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ANIVERSÁRIO DE PICADA CAFÉ: 30 anos independente; quase 180 de história

17/03/2022 - 16h51min

Atualizada em 17/03/2022 - 16h51min

Picada Café: 30 anos emancipada, 180 de história (Foto: Gian Cristiano Wagner)

GIAN C. WAGNER
(editorial)

Apesar de ser uma jovem independente, comemorando 30 anos de emancipação, a Picada Café tem muito mais que isso de história. Os imigrantes chegavam de navio na colônia e de lá partiam por picadas feitas na mata inexplorada, onde construíam os pequenos núcleos. A colonização do que viria a ser a Picada Café ocorreu após 1844, numa retomada do processo imigratório. Quem conta essas histórias é a historiadora Hilda Flores no livro chamado Picada Café (Nova Dimensão, 1996), que foi base para as informações históricas deste caderno.

As picadas eram as vias de conexão entre núcleos e a colônia e muitas localidades ficaram conhecidas com esse ‘prefixo’. Exemplo disso são outras ‘picadas’ da região, como a Picada Feijão e a Picada Schneider. O nome até poderia ter sido ‘Picada Joaneta’, quem sabe, já que a localidade era uma das mais desenvolvidas e tinha forte influência da igreja. Mas aí entra o café, que nem é produzido na cidade. O que se conta é que os tropeiros que passavam pela picada que ia até a colônia por onde é hoje a Av. Presidente Lucena, paravam na picada para tomar café e até passar a noite. Isso teria dado o nome de ‘picada do café’ para a região. Outra versão, que não muda a dos tropeiros, apenas acrescenta, diz que havia plantação de café na região de Kaffee Eck (canto do café). Muito provavelmente é verdade, pois em 1855 o governo brasileiro tentou diversificar os produtos nas colônias. Uma localidade era protegida pelo vento no vale do arroio Santa Isabel, que era bom para testar o cultivo. Por isso o Kaffee Eck teria recebido este nome. A plantação não teria dado muito certo pela região não ser favorável ao cultivo. Mesmo assim, com a iguaria mais próxima, os comerciantes podiam servir café aos tropeiros, junto com algumas outras guloseimas, geralmente da culinária trazida da Europa. Essa é uma espécie de “início” dos cafés coloniais.

Picada Café tem histórias incríveis, como a primeira igreja que é datada de 1853 e fica na Picada Holanda. O principal núcleo era a Joaneta, que tinha a paróquia que regia algumas igrejas católicas na região. Teve um bispo, em uma época, que “abominou” o casamento entre pessoas de crenças diferentes, quando um católico se casava com um protestaste num rito ecumênico. Esses relatos estão no livro que eu recomendei anteriormente.

De 1960 em diante, Picada Café começa a receber incentivo para se industrializar. A indústria do calçado vinga dos anos 80 até a crise dos anos 2000, quando algumas importantes empresas saem de cena e outras nascem para mostrar a força do polo industrial cafeense. Picada Café também é destaque na educação e começa a trabalhar com mais força o turismo, aproveitando o gancho dos municípios vizinhos e da Rota Romântica que passa dentro da cidade.

Picada Café tem muitos encantos que vão além destes 30 anos comemorados neste dia 20. Mesmo que há 30 anos a Picada do Café tenha se tornado município, é uma história rica e cheia de encantos que começa muito antes. Que a cada aniversário os cafeenses possam repensar isso e colaborar para manter as tradições e culturas vivas e prezar sempre pelo bem dessa pequena e encantadora cidade.

 

Na imagem, o navio a vapor ‘Kronprinz Friedrich Wilhelm’ que navegou 26 anos transportando imigrantes, entre eles Anton e Katharina Trucourt, que viveram na Joaneta

 

 

 

… PODERIAM SER 40…

Picada Café poderia estar comemorando não 40 anos em 2022. Isso se o desejo de emancipar não tivesse sido uma novela, que demorou dez anos para ter um final feliz. A primeira comissão foi formada ainda em 1982 quando a Picada do Café, Joaneta e Quatro Cantos somavam cerca de 4.300 habitantes e um eleitorado formado por aproximadamente 2,2 mil pessoas. Pela lei federal, não foi possível emancipar em 1982, pois seriam necessários 10 mil habitantes e metade disto de eleitores. Cinco anos mais tarde, a segunda tentativa, agora pela lei estadual, mais uma vez sem êxito. Desta vez foi o governador quem vetou, em 1988, 80 plebiscitos e, entre eles, o da Picada Café.

Persistentes, os emancipadores entraram com um novo pedido em 1991, usando situações similares da região, como os movimentos que ocorriam em Picada 48 Alta e Baixa e na Picada Nova, movimentos que deram origem a Presidente Lucena, Linha Nova, Lindolfo Collor e Morro Reuter naquele mesmo ano. O Morro Bock, que era dividido entre Ivoti e Nova Petrópolis, ficou para a Picada Café, assim como a sede (hoje centro). O Jammerthal era parte de Santa Maria do Herval, que levou aquela localidade antes pertencente a Dois Irmãos quando se emancipou em 1988. Quatro anos depois, a localidade passou a integrar o mais novo município. O governador tentou vetar a realização do plebiscito, mas a Assembleia rejeitou o veto e a votação ocorreu, resultando em 93% da população querendo a emancipação.

Em 1992, Picada Café tinha 3.853 habitantes, conforme registro. Trinta anos depois, em números, a população cresceu 33,4%, chegando a 5.738 (Censo 2020). Picada Café cresceu também na indústria, no comércio, no turismo, e em diversas outras áreas como você, amigo leitor, lerá nas próximas páginas. Outra curiosidade interessante é o envolvimento dos emancipadores com a política. Na recém-emancipada Picada Café de 1992, Rubem Kirschner foi prefeito e João Luís Mallmann vice. Rubem era vice-presidente da comissão e Mallmann era secretário. No Legislativo foram eleitos outros três que foram parte da comissão: Adélcio Dietrich (tesoureiro), Mário Ruppenthal (Conselho Fiscal) e Artêmio Arnold, outro vice-presidente da comissão. Luiz Schenkel era suplente do Conselho Fiscal da comissão e foi eleito o segundo prefeito de Picada Café.

 

COMISSÃO EMANCIPACIONISTA

Presidente         Eugênio Spier

Vice-presid.       Artêmio Arnold

Vice-presid.       Rubem Kirschner

Secretário           João Cláudio Hoffmann

Secretário           João Luís Mallmann

Tesoureiro         Egon Utzig

Tesoureiro          Adélcio Dietrich

CONSELHO FISCAL – Mário Ruppenthal, José Marino Wolf e Elói Rückert. SUPLENTES – José Luiz Diel, Guido Holz e Luiz Schenkel.

 

Eugênio Spier, falecido em junho do ano passado, foi o presidente da comissão emancipacionista

 

 

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