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Padre César vai à Câmara rebater fala de vereador em Morro Reuter
Morro Reuter – Na terça-feira, 19, o Pe. César Worst usou a tribuna para fazer alguns esclarecimentos a respeito de comentários feitos pelo vereador Daniel Theisen a no dia 6 de novembro do ano passado. A polêmica teve início na seguinte fala do vereador: “E aí nós pagamos, e quero entrar nesse assunto, pagamos na Picada São Paulo para o Claudio Blume o aluguel de duzentos e cinquenta reais para uma sala, onde a Mitra ou a igreja não pode nos ceder um espaço, onde tem um prédio, uma sala enorme para atendimento na saúde, e nós pagamos aluguel para as crianças jogarem futebol na quadra da Imaculada Conceição, que foi erguida por nossos moradores, pessoas ajudaram a erguer aquele ginásio e nós estamos pagando para a igreja, que se faz defensora de ajudar o outro”.
Confira as explanações na integra:
Padre César
“Antes de iniciar, devo dar algumas preliminares desta minha intervenção:
– Minha alegria por primeira vez poder dizer algumas palavras nesta casa pública;
– Meu agradecimento profundo ao Sr. Presidente que permitiu-me o uso desta tribuna;
– Minha alegria e gratidão pela expressiva participação da comunidade neste dia;
– E sobretudo, no papel que ocupo de líder religioso de 89 % dos nossos munícipes, estas palavras que seguem, são esclarecimentos aos senhores vereadores e a todo o povo de boa vontade.
Aos seis dias do mês de novembro do ano de dois mil e dezoito, na sessão ordinária da Câmara Municipal de Vereadores, o senhor vereador Daniel Theisen, em suas considerações finais, fez acusações impróprias no que diz respeito à Igreja Católica. Em primeiro lugar, é preciso dizer o óbvio ululante: o vereador, infeliz na declaração, não estudou o assunto antes da declaração.
Prezado Daniel, transmitirei em discurso direto a sua fala:
“E aí nós pagamos, e quero entrar nesse assunto, pagamos na Picada São Paulo para o Claudio Blume o aluguel de duzentos e cinquenta reais para uma sala, onde a Mitra ou a igreja não pode nos ceder um espaço, onde tem um prédio, uma sala enome para atendimento na saúde, e nós pagamos aluguel para as crianças jogarem futebol na quadra da Imaculada Conceição, que foi erguida por nossos moradores, pessoas ajudaram a erguer aquele ginásio e nós estamos pagando para a igreja, que se faz defensora de ajudar o outro”.
Analisando seu discurso, Daniel, não pude deixar de notar uma coisa: o seu pensamento revela suas raízes cristãs. Sim, não estou enganado: o seu discurso de caridade, de ajuda ao próximo e do mais necessitado, é um discurso moldado pela Igreja Católica. A fala de fraternidade e ajuda desinteressada só é possível na Civilização Ocidental, que tem na Igreja todo o seu fundamento. Aliás, as leis nas quais os senhores se amparam nesse legislativo, são leis quase que integralmente romanas, preservadas e melhoradas pela Igreja. Os hospitais (a saúde), tantas vezes objetos de pronunciamentos, foram criados pela Igreja. E as escolas, são, tal como se compreende hoje o seu sistema, frutos da educação católica: foi a Igreja de Roma que criou as universidades.
Portanto, até em uma possível tentativa de desmoralizar a Igreja, o senhor continua cristão e com pensamento católico. Sua fala, assim, não está completamente falsa, porque há nela a semente escondida da Civilização Cristã: a bondade sem interesse. Algo que talvez poderia servir de exemplo para o serviço da política. Não é mais concebível uma pessoa fazer da política o seu “ganha pão”. Aliás, existem já na nova política pessoas que estão abrindo mão do seu salário para colocá-lo à disposição do bem comum.
Todavia, o vereador Daniel acha que a Igreja não cumpre com a sua fala de “defensora de ajudar o outro”. Vejamos, pois:
Segundo revelam os dados do último “Anuário Estatístico da Igreja”, publicado pela Agência Fides, a Igreja administra 115.352 Institutos sanitários, de assistência e beneficência em todo o mundo.
Deste número, 5.167 hospitais; 17.322 dispensários; 648 leprosários; 15.699 casas para idosos, doentes crônicos e deficientes; 10.124 orfanatos; 11.596 jardins da infância; 14.744 consultores matrimoniais; 3.663 centros de educação e reeducação social, além de 36.386 instituições de outros tipos. Destes, a maioria na África.
