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Padre César vai à Câmara rebater fala de vereador em Morro Reuter

20/02/2019 - 14h30min

Atualizada em 20/02/2019 - 18h55min

Morro Reuter – Na terça-feira, 19, o Pe. César Worst usou a tribuna para fazer alguns esclarecimentos a respeito de comentários feitos pelo vereador Daniel Theisen a no dia 6 de novembro do ano passado. A polêmica teve início na seguinte fala do vereador: “E aí nós pagamos, e quero entrar nesse assunto, pagamos na Picada São Paulo para o Claudio Blume o aluguel de duzentos e cinquenta reais para uma sala, onde a Mitra ou a igreja não pode nos ceder um espaço, onde tem um prédio, uma sala enorme para atendimento na saúde, e nós pagamos aluguel para as crianças jogarem futebol na quadra da Imaculada Conceição, que foi erguida por nossos moradores, pessoas ajudaram a erguer aquele ginásio e nós estamos pagando para a igreja, que se faz defensora de ajudar o outro”.

Confira as explanações na integra:

Padre César

“Antes de iniciar, devo dar algumas preliminares desta minha intervenção:

– Minha alegria por primeira vez poder dizer algumas palavras nesta casa pública;

– Meu agradecimento profundo ao Sr. Presidente que permitiu-me o uso desta tribuna;

– Minha alegria e gratidão pela expressiva participação da comunidade neste dia;

– E sobretudo, no papel que ocupo de líder religioso de 89 % dos nossos munícipes, estas palavras que seguem, são esclarecimentos aos senhores vereadores e a todo o povo de boa vontade.

Aos seis dias do mês de novembro do ano de dois mil e dezoito, na sessão ordinária da Câmara Municipal de Vereadores, o senhor vereador Daniel Theisen, em suas considerações finais, fez acusações impróprias no que diz respeito à Igreja Católica. Em primeiro lugar, é preciso dizer o óbvio ululante: o vereador, infeliz na declaração, não estudou o assunto antes da declaração.

            Prezado Daniel, transmitirei em discurso direto a sua fala:

