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Maior tragédia da aviação brasileira deixou marcas na região

28/10/2022 - 11h11min

POR CÂNDIDO NASCIMENTO

 

Região – O acidente do voo JJ 3054 da TAM, em 17 de julho de 2007, vitimou 199 pessoas, quando um Airbus A 320 da companhia colidiu contra um prédio, por volta das 18h40. A maior tragédia da aviação brasileira aconteceu quando a aeronave teve problemas de frenagem e escorregou na pista do Aeroporto de Congonhas, São Paulo.

A região perdeu um pastor evangélico de Ivoti e uma comissária de bordo de Dois Irmãos, além da filha da procuradora do município de Presidente Lucena e o conhecido deputado federal Júlio Redecker, entre tantas outras vítimas.

QUANDO PARTIU

O Airbus decolou às 17h16 do Aeroporto Internacional Salgado Filho, tendo como destino o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Às 18h48, ao tentar aterrissar na pista do aeroporto paulistano, o avião não conseguiu parar e bateu contra o terminal de cargas da companhia. Um posto de combustíveis, que ficava ao lado, também foi destruído.

A explosão causou a morte de 199 pessoas, sendo 187 ocupantes e 12 que estavam em solo, em um prédio que abrigava colaboradores da própria TAM. Do total de vítimas, quase a metade eram gaúchas, sendo 98 nascidos ou moradores do Rio Grande do Sul.

Capa do Diário retrata a tragédia depois do acidente da TAM

 

“A minha vida é um milagre, Deus tem um propósito comigo”

A ivotiense Joice Kelin Brixner teve todo o tipo de impedimentos para chegar ao Aeroporto Salgado Filho: esqueceu a chave de casa com a mãe e teve que pular a janela, depois perdeu o ônibus via federal e teve que pegar um coletivo por Estância Velha. Depois, pegou um táxi na Rodoviária Velha de Novo Hamburgo. No caminho o trânsito foi de lentidão total e caiu uma chuvarada, atrasando a chegada em Porto Alegre.

MOTIVO DA VIAGEM

Ela conta que possuía uma loja de roupas e que vendeu muito bem no final de semana anterior, então decidiu viajar para fazer compras no Brás, em São Paulo. Pela manhã, foi junto com a amiga Lisete Peteffi comprar a passagem direto no guichê da TAM, no aeroporto. Os pais, Marisa e Davi Brixner, moravam em São Paulo naquela época, hoje são falecidos. É mãe de Lucas, 22 anos, que tinha 7 anos, e de Brenda, com 17, que tinha apenas dois anos.

“Aquele dia foi realmente atípico”, disse inicialmente Joice, que voltou para Ivoti após residir por cinco meses em Miami, nos Estados Unidos, e veio para tratar de algumas questões de cunho familiar. A ideia dela é, futuramente, abrir um negócio aqui no município, mas é um projeto que ainda está sendo amadurecido.

PERDEU O VOO

Por ter perdido o ônibus, que sairia por volta das 13 horas, ela perdeu outro coletivo que iria para Porto Alegre, então decidiu pegar um táxi. Devido aos problemas de trânsito e à chuva intensa, perdeu o voo. “Quando cheguei lá o avião já tinha partido, mas consegui a remarcação para outro voo, que sairia entre as 19 e as 20 horas, desta vez pela GOL, e fui para a sala de espera”, conta Joice.

Enquanto esperava, os telefones das pessoas que aguardavam o próximo voo começaram a tocar incessantemente e isso chamou a atenção de Joice. Em seguida, apareceram as notícias na TV falando sobre o trágico acidente com o voo que ela perdeu, mas demorou para “cair a ficha”. Havia familiares e colegas de trabalho que estavam no voo seguinte, por não ter conseguido pegar o JJ 3054. Na sequência, foram cancelados todos os voos. A mulher ligou para uma tia, que avisou a mãe, para dizer que estava tudo bem.

CENÁRIO DE GUERRA

Ela voltou para Ivoti e, somente na manhã seguinte, pegou um novo avião para São Paulo, até Campinas, pois o aeroporto de Congonhas estava interditado. Ao chegar lá, o pai a estava esperando. Havia um ônibus que ia para Congonhas e ela e o pai decidiram ir até o local da tragédia. O que viram parecia uma cena de guerra que, até hoje, está gravada na sua memória.

“Nunca vi tanta rede de TV, ambulância e até funerárias, vimos os corpos enrolados”, relata Joice. “Até hoje, quando eu sei de algo que me assusta, eu procuro deletar da minha memória, mas é difícil esquecer aquelas cenas”, destaca.

VOLTA PRA CASA

Ao voltar para casa, depois das compras efetivadas, procurou abraçar os filhos e a mãe. “Ao chegar, eu senti um amor maior ainda pela minha família, fui abraçar eles e aí chorei, pois lembrei que foi muito triste ver a chegada em Congonhas e o desespero dos familiares daquelas pessoas que morreram”, relembra.

