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Dia do Trabalhador: Marino Bundchen trabalha há mais de 50 anos na Tenda do Umbu
Picada Café – Em 1963, um casal de agricultores chamado Levino e Guida Rückert resolveu montar uma pequena tenda às margens do km 203 da BR-116. No local, sob a sombra de um umbuzeiro, eram vendidos produtos coloniais como frutas, rapaduras e, principalmente, a schimier, aos finais de semana para complementar a renda da família. Passados 60 anos, a Tenda do Umbu tornou-se parada quase que obrigatória por quem transita pela BR-116, principalmente para motociclistas, que aos finais de semana lotam o lugar. E durante estas seis décadas de existência, uma pessoa está lá há 51 anos. Seu nome é Marino Bundchen, hoje com 63 anos.
Engana-se quem acha que Marino é um dos proprietários da Tenda e que, por isso, permanece lá por mais de meio século. Marino é funcionário: garçom, balconista, atendente, lavador de pratos. Um verdadeiro “faz tudo”, mas com muito orgulho e vontade de permanecer no local que ele considera uma casa e uma família. O amor é tanto, que a esposa, Ivoni, também trabalhou no local por mais de 25 anos. Já o filho Felipe, de 31, também é funcionário do local há mais de uma década.
O início
Como dito, a Tenda do Umbu tem fortes raízes familiares. E foi o pai de Marino, Adilo, que já trabalhava no local, quem levou o filho para o emprego no ano de 1972. “Eu estudava pela manhã e à tarde vinha trabalhar com o meu pai. Fui fazendo esse turno inverso por muitos anos, até que parei de estudar e passei a trabalhar em tempo integral”, relembra Marino.
Os anos e décadas se passaram, Marino se casou, teve dois filhos, o século virou, mais 23 anos se passaram, e lá ele continua. E o principal, sem a menor vontade de parar, tanto é que está aposentado há mais de 10 anos. “Foi até engraçado quando levei meus papéis no INSS para dar entrada a aposentadoria. O homem que me atendeu perguntou onde estavam os documentos dos demais empregos, mas eu não tinha, sempre foi um só a vida inteira”, conta aos risos. O fato foi tão inusitado, que o atendente chamou o resto da equipe para mostrar aquela raridade e todos ficaram impressionados. Isto que na época Marino tinha “apenas” 40 anos de profissão.
Histórias
Em 2022, Marino foi homenageado com uma placa por seus 51 anos de serviços prestados. “Uma homenagem ao Sr. Marino, que há 51 anos dedica a sua vida pela Tenda do Umbu. Muito Obrigado”, diz a placa. E com tanto tempo de serviço, não são poucas as histórias e momentos marcantes.
Marino com seu troféu em homenagem aos 51 anos de trabalho (Créd.: Dário Gonçalves)
A principal, infelizmente, não é nada boa. Aconteceu em 1999, quando o proprietário, Eloi Rückert, filho de Levino e Guida, sofreu uma queda ao descer uma escada na própria Tenda. O acidente lhe deixou em estado vegetativo, que permanece até hoje. “Com certeza esse foi o momento mais marcante, mas muito triste. Na época não tínhamos os bombeiros aqui perto. Tivemos que colocá-lo no banco de trás de um carro e levá-lo ao Hospital Nova Petrópolis. Infelizmente ocorreu isso”, relembra emocionado.
Devolução após anos
No entanto, inúmeras outras histórias curiosas também aconteceram. A mais impressionante, segundo ele, começou ao acaso: no momento em que resolveu ir limpar as mesas, encontrou em uma delas um óculos. Tentou achar o dono entre os presentes, mas ele já não estava mais lá, então guardou o objeto dentro de uma caixa e lá deixou.
Cerca de seis anos se passaram e um casal sentado a mesa conversava. “Quando eu passei por eles, ouvi o homem falar pra mulher que uma vez, anos antes, ele havia perdido um par de óculos naquele mesmo local. Eu fui lá dentro, tirei os óculos da caixa e mostrei a ele. ‘Com licença, seriam esses os óculos?’, ele ficou impressionado”, ri ao relatar. Sem acreditar que Marino tinha guardado seu pertence por tantos anos, o cliente, que seria morador de Porto Alegre, até mesmo gravou vídeos com o garçom para registrar o momento.
A história da Tenda do Umbu passou pelos olhos de Marino (Créd.: Dário Gonçalves)
Formação em música
Por influência do Seu Eloi, Marino estudou música por quatro anos e se formou em Nova Petrópolis. Chegou a fazer apresentações, no entanto, não era isso que ele queria. “Eu estudei porque era algo que o Seu Eloi me incentivava, mas pra isso eu tinha que me apresentar aos finais de semana, e aí não conseguia ficar na Tenda. Então parei, porque o que eu gosto mesmo é ficar aqui”, afirma.
Lidar com o público é a sua paixão e vocação e assim vem fazendo, em um único emprego, há 51 anos. E apesar da idade, 63, dizer que ele já é idoso, não é assim que ele se sente. Muito pelo contrário. Ainda jovem, não pensa em uma aposentadoria definitiva, pois seu desejo é continuar trabalhando junto de sua família, equipe de chefes e funcionários, e tantos amigos que faz dia após dia trazidos pelas estradas de todos os cantos. Feliz Dia do Trabalhador!
A equipe de trabalhadores da Tenda, Miriam, Mauren, Isolde, Marino, Felipe, Bárbara, Patrícia, Gregori e Ademir (Créd.: Dário Gonçalves)