            “E aí nós pagamos, e quero entrar nesse assunto, pagamos na Picada São Paulo para o Claudio Blume o aluguel de duzentos e cinquenta reais para uma sala, onde a Mitra ou a igreja não pode nos ceder um espaço, onde tem um prédio, uma sala enome para atendimento na saúde, e nós pagamos aluguel para as crianças jogarem futebol na quadra da Imaculada Conceição, que foi erguida por nossos moradores, pessoas ajudaram a erguer aquele ginásio e nós estamos pagando para a igreja, que se faz defensora de ajudar o outro”.
            Analisando seu discurso, Daniel, não pude deixar de notar uma coisa: o seu pensamento revela suas raízes cristãs. Sim, não estou enganado: o seu discurso de caridade, de ajuda ao próximo e do mais necessitado, é um discurso moldado pela Igreja Católica. A fala de fraternidade e ajuda desinteressada só é possível na Civilização Ocidental, que tem na Igreja todo o seu fundamento. Aliás, as leis nas quais os senhores se amparam nesse legislativo, são leis quase que integralmente romanas, preservadas e melhoradas pela Igreja. Os hospitais (a saúde), tantas vezes objetos de pronunciamentos, foram criados pela Igreja. E as escolas, são, tal como se compreende hoje o seu sistema, frutos da educação católica: foi a Igreja de Roma que criou as universidades.
            Portanto, até em uma possível tentativa de desmoralizar a Igreja, o senhor continua cristão e com pensamento católico. Sua fala, assim, não está completamente falsa, porque há nela a semente escondida da Civilização Cristã: a bondade sem interesse. Algo que talvez poderia servir de exemplo para o serviço da política. Não é mais concebível uma pessoa fazer da política o seu “ganha pão”. Aliás, existem já na nova política pessoas que estão abrindo mão do seu salário para colocá-lo à disposição do bem comum.
            Todavia, o vereador Daniel acha que a Igreja não cumpre com a sua fala de “defensora de ajudar o outro”. Vejamos, pois:
            Segundo revelam os dados do último “Anuário Estatístico da Igreja”, publicado pela Agência Fides, a Igreja administra 115.352 Institutos sanitários, de assistência e beneficência em todo o mundo.
            Deste número, 5.167 hospitais; 17.322 dispensários; 648 leprosários; 15.699 casas para idosos, doentes crônicos e deficientes; 10.124 orfanatos; 11.596 jardins da infância; 14.744 consultores matrimoniais; 3.663 centros de educação e reeducação social, além de 36.386 instituições de outros tipos. Destes, a maioria na África.
            Não precisamos ir longe: quantos são os nossos conhecidos atendidos gratuitamente pela Santa Casa de Misericórdia?
            No nosso município, já que o vereador se referiu, cito, a saber: mais de 30 famílias ajudadas mensalmente pela Cáritas com vestuário, sapatos e alimentos, colchões e etc. Na comunidade da Walachai, as aulas de ginástica para idosos são ministradas no salão da comunidade católica. Na comunidade de sua residência, da Picada São Paulo, durante todo o ano, semanalmente e gratuitamente a Paróquia cedeu as salas para a escola. Aqui no centro, tantas vezes a comunidade ofereceu e oferecerá gratuitamente o seu salão para que se pudessem realizar as feiras de saúde. Em todas as comunidades, são nos ginásios católicos que realizam-se as festas de idosos e outros eventos de interesse da população. O fato de que se cobre um valor simbólico pela hora/jogo, é compreensível, pois temos também deveres trabalhistas a serem cumpridos e é para os jovens e crianças muito pedagógico. Mas isso é nossa organização, muito bem pensado e planejado com os nossos conselhos econômicos.
            Estimados Vereadores! Aqui vemos uma grande carência de nosso município: políticos que honram a sua participação na comunidade. Poderia contar nos dedos de uma única mão, os que são praticantes na sua fé. E isso, se vocês não percebem, nós, eleitores,  o percebemos: faz muita falta. Não queremos turistas na igreja, mas fiéis! Pois é na prática verdadeira da fé que reconhecemos o imenso trabalho das pessoas que aqui nesta casa nos honram com sua presença. Nossa paróquia tem inúmeras iniciativas que de fato ajudam as pessoas, os munícipes. Basta participar da comunidade para ver que muito mais que “construir casas”, construímos pessoas melhores. Na semana passada, levamos para crianças abandonadas e carentes de São Leopoldo, o fruto de uma bonita campanha de materiais escolares usados. Aos presentes, aos praticantes da fé, meu sincero muito obrigado.
            Além disso, se qualquer um aqui parar para estudar antropologia, verá que, em cada ser humano, há muito mais que uma mera necessidade material: a matéria pode dignificar, mas é naquilo que transcende a materialidade que encontra-se a felicidade, suprema realização humana. Quando o senhor diz que a “Igreja se faz defensora de ajudar o outro”, Daniel, precisa entender que a função da Igreja não é apenas garantir os meios para se continuar vivendo, mas garantir os motivos para se continuar vivendo. Isso sim é ajudar o outro. A Paróquia acolhe a todos: em seu seio tem lugar para as crianças através da Pastoral da Criança e do Perseverai, tem lugar para os jovens através do CLJ, tem lugar para os recém-casados através do MCJ, tem lugar para os adultos através do cursilho e do ECC, tem lugar para os homens através do Terço dos Homens, tem lugar para as mulheres através do Grupo do Bordado, tem lugar para os idosos através de visitas solidárias. Isso sem falar nas equipes de catequese, de limpeza da igreja, de cuidado do jardim, de conselhos econômicos, de festeiros, ministros, catequistas, as atendentes das gestantes, etc. É um verdadeiro exército do bem! Na Igreja, encontram-se todos os meios para a realização humana: formações intelectuais e espirituais, trabalho e caridade. A Igreja, mestra em humanidade, alimenta a todos em todos os sentidos, porque é isso que Cristo ensinou.
