Conecte-se conosco

Destaques

“A corrupção mata. Mata porque o dinheiro não chega na saúde”, diz superintendente da PF

28/05/2020 - 09h46min

O Rio Grande do Sul é manchete de mais um escândalo de desvios na área da saúde, cuja dimensão ainda é indefinida. Uma força-tarefa cumpriu medidas judiciais em investigação que apura crimes de fraude à licitação, peculato, corrupção passiva, organização criminosa, ocultação de bens, crime de responsabilidade e desobediência.

A “Operação Camilo”, deflagrada pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público Federal e Ministério Público do Rio Grande do Sul, teve como um dos focos o município de Rio Pardo, onde o prefeito e procurador foram presos e a suspeita é que houve um desvio de R$ 15 milhões no hospital de lá, podendo ser ainda maior. Mandados também foram cumpridos em mais municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. Entre alvos dessa megaoperação de dimensão nacional, estão o Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev) e a Associação São Bento, ambas já denunciadas pelo Ministério Público de Dois Irmãos por desvio de milhões na administração do Hospital São José em setembro de 2019. Segundo denúncia do promotor público dois-irmonense, Wilson Grezzana, na época, o Isev criou a São Bento como uma empresa laranja para cometer a ação criminosa de desviar o dinheiro público. Grezzana chegou a apontar desvios de R$ 24 milhões em hospitais administrados pelo Isev, sendo cerca de R$ 6 milhões de Dois Irmãos.

Desvios semelhantes e maiores foram descobertos pela investigação que resultou na força-tarefa de ontem. Conforme os responsáveis por essa megaoperação, a Polícia Federal desvendou nessa investigação um esquema que desviava recursos da Saúde para abastecer empresas e também políticos. Partidos ainda não foram citados. Apesar da ligação do ISEV e São Bento com Dois Irmãos, a operação de ontem não esteve ligada com a cidade.

Investigação já contabiliza R$ 15 milhões

de desvios de recursos públicos

Conforme apurado, o serviço de saúde do Hospital Regional do Vale do Rio Pardo foi terceirizado para uma Organização Social, por meio de um processo de chamamento público direcionado. A instituição vencedora foi escolhida em outubro de 2017 para administrar diversas atividades, como limpeza e sanitização hospitalar, radiologia, exames de imagem e SAMU, entre outros. Uma vez contratada, a Organização Social subcontratou empresas que servem de instrumento de execução de desvio de dinheiro público, especialmente, através do superfaturamento dos valores cobrados pelos serviços prestados e pela não execução de partes de suas obrigações contratuais. As provas coletadas até o presente momento indicam a existência de um esquema criminoso que conta com a participação dos gestores da Organização Social, de empresas privadas e de servidores públicos (cujos nomes ainda não foram revelados). De novembro de 2017 até fevereiro de 2020, foram destinados ao hospital de Rio Pardo cerca de R$ 60 milhões em recursos federais e estaduais. Desse valor, R$ 30 milhões foram repassados pela Organização Social às empresas subcontratadas. Até o momento, a Força-Tarefa apurou superfaturamento de valores repassados às empresas subcontratadas de aproximadamente R$ 15 milhões. “Essa operação traz satisfação, mas também muita tristeza. A corrupção mata. Mata porque o dinheiro não chega na melhoria da estrada, na saúde, na compra de respirador, enfim. A operação é isso: dinheiro desviado que não chegou na ponta, no paciente”, disse o Superintendente Regional da Polícia Federal (PF), José Antônio Dornelles de Oliveira.

Conteúdo EXCLUSIVO para assinantes

Faça sua assinatura digital e tenha acesso ilimitado ao site.