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Correios de Dois Irmãos deviam 16 meses de aluguel; saiba o que aconteceu
Por Cleiton Zimer
A situação da agência dos Correios de Dois Irmãos, alvo de questionamentos após o fechamento da unidade de Ivoti, foi esclarecida pela advogada do proprietário do imóvel onde a estatal funciona. Segundo Merlim Arnecke Rebelatto, foi ajuizada em maio deste ano uma ação de cobrança e pedido de desocupação por causa de 16 meses de inadimplência no pagamento do aluguel.
Conforme a advogada, houve audiência de conciliação e novas tratativas ao longo dos meses. Na última sexta-feira, 5 de dezembro, os assessores responsáveis obtiveram — com liberação da sede dos Correios em Brasília — o pagamento integral de todos os aluguéis em atraso.
Com a regularização do débito, as partes seguem negociando a eventual assinatura de um novo contrato de locação, condicionado à viabilidade e às condições acordadas entre locador e estatal.
Enquanto isso, a advogada afirma que a agência de Dois Irmãos permanece atendendo normalmente à comunidade, restando ainda em aberto o pagamento do aluguel referente ao mês de dezembro.
Prejuízo de R$ 6 bilhões
Em balanço divulgado no dia 28, os Correios anunciaram prejuízo de R$ 6 bilhões acumulado apenas nos três primeiros trimestres deste ano, chegando a 13 trimestres consecutivos de resultado negativo desde o fim de 2022. O desempenho contrasta com o período de 2017 a 2021, quando a estatal registrou cinco anos seguidos de lucro, incluindo R$ 3,7 bilhões em 2021, impulsionada pelo avanço do comércio eletrônico na pandemia. Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado, a receita líquida anual da empresa caiu cerca de R$ 2,4 bilhões entre 2021 e 2024, enquanto as despesas anuais cresceram aproximadamente R$ 3,7 bilhões no mesmo período, em meio à perda de participação nas encomendas internacionais após o Programa Remessa Conforme (PRC), à abertura do mercado para empresas privadas nesse segmento e ao aumento de gastos com acordos judiciais, juros de empréstimos e aportes ao fundo de pensão Postalis. Nesse contexto, o pagamento de precatórios saltou de R$ 483 milhões para R$ 2,1 bilhões até setembro, os juros sobre empréstimos contratados entre 2024 e 2025 somam R$ 157 milhões, e um estudo interno dos Correios estima impacto de até R$ 2,2 bilhões nas receitas apenas em 2024 com as mudanças no frete internacional.
Para enfrentar a crise, o economista Emmanoel Rondon, que assumiu a presidência dos Correios em 26 de setembro, após dois anos e sete meses de gestão do advogado Fabiano dos Santos, conduz um plano de reestruturação já aprovado pelo Conselho de Administração. O pacote prevê programa de demissão voluntária (PDV), com expectativa de adesão de cerca de 10 mil dos 83 mil funcionários, fechamento de até mil agências deficitárias, venda de imóveis e revisão do modelo de negócios, com foco em e-commerce e parcerias estratégicas. A direção pretendia captar R$ 20 bilhões em empréstimos para reforçar o caixa e sustentar o plano, mas a operação foi barrada pelo Tesouro Nacional, que considerou os juros pedidos pelos bancos excessivos. A meta da nova gestão é re-equilibrar as contas até 2027, sem privatização — hipótese que o Ministério da Fazenda afirma não estar em discussão —, enquanto a Comissão de Transparência do Senado apura possíveis irregularidades na condução da estatal.
