Nova Petrópolis: assustador, agora sim, culpado e inocente

Raul Petry – [email protected]

ASSUSTADOR

Nos últimos dias, começamos a ouvir muitas notícias de superlotação nas UTIs. Claro que estas notícias são de cidades maiores, onde há hospitais dotados de UTIs. A maioria já está trabalhando com mais de 100% da capacidade há alguns dias. As filas de espera são uma consequência lógica. E é aí que o problema começa a ser notado também nos municípios menores, onde as pessoas também precisam de internação em UTI. Mas a fila é uma só. Ontem a Prefeitura trouxe a confirmação de que no domingo, 28, dia do aniversário do município, um homem de 76 anos morreu enquanto esperava por uma vaga para ser internado em UTI. Estava com Covid-19 e foi internado no dia 23 de fevereiro. No dia 26, piorou e precisou ser entubado. Mas não tinha leito de UTI vago para ele. Isso já faz uma semana. De lá para cá, a situação só piorou. Ontem o Hospital Nova Petrópolis já tinha mais um paciente na mesma situação. É a pandemia mostrando o seu lado mais assustador, bem aqui, no meio de nós.

AGORA SIM

Se ver hospitais lotados não é suficiente, talvez o exemplo aqui de Nova Petrópolis sirva para que finalmente se perceba que o negócio é sério. Porque até então isso não ficou bem claro para todo mundo. Sábado de noite, enquanto os familiares daquele paciente de 76 anos aguardavam aflitos pela vaga de UTI, outras pessoas festejavam em Linha Brasil. A Brigada Militar precisou agir para acabar com a festa. Vê se tem cabimento!

CULPADO

Dias atrás, num programa de rádio da capital, o governador Eduardo Leite foi perguntado por que não botou o Estado inteiro em bandeira preta antes do Carnaval. A resposta foi uma bela de uma enrolação e ficou por isso mesmo. Mas que o governador tem culpa no cartório, não resta qualquer dúvida. Se o caos de agora já é consequência do Carnaval ou não, tanto faz. Se houvesse fechado tudo antes do dia 12 de fevereiro, no mínimo agora estaríamos adiantados em uma semana na luta pela redução do número de casos. Isso sem falar nas aglomerações que poderiam ter sido evitadas, principalmente nas cidades do litoral. E antes do Carnaval o governador já tinha meios para saber que a situação estava se agravando. Basta levar em consideração que no mapa preliminar do dia 12 de fevereiro a região da Serra ainda estava com bandeira laranja. Uma semana depois, foi para a preta. Onde estava o nosso governador? Resposta: afagando o funcionalismo público com um feriadão.

INOCENTE

Pode até ser que o governador tenha usado parte do dinheiro extra que recebeu de Brasília para colocar em dia a folha de pagamento do funcionalismo. Ele vai sair se gabando de um milagre, mas só o fez graças a recursos extraordinários. Por outro lado, não dá para achar investindo todo aquele dinheiro em UTIs, agora estaríamos livres do problema. Equipamentos de UTI até poderiam ter sido comprados. O problema é que não tem mais pessoal especializado disponível para trabalhar nelas. A Prefeitura de Nova Petrópolis está tentando um contrato emergencial com três médicos e não está conseguindo. Imagina quando se trata de médicos intensivistas. E tem mais: se tivéssemos o dobro ou o triplo de leitos de UTI e seguíssemos descuidando da prevenção, cedo ou tarde tudo estaria lotado do mesmo jeito. Essa culpa o governador não carrega.