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Resgatar o verdadeiro sentido do Natal é o desejo da comunidade
30 Anos 30 Histórias: EPISÓDIO 8: ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO
O QUE MUDOU EM RELAÇÃO ÀS CELEBRAÇÕES APÓS 30 ANOS
Realizar a ceia de Natal, reunir as famílias em um clima de paz, alegria e união, compõem as características que as pessoas esperam do verdadeiro espírito natalino, resgatando os ensinamentos que o aniversariante da data, Jesus, deixou aos cristãos.
Esta também é a uma busca da comunidade, assim como dos líderes religiosos. Há 30 anos, defendem esta bandeira, dando voz à população da região. Na véspera de Natal de 1992, justamente a primeira edição desta história que chega à sua terceira década, retratava de forma a preservar as tradições alemãs que vão de encontro ao que, hoje, a população busca retomar.
Na época, conforme o padre José Francisco Rauber, já havia o peso do apelo comercial, mas, de modo geral, as tradições eram mantidas em Ivoti, entretanto, começava a se perceber uma mudança e a se perder a noção da vida cristã. O pastor Egon Alberto Wutzke concordava com o padre na questão e dizia ter esperança de resgatar o verdadeiro Natal com o perdão.
Em 2022, o padre da Paróquia São Pedro Apóstolo de Ivoti, Paulo Bervian, e o pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, Vanderlei Closs, assim como seus antecessores, dão sua visão sobre esta importante data, para reunir as famílias, reatar amizades e manter a parte espiritual de forma mais importante do que a material.
Padre Paulo Bervian: “O cristão deve priorizar o espiritual”
O padre Paulo Bervian é natural de Picada Feijão (Ivoti), foi ordenado na década de 1980 e passou por municípios como Taquara, Santa Maria do Herval, Campo Bom, Dois Irmãos, e Ivoti – onde está até hoje e completará 40 anos como padre.
Ele cita o histórico de salvação que começou no Antigo Testamento, quando já anunciavam a vinda de um Messias. “Quando o povo rompia a fidelidade com Deus gerava desconforto, violência, guerras e desânimo. Para animar o povo anunciavam que viria o Salvador, um redentor. Deus não anula a criação pelo pecado, mas ele quer recriá-la pela misericórdia e reeditá-la pelo perdão”, observa.
Sobre o nascimento de Jesus, ele destaca que Maria foi convidada pelo anjo para ser a mãe. O padre cita o texto bíblico de Lucas 2: “enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto e Maria deu a Luz ao seu filho primogênito.”
No contexto da manjedoura tudo era simples e humilde mas aconchegante e com a presença dos animaizinhos junto com Maria e José, mas encantador pelo espírito de amor e de acolhida, confiança em Deus. “O que era material era pobre, o que era espiritual, muito rico. Não devemos nos distanciar do Natal original e priorizar a fé, o amor e a misericórdia, o lado espiritual. No Natal, o cristão verdadeiro prioriza a parte espiritual, ele pode fazer festa, ter ceia, mas com a presença do aniversariante, que é Jesus”, afirma.
Pastor Vanderlei fala do real sentido do Natal
Natural de Teutônia, o pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), Vanderlei Closs, foi ordenado aos 29 anos, em 1995, e já está há 27 anos na função. A primeira paróquia que atendeu foi Canguçu, depois Passo Fundo e, por fim, Ivoti, onde atua desde 2009.
Para ele, o significado do Natal é o nascimento de Jesus. “Ele é o nosso Senhor e salvador. Celebraremos os cultos do dia 24, às 19 horas, e dia 25, às 9 horas. Realmente, é o grande encontro das famílias. Nessa data se abraçam, trocam presentes e é uma época em que todos estão mais sensíveis à solidariedade, paz e alegria”, comenta.
Segundo Closs, também é uma época em que as pessoas se afastam umas das outras. “O que também me entristece é o comércio começar a tratar em outubro sobre o Natal, mas não lembrar o motivo pelo qual celebramos a data. Falta pronunciar mais o nome de Jesus, Ele é a razão da festa, da celebração”, enfatiza.
O NATAL E A POPULAÇÃO
Passados 30 anos, as lideranças religiosas destacam a importância de celebrar a festa de Natal, mas não esquecer do aniversariante que é Jesus. Esta também é a percepção da comunidade, que relata seu sentimento nesta época do ano.
“O Natal sempre foi uma data muito simbólica para mim. Ainda mais depois da pandemia, em que as pessoas se distanciaram, ou pior, perderam algum ente querido para o vírus. Para mim, o Natal sempre teve esse significado, o de reencontro. Na família, essa época do ano representa um momento de reflexão e de avaliar o que fizemos durante o ano”- Josíbia Braun, 24 anos- professora.
“Hoje em dia virou uma data comercial. Na minha família, a gente não tem mais o hábito de reunir todo mundo e celebrar o verdadeiro significado do Natal. Tenho medo até dos meus filhos não valorizarem essa data como o que ela é, o nascimento de Jesus. Bem diferente da minha infância, em que todos os familiares se reuniam na casa da minha avó”- Cleide Overbeck, 42 anos, chefe de setor.
“Eu espero o Natal o ano inteiro. Gosto porque minha família vai para a lagoa e fizemos a ceia lá. Tem bastante alimentos, a mesa fica cheia de coisas boas para comer. Sempre nessa época, também, ganho meus presentes e estou esperando pelo meu. Acho que vem. E tem o menino Jesus, que a gente não pode esquecer”- Kevin Luiz Ritter, 7 anos, estudante.
