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Estância Velha: mulher que morreu por espancamento tinha sequelas de agressão anterior
Estância Velha – A comunidade estanciense ainda se recupera da triste notícia do falecimento de Patrícia Margarete dos Santos, vítima de agressão do ex-companheiro. Agora, novos detalhes emergem, revelando que a vítima já havia sofrido graves sequelas de agressões anteriores.
O relato é da irmã, Magaly Cristina dos Santos, vendedora ambulante de 37 anos, que falou sobre o ocorrido. Segundo ela, Patrícia havia sido internada no ano passado, quando permaneceu dois meses em tratamento devido a um episódio de espancamento anterior. As agressões resultaram em sequelas físicas e psicológicas que a impediram de retomar suas atividades de trabalho. “Não tinha força para segurar algo, ficou com dificuldade para caminhar e, por conta de um derrame, ficou com paralisia facial. Mal conseguia se alimentar”, lamentou Magaly.
Após receber alta, Patrícia voltou para a casa da mãe, mas o agressor voltou e se desculpou, prometendo que não repetiria o comportamento. Ao todo, os dois ficaram juntos por apenas nove meses, tempo o suficiente para que o criminoso cometesse as graves agressões. Infelizmente, dessa vez, ela não sobreviveu. Magaly ressaltou que a falta de denúncia anteriormente ocorreu devido ao medo que Patrícia sentia, diante do histórico de violência do homem, que possui antecedentes até mesmo por homicídio.
VIZINHA CHAMOU A AMBULÂNCIA
Segundo a irmã, Patrícia passou por momentos dramáticos após ser agredida pelo ex-companheiro. Uma vizinha, que preferiu não se identificar, foi a responsável por descobrir a situação crítica em que ela se encontrava.
Magaly relata que era por volta das 4 horas, quando a vizinha foi até a casa de Patrícia para convidá-la para um chimarrão, mas não a encontrou. Ao bater palmas, o agressor apareceu e informou que ela estava “ganhando um troço”. Preocupada, a vizinha entrou na residência e se deparou com Patrícia convulsionando, em estado grave.
Imediatamente, uma ambulância foi chamada e Patrícia foi levada para o hospital. Durante o trajeto, ela teve uma parada cardíaca e seu coração ficou sem responder por dois minutos. Posteriormente, ela foi transferida para o Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Canoas, onde permaneceu internada pelo restante de seus dias.
Em nenhum momento, de acordo com Magaly, a irmã recobrou a consciência, ao longo dos 26 dias em que esteve internada. Nos dois últimos dias de sua vida, chegou a ser transferida para o quarto, mas ainda em coma, já que estava sendo constatada a morte cerebral. Na tarde do último sábado, Patrícia sofreu nova parada cardíaca e acabou indo a óbito.
“NINGUÉM É DONO DE NINGUÉM”
A morte de Patrícia abalou profundamente a comunidade estanciense. Ela era uma pessoa muito querida e respeitada. Magaly relembrou as qualidades de sua irmã, descrevendo-a como a melhor faxineira do município e uma pessoa maravilhosa, brincalhona e cheia de vida.
A irmã de Patrícia faz um apelo às mulheres que estejam em situações semelhantes, encorajando-as a não se aprisionarem em relacionamentos abusivos. “Não fiquem com medo e denunciem. Sempre tem alguém para estender a mão e ajudar. Deus nos fez para viver a vida e ninguém é dono de ninguém”, declarou Magaly.
“Estância Velha tem muitas mulheres que sofrem e o caso da minha irmã serve de alerta para elas. Depois das minhas declarações, três mulheres me ligaram e disseram que vão dar um basta nas relações delas. Se a gente não denunciar, vai acontecer cada vez mais. Hoje existem leis e a Justiça precisa ser dura com esses agressores”, enfatizou Magaly.
“Tomara que ele apodreça na cadeia”, desabafou Magaly, demonstrando a indignação e o desejo por justiça.
AGRESSOR ESTÁ PRESO
O criminoso que espancou Patrícia foi preso pela Polícia Civil no dia 19 de junho. De acordo com o delegado Rafael Sauthier, o homem já possui ficha criminal com passagens por desacato, ameaça, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo e homicídio. A prisão foi cumprida pós mandado expedido pela 2ª Vara Judicial da Comarca.
À época da prisão, Patrícia seguia internada na UTI. Por isto, ele foi detido por feminicídio de forma tentada. Agora, com o falecimento da estanciense, o delegado conta que o homem será indiciado por feminicídio consumado.
A necessidade da denúncia é corroborada pelo titular da Delegacia de Estância Velha, delegado Rafael Sauthier, que relatou que, na situação anterior de agressão, Patrícia não havia denunciado o agressor. “Na delegacia e na justiça ela disse que as lesões sofridas foram decorrentes de um tombo. Mostra que é importante que as mulheres reportem os fatos e, principalmente, não voltem atrás. Ela acabou sendo vítima dele e da própria decisão de não reportar o fato à polícia”, complementou.