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Conheça o morador de Birkenthal que ajudou na construção da BR-116
Hermes Reich
Dois Irmãos – A partir da construção da BR-116 a região da Encosta da Serra começou avançar a passos largos. Para dar sequência ao progresso das cidades, muitos trabalhadores dedicaram parte de suas vidas nesta rodovia. O morador do bairro Birkenthal, em Morro Reuter, Walter Gomes da Silva, de 95 anos de idade, é um deles.
Sua participação na construção da rodovia foi de extrema importância, pois naquela época a força do trabalho braçal e a persistência eram a condição para a obra avançar cada vez mais trazendo boas novas para o Rio Grande do Sul.
“Eu ajudei a abrir a Estrada Federal (BR-116) aqui. O ano era 1957, e eu tinha 30 anos de idade. A empresa responsável pela obra era uma companhia de estradas de São Paulo. Fizemos o trecho da rodovia que compreende o bairro Picada São Paulo até a cidade de Nova Petrópolis”, conta Walter.
O trabalho era duro e dependia de grande esforço para a expectativa de progresso se consolidar. Mas, muito além do empenho que envolvia o trabalho de construção da rodovia, era preciso boa técnica e precisão nas ações.
“O trabalho era quase todo ele no muque. As explosões para furar as pedras não existiam e era tudo feito na marreta. Batia-se em cima de um cabo de aço com a ponta abaulada, de um lado para o outro, com muita técnica e precisão”, recorda Walter que completa dizendo que um trabalhador segurava o cabo entre as pernas e o outro batia na ponta de cima dele. “Era um serviço muito pesado e perigoso, se errasse a batida dava em cima do joelho. Os trabalhadores tinham que ser muito bons para quebrar a pedra de forma correta.”
Vale lembrar que era uma obra grandiosa e difícil de se executar, por isso, foi bem demorada. “Levamos muito tempo para fazer esta estrada. Os pedaços de rocha que tem por aí, todos eles foram tirados no muque. Também tínhamos que colocar aterro nos valos mais fundos, e tudo de carroça e carrinho de mão”, lembra.
Conforme Walter, para manter as ferramentas em condições de trabalho foram montadas ferrarias ao longo da rodovia, “pois sempre tínhamos que apontar o aço dos cabos para fazer as perfurações. Assim, trabalhei na construção da rodovia por 5 anos, no trecho do bairro Picada São Paulo até o município de Nova Petrópolis.”
A trajetória no DNER
Trecho da BR-116, hoje concluída, que Walter da Silva ajudou construir no bairro Picada São Paulo, em Morro Reuter (Crédito: Hermes Reich)
Quando encerraram os trabalhos de construção da BR-116 na região, Walter foi com a empresa para Vacaria, onde ficou trabalhando por 2 anos. De lá para cá, o trabalho para ele continuou intenso até surgir uma oportunidade no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), existente entre os anos de 1937 e 2001.
“Eu tinha uma madrinha em São Leopoldo, a Dona Riqueta. Ela tinha dois filhos que eram engenheiros no DNER, em Porto Alegre. Conversei com eles e contei a minha história. Então, consegui uma vaga de motorista e trabalhei por quase 6 anos em Deodoro Martins. Trabalhei no DNER até me aposentar.”
Após anos de trabalho árduo na construção e manutenção de rodovias no Rio Grande do Sul – Walter da Silva ainda lembra de um episódio quase trágico. “Uma vez, eu e meus colegas estávamos levando asfalto para fechar os buracos na estrada e um caminhão que vinha muito rápido acabou batendo na nossa traseira. Fomos jogados para fora do nosso carro com o impacto.” -, Walter retorna a Morro Reuter.
“Trabalhei no DNER até me aposentar. Depois, retornei a Morro Reuter e adquiri uma área de terra na localidade de Birkenthal, onde comecei a criar gado”, finaliza Walter.
O legado
Walter Gomes da Silva e Lori Kasper no dia de seu casamento (Crédito: arquivo pessoal)
Walter Gomes da Silva é natural de São Francisco de Paula. Ele morou em Caxias do Sul e veio para Morro Reuter ainda jovem, aos 31 anos de idade. Nesse período conheceu Lori Kasper, casou-se com ela e dessa união nasceram seis filhos. Hoje, Walter aproveita a vida ao lado de sua esposa na localidade de Birkenthal, em Morro Reuter.
Com a construção da BR-116, a paisagem local mudou em todos os pontos e os anos de trabalho duro agora é passado. Contudo, a boa notícia para quem vive em Morro Reuter é o legado do desenvolvimento e o impacto que esta importante obra teve na vida das pessoas, servindo de inspiração às novas gerações.
Walter Gomes da Silva e sua esposa Lori Kasper lembram o passado de trabalho e conquistas na varanda de sua casa (Crédito: Hermes Reich)