“Depois que minha mãe morreu, a minha família não comemora o Natal, porque ela era uma incentivadora para estarmos sempre juntos nesse período. Agora, estamos tentando recomeçar, devagar. Além disso, acredito que as pessoas perderam um pouco essa cultura de celebrar o verdadeiro significado do Natal, que é de unir a família” – Mara da Silva, 40 anos, auxiliar de cozinha.
“Hoje as crianças não sabem o verdadeiro significado do Natal. Levam em consideração apenas os presentes. Diferente da minha infância. Lembro que meu pai dizia para deixarmos os afazeres diários e se dedicar à casa, deixando bonita para o Natal. Preparávamos diversos doces, como cuca e bolacha. Minha mãe fazia potes de biscoitos para celebrar essa data” – Clair Schorn, 57 anos, atendente de padaria.
Projeto Abelhinhas levava esperança e um Natal mais doce para crianças carentes
O Grupo Abelhinhas, que na época chamava-se Departamento de Assistência Social da Prefeitura de Ivoti, teve início da década de 80 no mandato do prefeito Flávio Klein. À frente na época, estava dona Iraci Sidônia Klein, então primeira-dama. O grupo tinha cerca de 20 voluntárias e, ao longo dos anos, mudou de sede por várias vezes, para melhor acomodar e desenvolver o projeto.
Uma reunião que a primeira-dama teve na Assembleia Legislativa do Estado, deu início às Abelhinhas. Foi proposto um levantamento de famílias carentes, mas, na época, Ivoti tinha poucas pessoas necessitadas. Com isso, foi feito um levantamento nas escolas, através dos alunos. Na sequência, foram cadastradas famílias que precisavam de doações.
Com o tempo, começaram a receber ajuda do Estado, através da LBA (Legião Brasileira de Assistência). Com o incentivo, o projeto recebia dinheiro pra promover cursos de capacitação para as donas de casa. Com isso, elas vendiam os produtos para adquirir mais materiais. Remédios também eram comprados para as pessoas cadastradas.
Com o passar dos anos, o trabalho foi se desenvolvendo e crescendo. Em 1992, na primeira edição do, na época, Diário de Ivoti, as ações sociais voltadas ao Natal foram destacadas. O grupo distribuiu com mais de 100 ranchos e brinquedos a 170 crianças carentes naquele ano.
Comitê Contra a Fome tem destaque atualmente
Com início no dia 1º de abril de 2020 para atender demandas resultantes das dificuldades econômicas da pandemia, o Comitê Contra a Fome se consolidou e vem se mostrando um instrumento essencial para completar as ações socioassistenciais das entidades municipais.
Nestes anos, recebeu reconhecimento do poder público, com quem firmou uma parceria desde o seu primeiro dia de funcionamento, assim como as entidades que o compõem Paróquia São Pedro Apóstolo de Ivoti: APAE, Rotary Club, Consepro, entre outras.
Ao longo de 2022, mais de 7 mil peças de roupas, 360 cobertores, 850 pares de calçados e quase 2.500 peças íntimas e demais utensílios domésticos foram distribuídos. Para encerrar o ano com chave de ouro, no dia 10 de dezembro, ocorreu o Natal da Caridade, em parceria com a Prefeitura. Mais de 400 presentes foram doados. As crianças ainda ganharam cachorros-quentes e tiveram brinquedos à disposição.
Em novembro e dezembro, o CRAS e o Comitê realizaram a distribuição das Cestas de Natal e dos vales para a retirada de aves, diretamente nas empresas contratadas, e de brinquedos disponibilizados no Ginásio da Comunidade Católica.
O coordenador geral, Roberto Limeira, destaca que também foram feitas doações para a Casa do Papai Noel. “Cerca de 100 brinquedos que não foram retirados no dia do Natal da Caridade, foram encaminhados para doação durante o Natal no Coração, atendendo àquelas crianças que não tiverem suas cartinhas apadrinhadas”, relata.
“Não há como encerrar sem agradecer imensamente a todos os que nos ajudam nessa empreitada de levar um pouco de conforto e esperança às famílias em situação de vulnerabilidade, além de desejar-lhes um Natal de muita paz e renovação”, conclui Roberto.
REGIÃO VIROU REFERÊNCIA NO NATAL
Ao longo dos últimos 30 anos, a Encosta da Serra como um todo, virou referência aos moradores da Região Metropolitana e do Vale do Sinos, que buscam por locais decorados e repletos de atrações no Natal. Este é o caso da família Gund, de Novo Hamburgo, que esteve em Ivoti para passear no Natal no Coração. O pai Oseias (39 anos), a mãe Cris (34) e os filhos, Lucas (7) e Amanda (3), buscam vir aos municípios da Encosta da Serra para ver as belezas do Natal.
Oseias destaca que, para ele, vai além da esposa e dos filhos. “São todas as pessoas que a gente ama e se relaciona, em casa, no trabalho ou no nosso bairro. É legal quando podemos levar isto adiante, mostrando que, em cidades como Ivoti, as pessoas se importam e fazem algo tão bonito para trazer a comunidade para perto. O Natal é isso, mostrar o carinho pelo próximo e tudo que tem de bom nesta época, que acabamos extravazando mais estes sentimentos”, afirma.