Ela disse que agradece a Deus. “A minha vida é um milagre, e até pensei naquela hora que Ele tem um propósito maior para mim. Procurei o taxista e fui agradecer a ele pelo atraso, pois foi a última pessoa com quem conversei antes de chegar a Porto Alegre naquele dia do acidente”, conclui.

 

“Cada dia é difícil, mesmo após 15 anos, mas a gente está com Jesus”

A família do pastor Luiz Antônio Rodrigues da Luz, também tem uma história triste para contar, pois as recordações deixaram marcas de dor e de saudade. A viúva Maria Isabel Bomber da Luz prega em reuniões e cultos de mulheres no município de Guaíba, para onde voltou com a família após a perda do esposo.

Ela tem os filhos Eliézer, 33 anos e Priscila, 31, e Juliano, de 36, que foi adotado quando morava em Ivoti. Eliézer tem duas filhas, uma de nove e outra de cinco anos, e Juliano tem um filho de nove anos. A família morou por 10 anos na Encosta da Serra.

SONHO ENIGMÁTICO

Um detalhe interessante é que o pastor Luiz Antônio teve um sonho alguns meses antes do acidente. Ele olhava de cima e viu um ambiente com muito fogo e corpos cobertos de sacos pretos. Era um ambiente de guerra. Relatou a revelação para a esposa e em um culto que pregou nos Gideões, em Santa Catarina. Jamais a esposa ou o pastor imaginariam que o fato aconteceria com ele mesmo. Hoje, o filho Ezequiel segue os passos do pai como pregador, pois cursou Teologia, e a filha canta na Igreja Assembleia de Deus de Guaíba.

CIDADE LINDA

“Ivoti nos acolheu e é uma cidade linda, maravilhosa, mas que depois perdeu a graça, por isso voltamos para Guaíba, onde moram os familiares dele (pastor) e os meus”, conta a viúva, que prega e também faz aconselhamento para mulheres.

“A gente nunca esquece, mas vive cada dia. O melhor de tudo é que temos Jesus e a vida não acaba aqui. Um dia vamos nos reencontrar, Jesus vai nos dando forças e esperança para viver. Nós, que ficamos, temos que cumprir o nosso papel e, dia após dia, a gente vai vencendo as barreiras que aparecem”, conclui a viúva.

Foto atual da família do pastor Luis Antônio

Pastor Luis Antônio era um pregador conhecido em todo o país

 

Outros que morreram no acidente

O deputado federal Júlio Redecker, do PSDB, com 51 anos na época, também foi vítima do acidente da TAM. Ele seguia para São Paulo, pois iria para os EUA com os deputados Arlindo Chinaglia e Luiz Sérgio, ambos do PT. Após o acidente, os políticos cancelaram essa viagem, segundo relatos da assessoria.

Quem assumiu a vaga dele na Câmara Federal foi o suplente da coligação PSDB/PFL, Claudio Castanheira Diaz. Antes de ocupar a liderança, Redecker destacou-se como um dos parlamentares mais atuantes das comissões parlamentares de Inquérito (CPMIs) do Mensalão e das Sanguessugas.

AEROMOÇA

A comissária de bordo Madalena Silva, com 20 anos na época, era uma das pessoas a bordo daquele fatídico voo. Ela morava com a família no bairro Travessão, em Dois Irmãos, e era noiva. Deixou os pais José Roberto da Silva (Beto), e Therezinha Kunz da Silva, a irmã caçula Soélin, com 16 anos na época.

Familiares e amigos citaram que ser aeromoça sempre foi um sonho da jovem. Ela sentia-se realizada pelo trabalho. O pai, Beto, passou a cuidar do memorial das vítimas do voo 3054, e fez amizade com os funcionários da TAM, até a chegada da pandemia, onde não foi mais ao aeroporto. A família vendeu bens em Dois irmãos e fixou residência em São Paulo.

FILHA

Outra vítima do acidente foi Fabíola Ko Freitag, filha da procuradora Zuleica Freitag, que morava em Novo Hamburgo e atuava no município de Presidente Lucena. A jovem também era comissária de bordo da TAM. Ela estava na escala do dia 19, mas antecipou o seu voo, trocando a escala com outra colega e rumou para o trágico acidente.

Deputado Júlio Redecker foi uma das vítimas do acidente

 

Família de Estância Velha passou por alívio

Morando em Estância Velha, a família não sabia dos roteiros da comissária de bordo Joice Beatriz Breyer, 25 anos na época. A mãe, Sueli Breyer, afirmou no dia da tragédia que tinha ficado apavorada com as notícias, mas sentiu-se aliviada quando ligou e conversou com a filha pelo telefone.

No momento da ligação, Sueli comentou que a filha estava em um hotel, no Rio de Janeiro, e que estava tudo bem, que não era para se preocupar. Algo interessante falado naquela época é que a filha comentava que todos se uniam e oravam para que nada acontecesse naquela pista de Congonhoas.

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