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30 ANOS 30 HISTÓRIAS: Parem as máquinas, a notícia chegou!
Assalto a carro-forte alterou a dinâmica de fechamento da edição do jornal em 2015
Episódio 5 – Há 7 anos
GIAN WAGNER BAUM
Nova Petrópolis – Eram cerca de 19 horas do dia 10 de agosto de 2015, o expediente comercial da redação d’O Diário já estava na reta final e a edição impressa do dia seguinte praticamente pronta. As principais notícias já haviam sido definidas, inclusive o que seria estampado na capa. Bastava finalizar os últimos detalhes e mandar a edição para ser impressa na gráfica, em Porto Alegre. Porém, notícia não tem hora e nem local para acontecer e, naquele dia, tudo precisou ser alterado em pouco tempo para que os leitores, no dia seguinte quando fossem buscar seu jornal, pudessem ler nas páginas d’O Diário o que havia acontecido na noite anterior. No melhor estilo “parem as máquinas”, toda a equipe de diagramação parou e ficou na expectativa aguardando a chegada da matéria que se tornaria a mais importante daquela semana, senão daquele mês.
O jornalista Francis Limberger, que na época trabalhava na sucursal do Diário em Nova Petrópolis, estava prestes a ir embora quando seu celular tocou. Era Paulo Heylmann, o Goiabão, morador da Linha Imperial e vereador na época. “Vem ligeiro que pegaram um carro-forte aqui, estouraram o carro e estão atirando”, foi o que disse Goiabão, como relembra Francis. “Lembro que tu (Gian Baum, repórter que assina essa matéria) já tinha ido embora. Eu te chamei para voltar para a sala para dar um suporte aqui e avisei o Isaías [Rheinheimer – também repórter na época], que ainda estava em Ivoti”, conta o jornalista.
Francis pegou o carro do jornal e dirigiu até a Linha Imperial, distante cerca de dez quilômetros do Centro, mas não conseguiu chegar até o local pois o trânsito estava trancado em função do crime recém cometido. “Já pensando em poupar tempo, deixei o carro virado, na direção para voltar ao Centro, porque sabia que teria pouco tempo para coletar as informações e enviar a matéria”, conta. Ele parou o carro há cerca de 500 metros do local e seguiu a pé até encontrar os destroços dos caminhões e a movimentação policial. “A questão é que não sabia o que estava acontecendo, se ainda estavam atirando ou não. Esse era o receio”, conta. Quando viu a viatura dos Bombeiros passando, Francis sentiu-se mais seguro e chegou no local.
“A questão é que não sabia o que estava acontecendo, se ainda estavam atirando ou não”, relembra Francis sobre a cobertura em 2015.
CENA DE FILME E MEDO NAS VÍTIMAS – Quando Francis se aproximou do quilômetro 11 da ERS-235, próximo ao acesso a Nove Colônias, viu os destroços do que, minutos antes, fizeram parte de uma cena de ação e terror. Três carros incendiados na pista, o carro blindado caído em um barranco e o caminhão que bateu de frente com o carro-forte também danificado.
A ação dos criminosos foi profissional. O bando estava dividido em dois grupos, um que vinha no caminhão, Mercedes-Benz com placas adulteradas, trafegando de Nova Petrópolis em direção a Gramado, e outro, em dois carros, que seguia o blindado que carregava valores, estes trafegando de Gramado em direção a Nova Petrópolis. No quilômetro 11 da ERS-235 eles “se encontraram” e os criminosos jogaram o caminhão contra o blindado, fazendo com que ele caísse em um barranco às margens da rodovia.
