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NÃO FIQUE DOENTE!

23/11/2025 - 09h40min

Atualizada em 23/11/2025 - 10h13min

Por Cleiton Zimer

Escrevo assim de propósito, mesmo sabendo que ninguém escolhe quando vai adoecer. Mesmo sabendo que esse título parece quase uma ironia num Estado onde, cada vez mais, ficar doente virou sinônimo de entrar numa fila que não anda, ou de enfrentar um sistema que, simplesmente, não funciona.

Nos últimos dias, acompanhei histórias que mostram o tamanho do colapso. Um homem de Santa Maria do Herval, gravemente ferido em um acidente de moto, precisou de cirurgia urgente. Não conseguiu. Só foi operado porque entrou na Justiça, como se fosse preciso convencer o Estado de que salvar uma vida é prioridade. E detalhe: quem vai ter que pagar o procedimento, de qualquer forma, é o Estado. Só que a família teve que desembolsar mais de R$ 6 mil com um advogado, para convencer o Estado do que é preciso fazer. Ora, isso parece mais uma piada.

Outro: um bebê de Lindolfo Collor, com pé torto congênito, precisa de uma cirurgia simples, mas essencial para crescer com dignidade. Não consegue. A família teve que apelar para uma vaquinha porque o Estado, depois de meses, ainda não ofereceu solução. E tantos outros casos que eu já relatei — diferentes nomes, diferentes diagnósticos, a mesma resposta: “não temos vaga”, “não temos equipe”, “não temos previsão”.

E o mais grave é que a gente não pode, com honestidade, alimentar qualquer perspectiva de mudança: nem no futuro próximo, nem no distante. Porque isso sequer aparece entre as prioridades reais do Estado – só de fachada.

Antes de tudo, existe uma cultura de adoecimento da população, alimentada pelo próprio poder público. Não há investimento consistente em prevenção, em bem-estar, em alimentação saudável, em políticas que reduzam a necessidade de chegar ao hospital. O Estado vive podando o problema — nunca a raiz. E nem se prepara para as consequências desse descaso.

E agora, às portas de um ciclo eleitoral que já começa a se movimentar para 2026, o que vemos? Autoridades publicando vídeos, textos e discursos dizendo: “fizemos isso”, “entregamos aquilo”, “avançamos aqui”. Mas, ao mesmo tempo, toda semana recebo mensagens de pessoas que não estão sendo atendidas. E não são casos simples: são casos complexos, graves, que podem destruir famílias inteiras se não houver cuidado imediato. Então, sinceramente, não importa o que tentam mostrar — essa vitrine construída para suavizar a crise não diminui a realidade daquilo que está sendo omitido.

A saúde é a prioridade. Sem ela, a economia colapsa. Sem ela, a educação fracassa. Sem ela, a segurança perde sentido.

É aqui que começa o ponto central desta coluna: um Estado não funciona se a saúde não funciona.

Não há segurança possível quando as pessoas sabem que, ao adoecer, estarão por conta própria. Não há educação forte quando professores e alunos adoecem e não têm atendimento. Não há economia que se sustente quando trabalhadores, depois de anos pagando impostos e contribuindo com esforço diário — muitas vezes em dois turnos — descobrem que, quando precisam do básico, não vão receber.

A saúde é o pilar que sustenta todos os outros. Se ela falha, tudo desaba junto.

Por isso, quando digo “Não fique doente”, não estou dizendo que as pessoas devem evitar adoecer como se isso fosse uma escolha — porque isso seria cruel e irreal. O que estou dizendo é: cuide-se. O máximo que puder.

Priorize sua saúde antes que ela peça socorro.

Alimente-se melhor.

Tente fazer alguma atividade física, mesmo pouca.

Descanse quando der — e às vezes não dá, eu sei, porque a vida não espera.

Mas tente.

Porque, quando a vida nos coloca diante da necessidade de atendimento médico, nós já sabemos como será: o caminho é lento, doloroso, incerto.

“Não fique doente” é quase um grito de alerta para as pessoas, e de protesto ao Estado!

É um pedido para que cada um de nós tente — dentro do possível — assumir pequenas escolhas que podem evitar sofrimentos maiores.

Não porque seja justo.

Mas porque, hoje, é o que resta enquanto esperamos que o Estado cumpra aquilo que deveria ser o mínimo: garantir que ninguém precise lutar para ser atendido quando mais precisa.

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