Conecte-se conosco

Destaques

Psicóloga de Dois Irmãos fala do luto em tempo de pandemia

18/06/2021 - 15h53min

* por Fábio Radke

Dois Irmãos – Em decorrência da Covid-19, famílias enlutadas tentam seguir em frente lutando com a tristeza pela morte de entes queridos pelo vírus e a sensação de desamparo em meio a pandemia. No município de Dois Irmãos, os profissionais do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) cientes dessa realidade, abriram um turno para atender pessoas da comunidade que atravessam essa situação. Coordenada pela psicóloga Luciana Barcellos Fossi, a unidade já assiste, uma vez por semana, alguns pacientes com esse sofrimento psíquico.  O significado do luto na vida das pessoas e a importância dos rituais de despedida são explicados pela profissional em conversa com o Jornal Diário.

A psicóloga Luciana reconhece que a impossibilidade de os ritos de despedida serem realizados em virtude da pandemia dificulta a elaboração do luto. Os ritos incluem visitas no hospital, velórios e missas. “Há pessoas que estavam há mais de 20 dias sem ver o familiar hospitalizado, em virtude da Covid, e no momento da despedida, não podem escolher uma roupa, ver o corpo; as cerimônias de velório e enterro, abreviadas e limitadas em termos de público”, disse citando exemplos que interferem negativamente.

Fatores como banalização das mortes e naturalização dos riscos de adoecimento, segundo a profissional, também potencializam a dificuldade de elaboração do luto. “Aparecem relatos de ‘culpa’, quando por exemplo, diversas pessoas da mesma família se contaminaram e passaram pelo vírus com sintomas amenos, enquanto que seu familiar acabou perdendo a vida. Os enlutados muitas vezes se questionam ‘por que ele (a) e não eu’”, destaca Luciana. O questionamento acima é mais comum quando as vítimas são pessoas jovens e saudáveis. A sensação de fracasso nos cuidados de prevenção e culpa pela circulação do vírus no ambiente familiar também surgem diante a uma morte por Covid.

Rituais próprios e íntimos ajudam

A psicóloga orienta as famílias a criarem rituais próprios e íntimos para a despedida. “Algumas pessoas realizam o plantio de árvores que simbolizam um espaço de manutenção de memória por quem se foi, um espaço para manifestar-se em momentos de saudade; outras famílias têm organizado ações beneficentes em nome de quem se foi: ajudar ONGs que cuidam de animais, instituições de caridade ou algo que fosse do apreço daquele parente que partiu”, cita.

Luciana destaca ainda que chorar é uma das formas de dar vazão aos sentimentos de tristeza. “Chorar, falar sobre o que está sentindo, compartilhar com familiares e amigos próximos seus sentimentos auxilia neste processo de elaboração. Caso essa dor seja vivida com intensidade, resultando em insônia, inapetência, dificuldade extrema em expressar seus sentimentos, é necessário buscar atendimento psicológico a fim de prevenir o agravamento destes sintomas”, recomenda.

Em Dois Irmãos, o CAPS (rua Catarina Rausch 74, bairro industrial) oferece acolhida para moradores em luto em decorrência da Covid, todas as quintas-feiras, das 13 às 17 horas.

Psicóloga Luciana explica possíveis danos ao processo de luto

 

Conteúdo EXCLUSIVO para assinantes

Faça sua assinatura digital e tenha acesso ilimitado ao site.