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Voto transformador

14/06/2018 - 13h33min

Atualizada em 14/06/2018 - 13h58min

Por Alexandre Garcia

No último domingo, no Mosteiro de São Bento, em Brasília, pediram-me para fazer a leitura do Gênesis, quando Deus cobra de Adão por ter comido o fruto proibido. Adão culpa Eva por tê-lo convencido; Eva, por sua vez, culpa a serpente. A serpente é amaldiçoada e o casal expulso do paraíso. Ou seja, a tradição judaica mostra que desde o primeiro homem e a primeira mulher, introduziu-se o costume de não assumir a responsabilidade e empurrar para o outro. A serpente, para convencer Eva, garantiu-lhe que o fruto iria proporcionar vantagens e poder ainda maiores que as do éden. E fiquei lembrando os anos eleitorais no Brasil, quando serpentes prometem o paraíso para quem está no vale de lágrimas – e conseguem colher do eleitor o fruto que gera poder, que é o voto.

Na eleição para governador de Tocantins, no último dia 3, o vencedor do primeiro turno teve 30% dos votos – perdeu longe para os votos brancos, nulos e abstenções, que somaram 49%. Isso que havia sete opções. O vencedor é do minúsculo PHS, sem tempo na TV, pois não tem deputado federal. Será que os partidos vão se tocar com Tocantins? Cada vez menos o eleitor está acreditando nos políticos atuais e nas promessas, e nos partidos sem princípios doutrinários, apenas fisiológicos. A mais recente pesquisa Datafolha, nas respostas espontâneas, deu 46% indecisos e 23% votando em branco ou anulando o voto – quer dizer, 69% insatisfeitos com os atuais pré-candidatos.

Os principais partidos continuam com a mesma lenga-lenga. Não assumem que é preciso reformar a Previdência, diminuir a dívida pública consequente, reduzir o tamanho do estado e seus marajás, para tirar menos dos que pagam impostos compulsoriamente em tudo que compram. E assumir que a igualdade falada na Constituição ainda não existe. Aposentados pelo INSS recebem 40% do que ganhavam; os do setor público levam ainda mais 80% quando param de trabalhar, como no Judiciário. Entre os privilégios do serviço público está a estabilidade, férias de 60 dias para juízes. Nos tribunais e Congresso e Assembléias, nem precisa procurar o SUS; há serviços médicos exclusivos e bem-equipados. Nos tribunais, pagamos academias de ginástica e mordomos com bandejas fartas. E andam de carro oficial com motorista, o que não existe no mundo lá fora. E a PM e forças armadas a cuidar deles, servindo de babás. Ex-presidentes têm carros, motoristas, seguranças e assessores por toda vida, mesmo quem estiver preso.

Aí, a conta é sempre alta, para sustentar o estado brasileiro nos seus três poderes, em seus três níveis. Quem colhe alface, engorda porco, fabrica  móveis, costura sapatos, transporta grãos, se esforça para vender, tem que pagar caro a conta do serviço público, ainda que receba serviços medíocres, porque as pontas desse serviço, no ensino, na saúde, na segurança, também sofre com a falta de meios porque a gordura inútil da burocracia consome boa parte dos impostos. E mesmo fora do estado há os que vivem dele, os empreiteiros da propina, os beneficiários dos subsídios, dos juros especiais, das desonerações de impostos – são extrativistas do estado, temerosos da concorrência e das leis de mercado, falsos liberais capitalistas. Está na hora de encerrar a fase pueril do estado benfeitor. A fase infantil que confunde cor e sexo com o necessário mérito. Mas será que vamos acertar o voto que transforme este País?

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