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“Eu achava que a gente tinha valor para eles”, relata produtora que parou de vender leite para a Piá

12/01/2022 - 18h07min

Atualizada em 12/01/2022 - 18h10min

Propriedade conta com 32 vacas e produz 1.500 litros por dia (Créditos: Gian Wagner)

Nova Petrópolis – A falta de acordo financeiro entre a Piá e parte dos associados produtores de leite não foi o único motivo que fez com que oito produtores do município parassem de fornecer à cooperativa de dezembro para cá. Outro fator que pesou foi a decepção dos associados em relação ao relacionamento com a cooperativa. Produtora de leite há quase dez anos, mesmo tempo que o marido é associado à Piá, Rosangela Stoffel foi a primeira a deixar a cooperativa ainda no início de dezembro do ano passado, antes mesmo da primeira reunião convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Petrópolis e Picada Café.

A produtora de Feliz Lembrança, no interior do Pinhal Alto, conta que tudo começou com um pedido de reajuste feito em maio do ano passado. “Fizemos alguns investimentos e tentamos conversar com eles (Piá) pra pedir um aumento no valor do litro de leite”, conta Rosangela. O pedido foi realizado no dia 18 de maio, mas a resposta só chegou no dia 7 de junho, após três visitas dos representantes da cooperativa, dizendo que não haveria o aumento. Rosangela conta que o funcionário chegou a dizer que eles ‘eram livres para vender o leite para quem eles quisessem’. “Eu achava que a gente tinha mais valor para eles”, desabafa a produtora.

QUEDA NO PREÇO – Em novembro do ano passado a cooperativa pagava um valor pelo litro do leite ao associado. Porém, esse valor foi reduzido em R$ 0,15 no pagamento do mês de dezembro. Foi a gota d’água para a mudança. Enquanto a Piá baixava o valor pago, uma empresa de Estrela (RS) procurava fornecedores e fez proposta para Rosangela oferecendo, além dos R$ 0,15 reduzidos da cooperativa, mais R$ 0,14, além da promessa de manter este valor como mínimo por ao menos três meses. “No mesmo dia que a gente fechou negócio a Piá quis pagar mais e ofereceu de meio-dia um reajuste de R$ 0,15 e de noite ligaram novamente oferecendo R$ 0,20. Porém, nesta hora, eles já haviam fechado acordo com a empresa Tangará, de Estrela, que vende para o mercado nacional e também para exportação.

Sempre pagou abaixo
Por nove anos a produtora vendeu leite para a Piá, começando com três vacas e 65 litros e, atualmente, com 32 animais e 1.500 litros de leite por dia. Ela conta que a Piá sempre pagou um valor abaixo do que o normal para os produtores da cidade. “Para nós, era dito que era pago menos pois era pra ajudar a cooperativa a crescer”.
Depois da migração da família, outros produtores se interessaram em vender para a empresa que paga mais. Muitos receberam o representante da Tangará e atualmente já são oito produtores que deixaram a cooperativa para “exportar” de Nova Petrópolis a matéria prima.

Retaliação
O marido de Rosangela, Valdemir, é sócio da cooperativa para a qual vendeu leite por quase uma década. Mesmo parando com o fornecimento, ele continuou associado. Porém, logo após começar a fornecer para outra empresa, a Piá bloqueou a matrícula do associado. Com isso, eles perderam alguns benefícios importantes. Porém, o que mais impactou foi a cobrança de uma compra de um cilo parcelada em 24 vezes pelos produtores. “Pagamos uma parcela e em dezembro descontaram tudo do valor do leite. Só consigo ver isso como uma retaliação”, disse.

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