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Profissionais da saúde falam da rotina desgastante de enfrentamento à pandemia

10/06/2021 - 08h44min

Simone Overbeck atua como técnica de enfermagem no Hospital São José (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Ivoti – Há mais de um ano, a humanidade inteira tem tentado encontrar maneiras de conviver – e sobreviver – com a presença de um vírus que, apesar de invisível aos olhos humanos, já deixa uma marca perceptível em tudo que era conhecido como “normal”. Durante todo este tempo, algumas pessoas têm se colocado na linha de frente, enfrentando riscos diariamente no intuito de ajudar o mundo a vencer esta pandemia.

Simone Overbeck faz parte deste time. Técnica de enfermagem já há seis anos e atualmente trabalhando no Hospital São José, em Ivoti, ela conta que, durante este período, suas funções foram se revezando entre o bloco cirúrgico e o setor de Covid-19.

Trabalhando no turno da manhã, de segunda a segunda, sua primeira tarefa, assim que chega no hospital, é fazer o possível para tentar se manter protegida, se aparamentando com luvas, avental, óculos de proteção, viseiras e, claro, álcool. Seguindo a rotina, ela medica os pacientes, os auxilia nos banhos e verifica os sinais vitais de cada um. Mas a necessidade de isolamento de quem está internado na ala Covid, tem dado a ela mais uma tarefa: “fico conversando com os pacientes por alguns minutos porque eles se sentem solitários”.

Assim, com apenas uma folga na semana, Simone já se acostumou com os rituais da profissão que tanto ama. Há dias, como relata, em que tudo corre bem: o paciente adoecido chega até ela precisando de ajuda e, dali uns dias, ela o vê bem, ganhando alta e indo de encontro a família. No entanto, “a parte ruim”, como descreve, é ver algumas pessoas ficarem cada vez mais debilitadas e, por fim, perdendo a vida.

“Estamos todos cansado fisicamente e emocionalmente, pois a trajetória está sendo longa e ainda há muito pela frente”.

Tempos difíceis

Ainda que em outro local, Anielle Corrêa também tem passado pela mesma vivência. “O sentimento mais marcante desse cenário é o medo, certamente. A gente vê o medo no olhar das pessoas quando estão doentes, e a impotência de não ter certezas sobre nada”.

A enfermeira de 32 anos, conta que sempre trabalhou dentro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, no entanto, desde agosto do ano passado, atua na Unidade de Covid em Nova Hartz. Além disto, ela segue atendendo alguns pacientes em Ivoti e lecionando em um curso de Técnico em Enfermagem.

Mesmo com as dificuldades que a rotina de quem trabalha na área da saúde podem provocar, as duas nunca haviam imaginado que enfrentariam uma situação como esta na profissão. Anielle comenta que logo que comunicou a família que trabalharia diretamente com casos de Covid-19, ficaram apreensivos, mas logo entenderam a importância de sua atuação neste momento. Ela mora com o noivo e, desde o início da pandemia, precisou deixar de fazer visitas a sua família, por medo de contaminá-los.

“Uma das situações que mais me afetou foi me distanciar da minha família. A gente sente como se fosse causar mal aqueles que amamos. Esse sentimento é muito perturbador”.

Para Simone, as coisas não estão sendo diferentes. Ela conta que mora com a mãe e, apesar dela não fazer parte do grupo de risco, “toda precaução é pouca”. Por isso, entre um trabalho e outro e também antes de retornar para casa, ela costuma tomar banho e se higienizar. Além disto, ela lembra com aflição dos “piores 15 dias” de sua vida, quando seu pai testou positivo para Covid-19 e ela não pode vê-lo nem mesmo no dia do aniversário dele.

“Eu sabia que a trajetória não seria fácil na enfermagem, lidar com a enfermidade de alguém não é fácil, pois estamos com a pessoa no momento mais delimitado da vida dela, mas uma situação como esta é triste”.

Salvando vidas diariamente

A enfermeira Anielle trabalha na Unidade de Covid (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Ansiedade e sono desregulado são algumas das consequências que elas relatam ter que enfrentar por estar à frente desta luta. O cenário fica ainda pior quando a pandemia se choca com a sobrecarga de trabalho dos profissionais da saúde. “A falta de reconhecimento e baixos salários obrigam a termos mais de um emprego”, aponta Anielle, enquanto Simone afirma que uma melhora no piso salarial da categoria traria menos esgotamento.

No meio deste cenário, a técnica de enfermagem destaca que se não fosse a união de quem atua na área da saúde, as vitórias que surgem durante esta longa batalha contra a Covid-19 não seriam possíveis. O momento, como ela descreve, é de solidariedade. “Infelizmente não temos toda a capacidade para darmos o melhor, mas damos o nosso melhor, a melhor palavra, o melhor apoio, a melhor companhia que eles podem ter estando nessa situação”.

Marcadas pela história de cada paciente, elas afirmam que é impossível não se preocupar com cada um que entra pela porta do hospital lutando pela vida. Anielle lembra que, apesar de tudo que enfrentam, trabalhar na área da saúde neste momento é fazer parte da melhora deste cenário, “porque toda ajuda sempre é necessário para que tudo isso acabe logo”.

“Cuidem de quem vocês amam”

Até o momento, quase 500 mil brasileiros já morreram em decorrência da Covid-19. Destas, mais de 28 mil mortes ocorreram no Rio Grande do Sul. No total, os 11 municípios da região da Encosta da Serra somam mais de 17.600 mil casos confirmados de contaminação pelo vírus e 355 mortes.

Mesmo com a campanha de imunização em andamento, o número de casos de contaminação por Covid-19 segue crescendo e, com isso, o de óbitos também. Para quem trabalha frente a frente com vírus todos os dias, a única saída é seguir se cuidando e respeitando as medidas restritivas.

“Se cuidem, cuidem do próximo, cuidem de quem vocês amam. Pois nós estamos aqui para cuidar do amor de vocês, com toda nosso carinho e dedicação”, pede, com afeto, Simone. “Se eu pudesse enviar um recado para as pessoas seria: Vai passar! Mas até que esse dia chegue, cuide daqueles que você ama, incluindo você”, complementa, Anielle.

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