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Advogado denunciado por ligação com facção criminosa é preso
Porto Alegre – O advogado Anderson Figueira da Roza, que atua na defesa de Igor Schonberger, condenado por tentar matar a ex-namorada, em Lindolfo Collor, foi preso na tarde desta segunda-feira, pelo Ministério Público e pela Delegacia de Capturas do Departamento de Investigações Criminais (Deic).
Ele foi denunciado, na semana passada, por levar informações importantes a líderes da facção Bala na Cara, que, inclusive, planejava matar um juiz de Porto Alegre, que atua em mais de 60 processos de homicídio em que integrantes da facção estão envolvidos.
RELEMBRE
Três advogados, que formam o braço jurídico de uma facção criminosa, e outras 11 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público por integrarem organização criminosa. O grupo é suspeito de ameaçar testemunhas, coagir policiais e planejar a morte de um juiz, que cuida de mais de 60 processos de homicídios praticados por integrantes dos Balas na Cara.
Um dos advogados que virou réu é Anderson Roza, advogado do morador de Lindolfo Collor, Igor Rafael Schonberger, acusado de tentar matar a ex-namorada, em novembro de 2016. Roza é um criminalista de renome no Estado, que atua na defesa de Edelvânia Wirganovicz, a assistente social acusada de participar da morte do menino Bernardo Boldrini, e de um dos lideres da facção Bala da Cara, José Dalvani Nunes Rodrigues, vulgo Minhoca.
Além dele, segundo o portal GaúchaZH, os advogados Anderson da Cruz e Anderson Rembowski também faziam parte da organização criminosa e viraram réus.
NOTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Após investigação realizada em conjunto entre o projeto-piloto da Promotoria de Justiça Especializada no Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro e Organização Criminosa, da Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Delegacia de Capturas, foi oferecida denúncia à Justiça contra três advogados que formam o braço jurídico de uma facção criminosa e outras 11 pessoas ligadas a essa organização. Eles foram denunciados por embaraço à investigação e ainda por integrarem organização criminosa. A 1ª Vara Criminal do Foro do Alto Petrópolis recebeu a denúncia em relação à organização criminosa.
Foram acatados os pedidos liminares do MP para o bloqueio dos veículos e de contas bancárias dos três advogados e do líder da organização criminosa investigada. No momento do bloqueio, aproximadamente R$ 36 mil estão indisponíveis. Ainda, os advogados tiveram suspensas as atividades econômicas e profissionais, bem como suas inscrições junto à OAB. Além disso, houve a quebra do sigilo financeiro e fiscal dos suspeitos.
O MP apresentou recurso para que a denúncia seja recebida também em relação ao crime de embaraço à investigação, bem como ao pedido de prisão preventiva de dois dos advogados, que não foi determinada pelo Judiciário.
INVESTIGAÇÕES
As investigações foram realizadas com apoio do Núcleo de Inteligência e do Centro de Apoio Operacional Criminal, ambos do MP, bem como da Polícia Civil. Em uma das situações, um dos advogados forneceu o rol de testemunhas do processo para os líderes da facção, dizendo que, se três delas não depusessem, o caso estaria ganho. Houve ameaças verbais de morte às testemunhas, para que não comparecessem ao Fórum, tanto que, desde 2016, apesar de procuradas por diversas vezes, não foram localizadas pela Justiça. Também ocorreram coações a policiais civis.
Em outra circunstância, um dos líderes da facção solicitou a um dos advogados para que informasse a rotina do juiz que preside os processos contra ele e sua companheira, que também faz parte da organização criminosa, para a possível organização de um atentado. O fato foi comunicado à época ao setor de segurança do Poder Judiciário.
Os advogados também, em combinação com a facção, forjavam documentos para reaver quantias apreendidas pela Justiça no combate ao tráfico de drogas.
DIÁLOGOS
Os diálogos abaixo serão transcritos respeitando a digitação tal como foram interceptados.
Um dos advogados pergunta ao líder da facção:
Advogado: Queria ver um outro assunto contigo. Tenho um parente que fez uma ***** de começar a ***** uma mulher casada e o marido descobriu. Agora tá ameaçando de matar ele. Como esse cara é muito maior que ele, esse parente tá ******. Tua gurizada faria esse serviço? E quanto sai?
Líder da facção: Depende ke (sic) ele ker(sic) fase(sic) (depende o que ele quer fazer).
Advogado: Ele quer que o cara desapareça do mundo.
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Um dos advogados encomenda morte de testemunhas para conseguir absolvição em caso de homicídio:
Advogado 1: Tem como chegar nessa mulher e fazer ela calar a boca? Daqui a pouco te mando o depoimento dela completo.
Líder da facção: Ta.
(…)
Advogado: Tá mole de liquidar se ela calar a boca.
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Líder da facção pede para advogado conseguir os nomes dos policiais que iriam depor em audiência.
Líder de facção: tem que ver os nome dos polícia que vão na audiência.
Advogado: amanhã voltarei lá.
Líder de facção: Presiso. Vô pega eles.
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Líder da facção pergunta para advogado se o juiz que presidia um processo contra a mulher dele costumava ir em um clube onde poderia acessar com jet ski.
Líder: kual é akele club que tu vai na ilia do Guaíba?
Advogado: União
Líder de facção: Párese que o gremista vai la, nunca vio ele la
Advogado: vai. Já vi umas três vezes. Mas na sede de Poa.
Líder de facção: so isto keria confirma. Tem seguramsa? Nao vamos fala muito, pra nao te encomoda. So keria ter sertesa.
Advogado: ok. Tem que pegar a barca. Em Poa não. Difícil saber quando ele vai.
Líder de facção: ele ten segurasa?
Advogado: nunca vi.
Advogado: si vi sozinho e com filho.
Líder de facção: to emvestigando ele.
Líder de facção: se ele condena ela de grasa vai paga caro.
Advogado: jogo do Grêmio ele vai.
Líder de facção: kero ve ce gobernó vas trase a vida dele de volta.
Líder de facção: mas no jogo mira jemti. Na ilia con ver iski (se refere a Jet ski). E fácil.
Advogado: verdade. Na sede da ilha, nunca vi.
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Advogado e integrante de facção conversam ao telefone sobre aparelho celular apreendido pela Polícia Civil no momento da prisão do líder:
Integrante da facção: bom dia, doutor.
Advogado: E aí, tudo bem? Tô tentando falar com ele e não estou conseguindo.
Integrante da facção: Ô, doutor, no caso, ele caiu lá.
Advogado: Jura?
Integrante da facção: Juro.
Advogado: Tô indo comprar a passagem pra mãe dele voltar, a mãe dele tava lá.
Integrante da facção: A mãe dele tava lá, seguiram, né.
Advogado: Aham. Ainda ontem avisei. Putz, as mensagens que eu to mandando.
Integrante da facção: ta tudo caindo no telefone dele, eles estão com tudo, o irmão falou.
Advogado: P** que p****, pegaram com o telefone junto?
Integrante da facção: bah, doutor, no caso, acho que pegaram com tudo lá, entendeu?
Advogado: bah, me f***, será que ele apaga, cara?
Integrante da facção: É muito difícil, tem vez que ele já deu uma discutida aqui, ele manda as conversas tudo de volta, entendeu?
Advogado: bah, acho até que vou ser preso, tá louco.