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À espera do primeiro filho, estancienses buscam moradia

11/11/2020 - 09h43min

Casal está vivendo na rua há cerca de dois meses, mesmo tempo que Dienifer está grávida (Crédito - Jéssica Ramos)

Estância Velha – Uma mochila com documentos, uma muda de roupas e um telefone: esses são os bens de Fabiano Sarmento, 40 anos, e Dienifer Leal Paula, 18 anos, casal que está vivendo na rua, desabrigado, há cerca de dois meses.

O casal, que se conheceu no início deste ano, clama por ajuda, principalmente porque Dienifer descobriu que está grávida de dois meses e, nas atuais condições, lamenta não ter a garantia sequer de um prato de comida.

Uma história marcada por crises

Fabiano e Dienifer mostram os documentos que comprovam a gestação do primeiro filho do casal (Crédito – Jéssica Ramos)

Dienifer conta que é de Estância Velha, mas foi criada pela avó por ter tido problemas com a mãe. Segundo a jovem, a infância foi sofrida, teve intervenção do Conselho Tutelar e ela vivenciou idas e vindas da casa da mãe, fato que a faz preferir o afastamento da família.

O único laço afetivo que a jovem mantém é com a avó que a criou, mas, em virtude da distância não há como contar com a ela. “Minha avó mora longe e tem despesas com meu avô que enfrenta problemas de saúde”, conta Dienifer.

A jovem diz que encontrou em Fabiano a proteção que lhe faltou em casa, e Fabiano, por sua vez, uma companheira para a vida, ainda que sofrida como tem sido. De acordo com o casal, as dificuldades acabaram unindo os dois.

Fabiano, cearense de Iguatu, relata que vivia da agricultura e, por conta das dificuldades que enfrentava na cidade, decidiu tentar a sorte como vendedor ambulante em 2014.

Conversou com um primo que morava no Rio Grande do Sul e saiu em busca de uma qualidade de vida melhor. Trabalhou em São Paulo, Santa Catarina, e no Rio Grande do Sul, em Estância Velha. Porém, com a pandemia, as vendas decaíram ao ponto de o cearense perder o emprego.

Em função disso, o casal, que não conseguiu mais emprego, está morando na rua, buscando abrigo em paradas de ônibus e terrenos baldios, ao menos para dormir. Mas não têm acesso a água nem energia elétrica.

“Ninguém quer viver numa situação dessas, ainda mais com a mulher grávida, mas nem tudo na vida é como a gente quer. Para não fazer nada de errado, dependemos do que Deus quiser e da ajuda de pessoas”, diz Fabiano.

Segundo o cearense, o desejo dele e da esposa é ficar em Estância Velha, conseguir uma casa morar e um emprego. “Para Iguatu não quero voltar, se aqui está difícil, imagina lá onde nem chover, não chove”, afirma.

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Mobilização

A realidade de Fabiano e Dienifer tem mobilizado pessoas na cidade. Gisele Siqueira é uma delas. A estanciense conheceu o casal há uma semana e, desde que soube que Dienifer está grávida, conta que tem se dedicado para ajudar o casal.

Gisele diz que angariou móveis usados com amigos e familiares, está acompanhando a situação do casal, torcendo para alguém, ou mesmo as autoridades locais, consigam atender à demanda de Fabiano e Dienifer.

Desenvolvimento Social diz que já atendeu o casal

Contatado sobre o caso de Fabiano e Dienifer, o secretário de Desenvolvimento Social de Estância Velha, Gerson Moraes, afirmou que a situação do casal é complexa.

Segundo ele, a jovem apresenta uma medida protetiva no fórum de Estância Velha. Além disso, devido a dificuldades psicológicas e sociais no convívio com a família e na escola, ela teria sido acompanhada pelo Conselho Tutelar.

Já com relação a Fabiano, Moraes diz que o cearense foi acompanhado quando ainda estava em situação de rua (em outro momento) e lhe foi ofertado um acolhimento institucional, mas ele não aceitou e alugou uma casa para morar com Dienifer.

O casal teria recebido também uma cesta de alimentos e uma de material de limpeza e higiene, quando acionaram a secretaria de Desenvolvimento local e informaram que tinham moradia, segundo explicou Moraes.

O secretário explicou que o atendimento a pessoas em situação de rua segue um protocolo, onde é feita uma abordagem inicial; cadastro; e estudo social. “Em muitos casos as pessoas retornam para sua cidade de origem, através da compra de passagens”, explica Moraes.

Abrigo durante a pandemia

Moraes destaca que Estância Velha instalou uma casa contêiner para os cidadãos em situação de rua, com alimentação e encaminhamento, caso necessário, para Comunidades Terapêuticas conveniadas com a Secretaria.

Segundo o secretário, as medidas foram tomadas mediante solicitação do Ministério Público Federal, que decretou que durante a pandemia do novo coronavírus as pessoas não poderiam estar em situação de rua.

“Mas, como a adesão não é obrigatória, muitas pessoas preferem ficar morando na rua, mantendo seus vícios e não tendo responsabilidade com higiene e horários. É um problema crônico enfrentado pela sociedade moderna e a tendência é piorar pela pandemia e pela situação econômica do país. Importante ressaltar o direito de ir e vir das pessoas e os direitos humanos”, destacou Moraes.

De acordo com ele, a casa contêiner, instalada em Estância Velha, tem luz, água, banheiro e disponibiliza alimentação. Além disso, a Secretaria fornece também roupas e passagens; e encaminhamento por nove meses para Comunidades Terapêuticas, visando a recuperação do vício em álcool e drogas.

A casa contêiner fica na rua João Quaresma da Silva, nº 251, bairro Encosta do Sol, junto à Comunidade Terapêutica Luz na Madrugada.

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