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Agricultor conta como, com a ajuda de seu cão, encontrou o corpo de homem que matou a ex em Nova Petrópolis

27/01/2020 - 13h50min

Atualizada em 28/01/2020 - 16h18min

Nova Petrópolis – Na tarde de sexta-feira, 24, por volta das 16h, chegaram ao fim as buscas por Dirceu Miguel Groth, 35 anos. O resultado era aquele que muitos já imaginavam, ele cometeu suicídio após esfaquear e matar a ex-mulher, Rosane Marlise Birck Groth, de 37 anos.

Dirceu era o único suspeito do feminicídio cometido por volta das 07h da manhã de segunda-feira, 20, na Estrada do Pinhal. Ele foi visto passando de carro em direção ao local do crime, e uma cunhada de Rosane, testemunha do caso, estava no veículo com a vítima e viu Dirceu se aproximar com uma faca e uma marreta.

Rosane denunciou Dirceu na lei Maria da Penha em outubro (Créd.: Divulgação)

Desde então, estava desaparecido e na condição de foragido, pois um mandado de prisão preventiva havia sido expedido ainda na tarde de segunda-feira.

Inácio Algayer achou o corpo após notar a presença de urubus (Créd.: Dário Gonçalves)

Durante toda a semana, polícia e moradores locais estavam mobilizados nas buscas ao homem. E coube ao Preto, o cachorro do agricultor Inácio Algayer, por fim à procura na tarde de sexta-feira.

Inácio contou que estava em sua casa, quando começou a ver a movimentação de alguns urubus na área. “Peguei meu facão e meu cachorro e decidi ir pro mato procurar”, comentou.

E assim fez. Inácio e Preto seguiram em direção à pista que vinha do alto. No caminho, uma estrada que se dividia. Em frente, a Estrada do Pinhal, local da fatalidade. Mas era à direita que as aves indicavam que algo poderia estar ali.

Os dois entraram e foram caminhando pela pequena estrada e pouco à frente, uma nova estradinha, também à direita.

“Na hora eu esqueci tudo, não sabia número de Polícia Civil, de Brigada Militar, de nada. Fiquei impressionado”

Ao tomarem o novo rumo, Preto já começou a ficar inquieto. Andaram um pouco mais e chegaram a uma área de muitos eucaliptos, mata em declive e de difícil acesso, pois não havia muitos caminhos por entre os matos.

E foi ali, no alto da mata, que Preto começou a acoar e indicar onde estaria o corpo. “Quando chegamos aqui, ele já começou a latir muito em direção lá pra baixo. Soltei ele e ele foi correndo e latindo. Chegou direto no local e achou o corpo”, contou Inácio.

Preto foi o responsável por achar o corpo (Créd.: Dário Gonçalves)

O agricultor seguiu o cachorro e encontrou Dirceu caído de bruços em um ponto onde havia, inclusive, algumas árvores fazendo um arco, sobre o corpo, como se fosse preparado para esconder.

Não quis chegar muito perto devido ao cheiro e por não querer ver sem vida aquele que até poucos dias era um vizinho comum, que nunca tinha apresentado nenhum sinal de anormalidade. “Depois que achamos, voltei e pedi pra um garoto avisar a polícia. Na hora eu esqueci tudo, não sabia número de Polícia Civil, de Brigada Militar, de nada. Fiquei impressionado”.

Polícia Civil e Brigada Militar chegaram praticamente juntas e isolaram o lugar. Neste momento, muitos conhecidos já estavam no local, inclusive o pai e o irmão de Rosane. Ao lado do corpo, foi encontrada uma pequena faca, que os policiais logo duvidaram que havia sido a arma do crime, primeiro por estar praticamente limpa, e segundo por ser pequena demais.

Moradores ficaram sem dormir

Vizinhos fizeram buscas pela região todos os dias (Créd.: Dário Gonçalves)

Enquanto a perícia era aguardada, os moradores locais conversavam sobre como haviam sido os últimos dias. Adair Weber conta que ficou sem dormir por dias, devido às buscas. Ele trabalha durante a noite para Luiz Birk, irmão de Rosane. No domingo, saiu para trabalhar normalmente e ficou sabendo do que aconteceu pela manhã.