Não precisamos ir longe: quantos são os nossos conhecidos atendidos gratuitamente pela Santa Casa de Misericórdia?
No nosso município, já que o vereador se referiu, cito, a saber: mais de 30 famílias ajudadas mensalmente pela Cáritas com vestuário, sapatos e alimentos, colchões e etc. Na comunidade da Walachai, as aulas de ginástica para idosos são ministradas no salão da comunidade católica. Na comunidade de sua residência, da Picada São Paulo, durante todo o ano, semanalmente e gratuitamente a Paróquia cedeu as salas para a escola. Aqui no centro, tantas vezes a comunidade ofereceu e oferecerá gratuitamente o seu salão para que se pudessem realizar as feiras de saúde. Em todas as comunidades, são nos ginásios católicos que realizam-se as festas de idosos e outros eventos de interesse da população. O fato de que se cobre um valor simbólico pela hora/jogo, é compreensível, pois temos também deveres trabalhistas a serem cumpridos e é para os jovens e crianças muito pedagógico. Mas isso é nossa organização, muito bem pensado e planejado com os nossos conselhos econômicos.
Estimados Vereadores! Aqui vemos uma grande carência de nosso município: políticos que honram a sua participação na comunidade. Poderia contar nos dedos de uma única mão, os que são praticantes na sua fé. E isso, se vocês não percebem, nós, eleitores, o percebemos: faz muita falta. Não queremos turistas na igreja, mas fiéis! Pois é na prática verdadeira da fé que reconhecemos o imenso trabalho das pessoas que aqui nesta casa nos honram com sua presença. Nossa paróquia tem inúmeras iniciativas que de fato ajudam as pessoas, os munícipes. Basta participar da comunidade para ver que muito mais que “construir casas”, construímos pessoas melhores. Na semana passada, levamos para crianças abandonadas e carentes de São Leopoldo, o fruto de uma bonita campanha de materiais escolares usados. Aos presentes, aos praticantes da fé, meu sincero muito obrigado.
Além disso, se qualquer um aqui parar para estudar antropologia, verá que, em cada ser humano, há muito mais que uma mera necessidade material: a matéria pode dignificar, mas é naquilo que transcende a materialidade que encontra-se a felicidade, suprema realização humana. Quando o senhor diz que a “Igreja se faz defensora de ajudar o outro”, Daniel, precisa entender que a função da Igreja não é apenas garantir os meios para se continuar vivendo, mas garantir os motivos para se continuar vivendo. Isso sim é ajudar o outro. A Paróquia acolhe a todos: em seu seio tem lugar para as crianças através da Pastoral da Criança e do Perseverai, tem lugar para os jovens através do CLJ, tem lugar para os recém-casados através do MCJ, tem lugar para os adultos através do cursilho e do ECC, tem lugar para os homens através do Terço dos Homens, tem lugar para as mulheres através do Grupo do Bordado, tem lugar para os idosos através de visitas solidárias. Isso sem falar nas equipes de catequese, de limpeza da igreja, de cuidado do jardim, de conselhos econômicos, de festeiros, ministros, catequistas, as atendentes das gestantes, etc. É um verdadeiro exército do bem! Na Igreja, encontram-se todos os meios para a realização humana: formações intelectuais e espirituais, trabalho e caridade. A Igreja, mestra em humanidade, alimenta a todos em todos os sentidos, porque é isso que Cristo ensinou.
Claro, tudo isso não é mérito de ninguém em especial: é mérito de tantos colaboradores, formadores da comunidade católica (alguns aqui presentes) que, sem se preocuparem com a fama, se preocupam em ajudar. De forma alguma constitui esse voluntariado um “trampolim” para auto-promoção.
Sim, todos esses são dados pouco divulgados, porque não há interesse da Igreja em fazer publicidade dos seus feitos: Deus conhece o rosto de cada um que ajuda.
No mais, a Igreja sempre ajudou e ainda ajuda no que é possível: basta ver que o cemitério municipal é uma necessidade de cada município. Nossa cidade não tem. E o que a Paróquia faz? oferece gratuitamente o seu.
