Geral
Alexandre Garcia: Hoje e ontem na escola
Por Alexandre Garcia
Recebi de dois amigos um vídeo que dizem se passa em uma escola de Mato Grosso. Não sei se foi lá nem sei quando, mas o certo é que está bem audível a reprimenda que dois homens fazem a 17 alunos, adolescentes, postos de joelhos e cabisbaixos, enquanto ouvem a ameaça: “Hoje em dia a polícia não resolve mais nada, quem resolve é o Comando”. E outro completa: “Nóis é do CMT e tá dando um alerta; se tiver que vir pela segunda vez, vai ser no pau. Se pegar vocês fumando bagulho, vamos quebrar vocês no pau.” E avisam que se o guardinha avisar que estão fumando de novo, vai “ser daquele jeitão”. Inclusive se forem pegos com maconha na rua. E alertam que na escola há alunos com necessidades especiais e filhos de presos, que precisam ser respeitados.
Imagine se um professor pusesse de joelhos alunos fumadores de maconha na escola. O professor seria destituído, talvez preso, e apanharia dos alunos. O politicamente correto enfraqueceu a disciplina e com ela o professor. A droga invade escolas e, no caso, foi preciso pedir a proteção de traficantes, que impõem a disciplina do modo que alunos entendem. E eles avisam que estão com o guardinha e com a diretora. E eu vos digo: as diretoras que tentaram impor disciplina em suas escolas foram denunciadas por pais, foram expostas na mídia e acabaram desiludidas com a missão que escolheram por vocação. No caso do vídeo, o pessoal do tal Comando está à frente do politicamente correto no trato com droga – incrível!
Em Brasília, o legislativo local acaba de derrubar veto do governador contra a lei que cria a disciplina de moral e cívica nas escolas do Distrito Federal. O governador, certamente, ainda tem a síndrome do governo militar. Só que a matéria não é dos militares. Quando frequentei a escola pública, o grupo escolar, no primário, entre 1947 e 1951, tínhamos, em Estudos Sociais, o ensino da cidadania, da estrutura do estado brasileiro, das funções dos três poderes, os direitos e deveres do cidadão; aos sábados, tínhamos hora cívica, em que hasteávamos a bandeira cantando o Hino Nacional e depois líamos textos e poesias referentes aos vultos e episódios da História do Brasil comemorados na semana que findava. Ao final, arriávamos a bandeira cantando o Hino à Bandeira. E aprendíamos a interpretar textos, a fazer frases, a escrever trechos ditados, com a consciência de que a Língua Portuguesa é um dos patrimônios da nacionalidade.
Mais do que isso, antes de entrarmos no ensino fundamental e durante nossa infância, recebíamos em casa a educação de não mentir, de respeitar as leis e os outros, de respeitar o patrimônio público, de nos comportarmos em público com a educação recebida em casa. Eram tempos em que não havia droga “recreativa” – sabíamos que toda droga faz mal -, as brincadeiras não eram chamadas de “bullying”, meninos e meninas eram meninos e meninas; os namoricos precoces não eram “assédio” e os professores não tinham medo de ser processados quando caíamos de árvores ou de telhados. E nós tínhamos medo e respeito dos professores. Chegamos até aqui – com as exceções normais – ordeiros, disciplinados, felizes, vividos e, creio, bons cidadãos.