A partir daquele momento, a procura começou e durante toda a segunda-feira, ele não dormiu. Quando a noite chegou, ele foi trabalhar, e na manhã seguinte, terça-feira, 21, tudo recomeçou, buscas durante o dia, trabalho durante a noite. E assim, somente na quarta-feira é que ele foi descansar.

Outros moradores falaram que estiveram próximos do local onde Dirceu foi encontrado, mas nada acharam. “Nós passamos aqui perto, mas não vimos. Choveu durante a semana e isso fez com que o cheiro não se espalhasse, mas eu sabia que só começa a criar odor a partir do quarto dia, como foi hoje”, disse outro vizinho.

Busca pela arma do crime

Primeira faca encontrada não era compatível com os cortes (Créd.: Dário Gonçalves)

A pequena faca encontrada não convenceu os policiais de que aquela seria o objeto usado contra Rosane e ele mesmo. Mas como não era permitido mexer no corpo até a chegada da perícia, um policial civil decidiu tentar entender o caminho traçado por Dirceu e encontrar alguma outra faca. Com a ajuda de Inácio Algayer, dono do cachorro que encontrou o acusado, ele subiu até o topo da colina buscando rastros, mas nada foi encontrado.

Perdas

Os vizinhos contaram que embora conhecessem há anos, o contato não era muito grande, pois, segundo eles, Dirceu só pensava em trabalhar. Ele não gostava de socializar, preferia ficar em casa e não ia nos bailes da comunidade.

“As vezes é nesses que temos que tomar cuidado, porque ficam muito reclusos. Ele não saía, só pensava em juntar dinheiro e tinham construído uma casa que vale R$ 400,00 mil. Ele tinha tudo, casa, carro e família, agora era só viver”, disse um dos moradores que estavam no local.

Outro agricultor disse que Dirceu vivia dias difíceis. Pois uma noite ele estava em casa e a Polícia chegou com a medida protetiva de Rosane e o filho, e ele precisou sair imediatamente da casa. Dali em diante ele não tinha onde morar e quase não tinha o que comer, “ela queria ficar com tudo”, chegou a comentar o agricultor.

Possível causa da morte

O Instituto Geral de Perícias (IGP) chegou ao local por volta das 18h de sexta-feira. Ao mover o corpo, foi encontrado sob suas pernas uma segunda faca, essa sim maior e compatível com a bainha encontrada na cena do crime, na segunda feira.

A forma como o corpo estava caído e a posição onde estava caída a faca, indicam que Dirceu teria se ajoelhado e, com a mão esquerda, passou a faca em seu pescoço, caindo em seguida.

(Créd.: Dário Gonçalves)

O corpo foi retirado pela perícia e encaminhado ao IGP de Caxias do Sul. O irmão de Dirceu esteve no local e foi consolado pelos moradores, inclusive pelo pai e o irmão de Rosane. Ele foi velado no necrotério de Roncador no sábado, 25.

Buscas estavam por ser encerradas

Ainda na manhã de sexta-feira, a Polícia Civil foi ao Pinhal Alto checar uma informação de moradores quanto a presença de urubus na área. Chegando ao lugar indicado, tratava-se apenas de carniça animal, por isso a grande presença das aves.

Suspeitas de que pudessem haver um corpo no local (Créd.: Dário Gonçalves)

No dia anterior, quinta-feira, a Polícia recebeu uma denúncia de que Dirceu estaria escondido em uma residência no Pinhal Alto, mas também nenhum indício foi encontrado no local. Até mesmo uma suspeita de que ele teria sido visto no litoral chegou à polícia. Como nenhuma pista era concreta, os policiais já cogitavam encerrar às buscas na sexta-feira e cogitavam a ideia de que ele havia fugido recebendo cobertura de alguém.

(Créd.: Dário Gonçalves)

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