Encosta da Serra? Trinta, cinquenta, cem? Um hobby levado muito a sério pelo engenheiro civil aposentado André Wittmann, de 60 anos, mostra que este número é bem maior. Ele já catalogou, até o momento, 253 diferentes tipos de aves e pássaros que vivem grande parte de sua vida aqui, visitam a região em um período específico, seja para colocar ovos ou acasalar, ou até mesmo espécies que eram consideradas extintas.
Esta paixão, vivida intensamente em momentos de lazer e diversão, deve render um enorme e importante fruto, não só para a vida de André, como para a história e a biologia da região. Ele pretende, até o final do próximo ano, lançar um livro inteiramente autoral. Para isto, além de registrar e observar a presença dos animais, André também fotografa todos eles, grava seus cantos e anota detalhes de suas rotinas e alimentação.
Este trabalho, segundo o observador, mostrará também a riqueza da Encosta da Serra na diversidade de aves. Ele conta que a região é um dos melhores locais do Estado para observar aves e pássaros, devido à sua grande parte de natureza selvagem e fechada da Mata Atlântica preservada e intacta, o que favorece a presença destes tipos de animais.
Observador desde criança
André conta que o interesse por aves começou ainda quando era pequeno, na época da escola. “Todo mundo ia jogar bolita ou brincar e eu ia procurar passarinho e ninhos nas redondezas”, relembra o engenheiro. Ele passou a vida inteira decorando as características e memorizando o canto de pássaros até que, em 2011, decidiu por adquirir uma câmera fotográfica para registrar também em imagens o motivo de seu hobby.
Com isto, surgiu a ideia de lançar um livro, contabilizando todos registros de aves já catalogadas por ele aqui na região. André conta que a intenção é de que a publicação seja também uma espécie de guia para os apaixonados que nem ele por observar aves, mostrando onde, quando e como encontrar as espécies na Encosta da Serra, indicando visitas e ajudando a fomentar o ecoturismo nos municípios.
Para registrar os animais, ele vai a campo com ao menos uma câmera profissional, equipada com lentes objetivas de zoom de longo alcance, gravador de som e um inseparável caderno de anotações. Ele relata que cada ida a campo, como chama os seus momentos de observação, dura cerca de seis horas. “É muito divertido. Para mim, é um hobby que se tornou bem sério por causa da ideia do livro. Mas observar aves é uma cachaça. Depois que pega o gosto, não larga mais”.
Anotações criteriosas para o livro
A projeção inicial para lançar o livro era neste ano, mas a publicação precisou ser adiada em função do grande número de espécies catalogadas por ele na Encosta da Serra. Atualmente, André está na parte em que escreve o conteúdo do texto que vai acompanhar as imagens. Ele pretende utilizar de duas a três fotos das aves, todas tiradas por ele, e o texto será divido em duas partes: a primeira com dados específicos de cada animal, como peso, tamanho, tempo de vida, o que come etc; e outra com detalhes captados por ele mesmo, in loco, no momento em que registrou o animal.
Para estes registros, contando mais da rotina das aves e observações pessoais, André já escreveu diversas planilhas e fichários com cada uma de suas idas a campo. Elas servirão de base para esta parte mais detalhista de cada animal, visto que seus comportamentos e alimentação podem mudar de acordo com o habitat em que se encontra. Já são ao menos 10 planilhas repletas de anotações guardadas em um armário de seu escritório.
Já perguntando sobre a quantidade de fotos feitas, ele conta que, da última vez que fez o levantamento, há uns quatro anos atrás, o número já passava de 10 mil. André acredita que atualmente já tenha feito ao menos 20 mil fotos de aves pela região e pelo Brasil, em suas viagens a passeio. “Quando terminar de escrever o livro, vou procurar um biólogo para revisar a parte técnica e uma editora. Mas a ideia é também apontar os 10 melhores locais da região e as aves que se encontram nestes locais”.
Melhores locais para observação
Mesmo ainda sem estar com o livro pronto, André, de memória, elencou os principais locais da região para quem procura observar aves. Para ele, Picada Café é um dos municípios com os melhores pontos para registrar os animais, principalmente na Estrada do Morro do Vento. Ele também citou, em Morro Reuter, a Estrada do Mato Comprido, em direção à Linha Cristo Rei; o Buraco do Diabo, próximo da cascata, entre Dois Irmãos e Ivoti; e na Picada Verão, entre Sapiranga, Dois Irmãos e Morro Reuter.
Sem querer, um registro inédito no Estado
Apesar de não ter citado, de memória, como um dos principais pontos para observação de aves, o Vale Direito foi local de uma de suas maiores histórias e conquistas em seu hobby. Foi lá, em Março de 2015, onde ele registrou pela primeira vez noa história da biologia gaúcha um exemplar da Pulsatrix koeniswaldiana, conhecida popularmente como Murucututu de barriga amarela.
Ele conta que foi convidado por moradores, que já conhecem sua paixão por observar aves, a registrar uma coruja “diferente” próximo a um salão local. “Quando cheguei, logo percebi que não conhecia aquele canto, que mais parecia um ronco. Depois de alguns minutos, coloquei a lanterna para ver melhor onde estava e fotografei a coruja”, conta André, que, ainda sem saber do que se tratava, chegou em casa e publicou a imagem em uma plataforma especializada em observação de aves, a WikiAves, para saber qual era a espécie que havia registrado.
Momentos depois, comentários já identificavam a espécie e pesquisadores de universidades procuraram André para terem mais acesso aos registros. “Foi uma loucura. Eu descobri que a minha foto foi a primeira desta coruja viva. Já tinham encontrado ela antes, mas morta. Fizeram até um artigo na Unisinos sobre ela depois que eu registrei”. O registro da Murucututu morta também foi em Dois Irmãos, em 2012, no Travessão, e a ave foi recolhida para estudos.
O artigo publicado conta que a murucututu de barriga amarela é mais comum do Espírito Santo a Santa Catarina, típicas das montanhas do Sudeste. Entretanto, a mesma publicação dá conta que outros exemplares da mesma espécie também foram observados na região, próximo ao Buraco do Diabo, em Ivoti.
Em seu perfil na WikiAves, André tem mais de 1.300 fotos e quase 500 sons de aves publicados. Suas fotos também já foram utilizadas em diversas publicações, seja em livros de outros colegas observadores, como também em materiais utilizados em universidade, como a Federal de Santa Maria, que lançou recentemente um livro sobre aves voltado para o público infantil.