            Claro, tudo isso não é mérito de ninguém em especial: é mérito de tantos colaboradores, formadores da comunidade católica (alguns aqui presentes) que, sem se preocuparem com a fama, se preocupam em ajudar. De forma alguma constitui esse voluntariado um “trampolim” para auto-promoção.
            Sim, todos esses são dados pouco divulgados, porque não há interesse da Igreja em fazer publicidade dos seus feitos: Deus conhece o rosto de cada um que ajuda.
            No mais, a Igreja sempre ajudou e ainda ajuda no que é possível: basta ver que o cemitério municipal é uma necessidade de cada município. Nossa cidade não tem. E o que a Paróquia faz? oferece gratuitamente o seu.
            O vereador deve saber que, na gestão e na legislação do município, nem tudo é permitido: não pode-se sair ofertando serviços e obras públicas que compromentam ao próprio município. Do mesmo modo, esta é uma preocupação da Igreja: cuidar do seu patrimônio da mesma forma que um pai de família cuida da sua casa. Afinal, ele é responsável por ela.
            Foi-se o tempo, senhores vereadores, em que os políticos mandavam na Igreja: o Padroado e o Beneplácito já não existem mais. O princípio do Estado Laico, que hoje tanto comemoramos, não é o de defender o Estado da influência Igreja, mas o de defender a Igreja da influência do Estado: a Igreja é livre. Quero pedir que, na condição de legisladores, os senhores não mais queiram interferir nas ações da Igreja. Assim demonstrarão o seu respeito pela Constituição Federal.
            Sobre o exemplo trazido pelo ilustre Vereador, de uma paróquia usar o dinheiro do dízimo para construir casas para os fiéis, devo dizer que isso é um bonito gesto. Porém se os senhores de verdade estivessem inseridos nas necessidades das paróquias da nossa região, saberiam quais são as enormes despesas de nossas comunidades. Basta pensar no mar de inadimplência do dízimo paroquial. Porém isso é assunto nosso, assunto de nossa organização paroquial. Mas, mesmo assim, se os senhores souberem de alguém que está com dificuldades materiais, por favor, encaminhem para a assistente social do CRAS e em conjunto conosco, com nossa Pastoral Social, vamos agir, como aliás se vêm fazendo a mais de 25 anos em Morro Reuter. Essas iniciativas, realizadas, são desconhecidas por muitos.
            Infelizmente, alguns de nossos políticos se distanciaram da vida em comunidade, da vida concreta do povo. Aproveito a ocasião para reafirmar que as portas da Igreja estão abertas para, quiçá, ser mãe e mestra de todos vós. De nada adiantam as leis feitas por políticos que não vivem a vida das pessoas e não conhecem suas reais necessidades.
            Bem verdade dizer que, nesses últimos anos, temos feito boas parcerias com a prefeitura, sem ferir qualquer princípio do Estado Laico: foram parcerias voltadas ao bem público e concreto de nossos munícipes. Nesse sentido, parabenizo a atual gestão.
            Talvez, alguma pessoa poderia pensar: talvez, por um discurso tão infeliz, poucas palavras, que qualquer pessoa poderia escorregar, não será esta atitude do padre um tanto quanto exagerada? Eu respondo que não! Antes de preparar estas palavras, consultei as principais lideranças das nossas comunidades e por unanimidade, pediram-me que aqui viesse.  O segundo motivo é que toda maledicência, injustiça, calúnia ou murmuração, começam em pequena escala e vai se transformando em algo maior. Depois, se o comentário atingisse à minha pessoa, com certeza, eu teria ignorado. Mas como foi uma declaração pública, e sendo o representante legal da Igreja Católica neste município, não posso omitir-me. Pois é ao povo de Morro Reuter que dedico a minha vida. Este povo que é eminentemente religioso, ordeiro e trabalhador. E neste sentido, a verdadeira e benéfica “oposição política” deve ser oposição à tudo o que prejudica ou atrasa o crescimento do nosso município. Neste sentido, foi a partir deste fato que vim, depois de 6 anos,  a esta tribuna. Infelizmente, não convidado, mas provocado a fazê-lo. E sempre o farei quando necessário for.
            Por fim, retornando ao caso da sala de catequese supra-citado, digo: visando o bem da população de Morro Reuter, a comunidade católica se dispõem a oferecer, gratuitamente, a sala de catequese da Picada São Paulo, – como aliás, já o faz -, para que nela, mais e mais pessoas possam ser ajudadas e alcançadas pela caridade que, volto a dizer, é fruto da Cristandade, e só nela pode sobreviver. Porém, aconselho aos políticos aqui presentes, tomarem o ritmo do povo, também no que se refere à sua religiosidade. Caso contrário, será muito difícil permanecer nestas cadeiras.  Muito obrigado.