O vereador deve saber que, na gestão e na legislação do município, nem tudo é permitido: não pode-se sair ofertando serviços e obras públicas que compromentam ao próprio município. Do mesmo modo, esta é uma preocupação da Igreja: cuidar do seu patrimônio da mesma forma que um pai de família cuida da sua casa. Afinal, ele é responsável por ela.
Foi-se o tempo, senhores vereadores, em que os políticos mandavam na Igreja: o Padroado e o Beneplácito já não existem mais. O princípio do Estado Laico, que hoje tanto comemoramos, não é o de defender o Estado da influência Igreja, mas o de defender a Igreja da influência do Estado: a Igreja é livre. Quero pedir que, na condição de legisladores, os senhores não mais queiram interferir nas ações da Igreja. Assim demonstrarão o seu respeito pela Constituição Federal.
Sobre o exemplo trazido pelo ilustre Vereador, de uma paróquia usar o dinheiro do dízimo para construir casas para os fiéis, devo dizer que isso é um bonito gesto. Porém se os senhores de verdade estivessem inseridos nas necessidades das paróquias da nossa região, saberiam quais são as enormes despesas de nossas comunidades. Basta pensar no mar de inadimplência do dízimo paroquial. Porém isso é assunto nosso, assunto de nossa organização paroquial. Mas, mesmo assim, se os senhores souberem de alguém que está com dificuldades materiais, por favor, encaminhem para a assistente social do CRAS e em conjunto conosco, com nossa Pastoral Social, vamos agir, como aliás se vêm fazendo a mais de 25 anos em Morro Reuter. Essas iniciativas, realizadas, são desconhecidas por muitos.
Infelizmente, alguns de nossos políticos se distanciaram da vida em comunidade, da vida concreta do povo. Aproveito a ocasião para reafirmar que as portas da Igreja estão abertas para, quiçá, ser mãe e mestra de todos vós. De nada adiantam as leis feitas por políticos que não vivem a vida das pessoas e não conhecem suas reais necessidades.
Bem verdade dizer que, nesses últimos anos, temos feito boas parcerias com a prefeitura, sem ferir qualquer princípio do Estado Laico: foram parcerias voltadas ao bem público e concreto de nossos munícipes. Nesse sentido, parabenizo a atual gestão.
Talvez, alguma pessoa poderia pensar: talvez, por um discurso tão infeliz, poucas palavras, que qualquer pessoa poderia escorregar, não será esta atitude do padre um tanto quanto exagerada? Eu respondo que não! Antes de preparar estas palavras, consultei as principais lideranças das nossas comunidades e por unanimidade, pediram-me que aqui viesse. O segundo motivo é que toda maledicência, injustiça, calúnia ou murmuração, começam em pequena escala e vai se transformando em algo maior. Depois, se o comentário atingisse à minha pessoa, com certeza, eu teria ignorado. Mas como foi uma declaração pública, e sendo o representante legal da Igreja Católica neste município, não posso omitir-me. Pois é ao povo de Morro Reuter que dedico a minha vida. Este povo que é eminentemente religioso, ordeiro e trabalhador. E neste sentido, a verdadeira e benéfica “oposição política” deve ser oposição à tudo o que prejudica ou atrasa o crescimento do nosso município. Neste sentido, foi a partir deste fato que vim, depois de 6 anos, a esta tribuna. Infelizmente, não convidado, mas provocado a fazê-lo. E sempre o farei quando necessário for.
Por fim, retornando ao caso da sala de catequese supra-citado, digo: visando o bem da população de Morro Reuter, a comunidade católica se dispõem a oferecer, gratuitamente, a sala de catequese da Picada São Paulo, – como aliás, já o faz -, para que nela, mais e mais pessoas possam ser ajudadas e alcançadas pela caridade que, volto a dizer, é fruto da Cristandade, e só nela pode sobreviver. Porém, aconselho aos políticos aqui presentes, tomarem o ritmo do povo, também no que se refere à sua religiosidade. Caso contrário, será muito difícil permanecer nestas cadeiras. Muito obrigado.
Como sinal concreto de estima, deixarei com cada vereador, um exemplar dos Santos Evangelhos. E ao Sr. Presidente, entrego oficialmente um presente dos cristãos de Morro Reuter: um belo crucifixo para que passe a incorporar o mobiliário desta casa pública que inicia suas sessões sempre com a expressão: “Sob as bênçãos de Deus”.
Daniel Theisen
Daniel Theisen, vereador