Na sequência à colisão, cerca de cinco bandidos fortemente armados com fuzis começaram a atirar para cima, renderam os vigilantes e instalaram os explosivos na porta do blindado para pegar os malotes com dinheiro. Enquanto isso, dois dos criminosos renderam veículos que ficaram trancados na estrada com a situação. Três carros, um Voyage, um Corsa sedan e uma Kombi foram enfileiradas e incendiados a fim de trancar a pista. Com as vítimas, foi feito um escudo humano com cinco civis como reféns há cerca de 200 metros do local onde o carro-forte estava sendo explodido. Apesar de envolver cinco reféns, além dos quatro vigilantes rendidos, ninguém ficou ferido. A ação toda durou cerca de dez minutos e, com o cofre estourado e o dinheiro recolhido, eles fugiram em dois carros, um identificado posteriormente como um Renault Fluence, abandonado na fuga e encontrado no dia seguinte na Linha Brasil.
Corrida contra o tempo
Cinco minutos foi o tempo aproximado que Francis usou para coletar as principais informações sobre o acontecido e fotografar a cena, à noite, o que dificultou o trabalho. “Foi muito rápido, só peguei o básico mesmo. Falei com um policial para ver o que tinha acontecido, fiz algumas fotos e dez minutos depois de chegar já estava voltando”, relembra o repórter.
O curto tempo até retornar para o carro e voltar à sucursal foi bem aproveitado por Francis que, por telefone, repassou as informações para Isaías, que estava em Ivoti e segurava o fechamento da edição. Isaías redigiu o texto e quando Francis chegou na sala, só precisou enviar as fotografias pelo sistema interno. Em poucos minutos, a Diagramação do Diário, finalizou a edição e enviou os arquivos para a gráfica. Pouco depois de meia-noite, o jornal chegou em Ivoti para ser separado para as entregas, com a notícia estampando a capa da edição. “Ficou uma capa muito bonita, com a foto estourada bem grande”, lembra Francis. “Foi no detalhe que conseguimos dar a notícia para o outro dia”.
ARRUMAR ESPAÇO E REFAZER A CAPA – A capa da edição do dia 11 estava pronta e a principal notícia que os leitores leriam no Diário seria uma queda de poste que interrompeu o trânsito entre Morro Reuter e Santa Maria do Herval. “Naquela noite tínhamos a edição praticamente fechada quando ficamos sabendo do assalto ao carro-forte. Nesse tipo de situação a equipe tem que ser muito rápida, pois temos horário limite de entrega dos arquivos para a impressão”, conta Aline Petry, diagramadora do Diário. “É uma briga contra o relógio. tiramos uma reportagem que não tinha tanta relevância e abrimos esse espaço para a troca de conteúdo. Lembro que a capa também estava finalizada e alteramos a manchete. Esse tipo de situação é comum no setor de finalização, tem coisas que acontecem ‘de última hora’ que não temos como programar”, conta a diagramadora.
RETORNO E ENTREVISTAS COM AS VÍTIMAS – Muitas coisas ficaram de fora da primeira matéria, feita contra o relógio e em um trabalho em equipe fundamental para o sucesso da cobertura do crime. O Diário chegou minutos após a fuga dos envolvidos. Nos dias seguintes naquela semana, o repórter Francis visitou algumas das pessoas envolvidas e em novas matérias deu sequência ao caso. Uma das pessoas envolvidas foi uma mulher que caminhava próximo ao local da colisão e ao ver o vulto correu para casa e, com o marido, deitou-se no chão com medo dos tiros. Outro foi um vendedor de embutidos que, além da Kombi que foi queimada, mas tinha seguro, perdeu o dinheiro ganho com as vendas naquele dia.
Situações do dia a dia
O assalto de 2015 foi apenas um dos quatro assaltos a carros-fortes que aconteceram na região de Nova Petrópolis nos últimos 10 anos, mais precisamente entre 2012 e 2017. Desde o crime de 2017, que aconteceu em Vila Cristina, a região não sofreu mais com este tipo de ataque. Mesmo assim, todos os dias o jornal está sujeito a precisar “parar as máquinas” para poder incluir alguma notícia importante para você, leitor d’O Diário. A notícia pode não ter hora e lugar, mas não importa onde ela aconteça, a equipe do Diário estará presente.