Como sinal concreto de estima, deixarei com cada vereador, um exemplar dos Santos Evangelhos. E ao Sr. Presidente, entrego oficialmente um presente dos cristãos de Morro Reuter: um belo crucifixo para que passe a incorporar o mobiliário desta casa pública que inicia suas sessões sempre com a expressão: “Sob as bênçãos de Deus”.

Daniel Theisen

Daniel Theisen, vereador

“A comunidade são os verdadeiros movimentadores de todas as ações que são feitas nesse município e não a igreja em si. Quero deixar bem claro que quem ergueu essa comunidade de Morro Reuter, tanto ginásio e prédios que foram falado, foram as pessoas que estavam aqui e não a igreja. A igreja que eu me refiro é o que foi citado aqui, como a Mitra. Não a igreja em si. É o empresário que ajuda, a pessoa que dedica seu tempo. E eu fico triste em ver um padre dizer que a gente deveria fazer o mesmo. Porque ele não conhece o meu trabalho. Eu faço muito isso. Mas como ele disse que a igreja não gosta de falar que faz, eu também não preciso ir e dizer pra todo mundo.
Muitos não sabem, mas faço a doação de 10% do meu salário de vereador e o restante eu pago minha faculdade. Eu não vivo disso aqui, como o padre disse. E foi essa a premissa de eu entrar na política. Agora doar o salário, como ele pediu para fazermos, o padre também recebe o seu salário. É um salário mínimo, mas ele tem ajuda de custo, gasolina paga, todo um movimento para que ele exista. Ele que faça doação também. Que faça tudo de graça. Eu não tiro um real do meu salário para minha sobrevivência.
Nós pagamos R$ 2.800,00 pra as crianças jogarem bola na comunidade do Walachai. Isso vai direcionado à Mitra. Se a igreja faz, ela tem que dar diretamente para a comunidade e não pagar para a Mitra. É isso que eu me refiro. Porque eu sou um defensor do gasto público. E quando a prefeita nos diz que não tem dinheiro para fazer muita coisa e que tem professor que não tem papel higiênico, se não fosse as APMs das escolas é gasto R$ 2.800 para as crianças jogarem bola. Cadê a ação social. Fala de graça. A igreja é um país. O Vaticano é um país. Um dos países mais ricos do mundo por metro quadrado. Onde se encontra as maiores riquezas.
Agora vir dizer que o vereador que não andar do lado da igreja não ocupará novamente essas cadeiras, eu não estou aqui para fazer carreira e me aposentar aqui dentro. Estou para fazer o bem para o município, como fiz e vou fazer. Quando fui administrador dessa casa a gente teve inúmeras reduções de custo. Não usamos um real de diária. E daí temos que pagar para uma igreja, para a Mitra, onde tem comunidades que tem todo o dinheiro com a Mitra e ainda tem que pedir permissão para fazer alguma coisa na comunidade. E eu trago aqui a professora que me falou que, um dia foi negado a sala para as crianças fazerem dança, luta de judô. Hoje está liberado. Porque não convém com as atividades da igreja. É um esporte. As crianças precisam de espaço.
Aquilo lá não foi a igreja que construiu. Foram os moradores da comunidade. É isso que eu quero levantar. Eu não sou contra ninguém. Mas sou um defensor dos gastos públicos. Concordo que o adulto pague. Ele já trabalha. Agora a criança tem que ter espaço livre em qualquer lugar. A igreja faz o trabalho da Cáritas. Não é a igreja porque é a comunidade que faz. As pessoas que levam roupas. Eu já levei. A igreja não tira do bolso para manter a Cáritas. A Cáritas é ações da comunidade que levam para lá e a comunidade se faz. E vou dizer de novo. Sou contrário à gastos públicos com esse tipo de situação. Nossa máquina está enxuta temos gastos equivocados e esse é um deles. Temos tantos gastos equivocados e um deles foi esse.
Quero dizer que as pessoas que dedicam seu tempo a ajudar o próximo isso sim é ser cristão. Não preciso ter um rótulo na minha cabeça escrito Mitra ou Igreja. Eu acredito em Deus e muito. E se a igreja estivesse preocupada teria acessibilidade em todas as igrejas. Hoje temos igreja no município em que cadeirante não consegue entrar. Inclusive um deles é meu pai, que precisa ser carregado pra dentro. Eu fico indignado. Subir aqui, falar que é demagogia, que é a igreja que paga todos os benefícios. A Mitra, igreja em si não paga todos os benefícios. A comunidade de Morro Reuter é quem faz. Ela faz galeto em prol da segurança, vai lá e dedica seu tempo. Empresários doam matéria prima. Agora vocês já viram a Mitra pegar e pagar do próprio bolso? Ela controla o dinheiro de todas as comunidades. Oque eu não concordo. São opiniões diferentes e as pessoas tem que respeitar. É a minha visão sobre a situação.
É estranho. É a primeira vez que vem nessa casa. E ele pede para não se meter na igreja. Então ele também não pode se meter na política. Que eu não concordo, nós temos que nos envolver. Temos que trabalhar juntos. É uma pena o caro reverendo não conhecer o meu trabalho. Mas eu faço muito por esse município. Quem acompanha o meu trabalho sabe muito bem. Não faço dessa casa meu ganha pão. Não sobrevivo dessa casa. Quero deixar bem claro que quem faz por esse município é a comunidade. É aquele que dedica seu tempo, que paga seu dizimo. Agora não a igreja porque ela não coloca a mão no seu bolso pra sustentar doação.
 Estamos com uma deficiência no nosso sistema de segurança. Onde terá um galeto no próximo final de semana. Então se peça para a Mitra doar R$ 100 mil para comprar a viatura. Já fui inúmeras vezes em Porto Alegre para conseguir. Isso é a igreja ajudar. Não a comunidade ir lá no final de semana fazer galeto. E querer fazer o nome em cima da comunidade. A comunidade sim merece aplausos. Se eles querem fazer pelo município, que coloquem as mãos nos bolsos cheios e comecem a doar. Porque pagamos impostos ao município e queremos retorno. Na igreja também queremos retorno. Quero deixar claro que em momento algum eu quis menosprezar a figura do padre do município. Mas quero deixar claro aqui que quem merece os aplausos aqui é a comunidade e não a igreja em si”.

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