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Nova Petrópolis: aos 82 anos, professor Flávio passa adiante suas memórias

19/08/2022 - 09h44min

Flávio e sua esposa, Romi (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – Após quase 40 anos ensinando em sala de aula e mais duas décadas de aposentadoria, alguns hábitos seguem os mesmos para Flávio Gusmão Mallmann, de 82 anos e morador da rua João Leão, em Nova Petrópolis: o gosto pela leitura. Todos os dias, suas manhãs são dedicadas aos jornais, revistas e livros. Gosta de ler as notícias para se manter atualizado e, em seguida, faz as palavras-cruzadas encartadas n’O Diário.

Por anos, colecionou recortes de jornais que continham piadas, charges e quadrinhos, além de artigos e matérias de seu interesse. São inúmeros autores, como Iotti, Sinovaldo, Santiago, Luis Fernando Veríssimo, entre outros. Eles são guardados em pastas e ajudam a viajar no tempo, principalmente em questões políticas como sátiras a Sarney, Collor, Lula, entre outros na década de 1990.

Arquivo contém centenas de assuntos para pesquisa (Créd.: Dário Gonçalves)

O início

Flávio nasceu em Lajeado e desde jovem adquiriu o gosto pela leitura. Passou a guardar os recortes mais importantes dos jornais, principalmente do Correio do Povo. Por volta dos 20 anos, começou a dar aulas para crianças da 1ª a 5ª série, todas simultaneamente, em Harmonia. “Tu não podes imaginar como era isso. Eu dava aula para uma turma, deixava um exercício, e ia para a outra classe fazer o mesmo. Eram cinco turmas ao mesmo tempo”, relembra. E não eram poucos alunos, segundo ele, cada turma tinha o mínimo de 30 alunos. Ainda assim, ele garante que eram comportados.

Com alguns meses de experiência, decidiu que esta seria a sua profissão. Com o incentivo de um tio, estudou para se formar como professor, em Estrela. Já formado, mudou-se para Salvador do Sul, terra de sua Esposa, Romi Mallmann, onde lecionou por quatro anos.

“Escolhe um tema”, desafia o professor (Créd.: Dário Gonçalves)

Vinda para Nova Petrópolis

Mudaram-se para Nova Petrópolis em 1967, onde havia três escolas para ele escolher: Piá, Padre Amstad e na antiga escola Padre Balduíno Rambo, que foi extinta em 2002. Flávio optou pela última e por lá deu aulas por 13 anos, até 1980. Foi neste ano que deu seu Fusca como entrada em um terreno e começaram a construir a casa em que vivem até hoje. Por conta disso, transferiu-se para o Colégio Padre Werner, no Centro, onde ficou até se aposentar, no início dos anos 2000. Também lecionou no Pinhal Alto.

Arquivos

Aos poucos foi abandonando os anos iniciais e tornou-se professor de português para o Ensino Fundamental. Em casa mesmo, montou seu escritório, onde tinha dezenas de livros. Para se ter uma ideia, possui uma caixa em formato de arquivo com um índice de milhares de assuntos, todos separados por ordem alfabética. “Aqui eu buscava um tema, e nos arquivos têm detalhado em que livro e em que página estava o que eu precisava. Hoje em dia já não serve mais porque encontramos tudo no Google. Mas na época era o que tinha e era assim que eu ensinava aos alunos”, relembra.

Recortes guardados por décadas (Créd.: Dário Gonçalves)

Conhecimento passado adiante

Conforme o tempo passou, Flávio começou a se desfazer de seus materiais, doando para escolas ou até mesmo individualmente. “Quero deixar isso para outras pessoas que possam aproveitar. Pode ser útil para alguém como foi para mim. Um dia eu vou morrer, mas antes disso quero passar adiante”, finaliza. Sobre isso, a esposa ainda brinca. “Ele já se adiantou, sabe que se morrer, eu vou colocar fogo em tudo. Já eu, nem penso em morrer tão cedo”, disse aos risos.

Ao lado da esposa Romi, ex-professor apresenta sua coleção (Créd.: Dário Gonçalves)

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