HERVAL: se cada um tivesse um pouco do espírito comunitário do Kroetz, o mundo seria um lugar melhor

Ele é o precursor do futebol de campo e do espírito comunitário na Marcondes

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval | Se todo mundo tivesse um pouco do espírito comunitário de Cláudio Kroetz, 62 anos, certamente o mundo seria um lugar melhor. Além de esposo, pai, agricultor, motorista, e diversos outros ofícios, construiu um legado no esporte do município, envolvendo e mantendo a união em torno do bem comum. 

Kroetz é o fundador do clube da Marcondes, e segue à frente até hoje

Morador da Linha Marcondes, é filho de Theodoro Bertholdo Kroetz e Maria Hilda Kroetz, sendo o mais novo de 11 irmãos, dos quais três já são falecidos. Todos nasceram em casa, pelas mãos da parteira Érica Ramm.

Desde a infância ele se viu imerso no trabalho árduo da roça, aprendendo lições de humildade, solidariedade e perseverança. No entanto, a vida reservava-lhe desafios ainda maiores: a perda prematura do pai quando tinha apenas 13 anos e da mãe aos 18.

Assim, ainda jovem, teve que lidar com a responsabilidade de cuidar de si mesmo e da família, assumindo um papel de liderança em meio à adversidade. Foi nesse contexto de desafio e superação que o esporte emergiu como uma luz. Desde os 10 anos descobriu sua paixão pelo futebol, encontrando nos campos de potreiros não apenas um escape, mas também um propósito.

Com sua estatura imponente e sua determinação inabalável, ele rapidamente se destacou. Aos 12 anos pegou sua primeira titularidade, jogando com os adultos.

Desde então atuou em diversos times da região. Na Nova Renânia, por exemplo, participou do primeiro e segundo quadro no mesmo campeonato. “Em um era centroavante e noutro goleiro.”

45 anos no esporte amador

Fez seu primeiro gol lá em Pinhal Alto. Na década de 90 ganhou um campeonato em Nova Petrópolis.

Atuou ainda em Gramado, Nove Colônias, Boa Vista, Ferraria, Padre Eterno Baixo e outros.

“Eu jogava como volante e zagueiro, mas quando precisava, ia para o ataque, goleiro, de tudo.”

Atuou no esporte amador por 45 anos, direto. Parou somente aos 57, por causa do joelho.

Mas o propósito de manter viva a chama do futebol, especialmente de campo, nunca morre para Kroetz. Faz de tudo ao seu alcance para promover atividades e entrosar o máximo de hervalenses e jogadores da região.

ACREDITANDO NO POTENCIAL:

 Fundador e guardião do Clube

Não é somente o gosto pelo futebol, mas a certeza da importância do que o esporte representa. Muito além da diversão, do encontro de amigos, há um fator crucial que move Cláudio mesmo que inconscientemente.

É através das atividades esportivas que ele aproxima os jovens das oportunidades de desenvolverem seus talentos e, fundamentalmente, os mantém longe de drogas e da violência, gerando também a disciplina.

E foi assim que, em 1990, decidiu fundar a Sociedade Esportiva Linha Marcondes, oficializando-a em 93. Mas, até então, jogavam num campo situado num potreiro. Assim, em 1996, fez uma mobilização: foi de casa em casa e emprestou dinheiro para comprar uma área de terras, conquistando o espaço onde hoje está o clube. Boa parte da quantia ele tirou do próprio bolso.

Sempre contou com o apoio da esposa, Renadi Kroetz, 59, com a qual é casado há 34 anos. Venderam muitos pastéis, enroladinhos e muito mais para conseguir pagar os empréstimos. Depois, com o apoio dos dois filhos, seguiram tocando o local até hoje.

Cláudio e a esposa Renadi

Na época tudo era diferente. Não tinha tecnologia e Kroetz ia de casa em casa coletar assinaturas. Da mesma fora eram poucos os que tinham carro. Lá ia ele com sua Kombi, gratuitamente, buscar os jogadores nas mais distantes localidades, trazendo-os à Marcondes – e ainda faz isso hoje em dia.

Questionado se ele tem a dimensão de quantas pessoas ajudou através de suas ações, humildemente responde: “estou tentando fazer minha parte”. Diante disso é inevitável afirmar que, hoje, Marcondes e o esporte local é o que é, em muito, graças ao Kroet. Diversos atletas que ele iniciou, hoje, jogam nos mais variados clubes da região.

Atualmente, a Marcondes tem dois times participando do Campeonato Municipal de Futebol de Campo – que foi retomado após mais de 10 anos. Mais uma vez, Kroetz se mobilizou e foi de porta em porta convocar os atletas. Além disso participam de vários amistoso com times da região.

Cresceu no entorno da Cascata

Cláudio nasceu e cresceu no entorno da esbelta Cascata da Marcondes, cuja propriedade é de sua família. A casa fica na parte superior e, nas suas lembranças de infância, lembra do rugir das águas. “Era como uma trilha sonora.”

Kroetz cresceu escutando o rugir da Cascata da Marcondes

Ele a esposa construíram a própria residência ali perto, no acesso. “Sempre vem muita gente, de todos os lugares do Rio Grande do Sul, do Brasil e até de fora”, conta. Eles permitem a entrada sem qualquer cobrança, pedem apenas respeito e preservação da natureza.

Cláudio também é um dos integrantes mais antigos do PDT local, concorreu a vereador há alguns anos mas não chegou a se eleger. Em 1996 ficou como suplente.

Hoje, além do esporte, segue trabalhando na roça e levando as pessoas da comunidade de Linha Marcondes para o Centro com sua Kombi – já que não tem linha de ônibus. Por muitos anos atuou no transporte escolar e empresas.

A grande família Kroetz

Registro da família de Cláudio Kroetz. Fileira de trás: Maria Madalena, Lúcia (falecida), Noêmia (falecida), Hedite (falecida), Beno, Imelda e Amida. Na frente: Léo, a mãe Maria com Cláudio no colo, Marli, pai Theodoro e Canisio.

Primeiro fardamento

Primeiro fardamento da Sociedade Esportiva Linha Marcondes. Na foto, em pé: Alcino Schulz, Celírio Vier, Ilgo Hoff, Agenor da Rosa, Paulo Wingert, Cláudio Kroetz, Agachados: Sidnei Vier, Selivio Model, Valdemir Linke, Ismair da Rosa, Aldair Souza, Hugo Linke e Osmar Off.