Destaques
Alta do índice de reajuste dos aluguéis preocupa também na região
Ivoti – Métrica utilizada para o reajuste dos aluguéis no País, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) teve alta acumulada de 23,14% entre janeiro e dezembro de 2020. Foi o maior valor desde 2002. E isto preocupou o setor, em razão do período de renegociações de contratos, em um período de crise econômica e queda na renda, ambos potencializados pela pandemia.
O IGP-M tem como característica principal ser baseado nos preços para o setor produtivo, como indústria, agropecuária e construção civil. “Contemplar o aluguel no IGP-M foi pela percepção de que o índice espelha uma visão global do sistema econômico. Com isso, os contratos protegem o locador”, explica o economista da Universidade Feevale, José Antonio Ribeiro de Moura.
Para evitar sustos, tem-se recomendado haver equilíbrio na hora de negociar os reajustes, a fim de trazer uma solução que seja favorável para ambas as partes. Ainda assim, o Secovi/RS, sindicato que representa o mercado imobiliário gaúcho, diz que não observou um aumento significativo nos pedidos de renegociação neste momento.
“Varia muito de situação para situação. Existem inquilinos que ainda estão dentro de uma situação normal, então não vão pedir renegociações. Quem pede é aquele que está em algum momento mais em dificuldade”, afirma o assessor jurídico do Secovi/RS, Tiago Strassburger. Na visão dele, a observação é de que as negociações feitas até o momento têm demonstrado êxito.
Tendência ainda duradoura de renegociações
A tendência, segundo Strassburger, é que esta tendência de renegociações deve permanecer até o final deste trimestre. Para se ter uma ideia do custo, a alta de 23,14% no IGP-M significa que os contratos com vencimento em janeiro de 2021 já poderiam ter o valor multiplicado em 1,2314 vezes. Ou seja, um aluguel que custa R$ 500 por mês pode passar a R$ 615,70.
Alguns locadores têm lançado mão de alternativas para evitar o aumento repentino. Foi o que fez a QuintoAndar, que aluga imóveis em todo o País de forma digital. Em novembro de 2020, a imobiliária anunciou que deixaria o IGP-M para referenciar os reajustes e passaria a utilizar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, que subiu 4,52% em 12 meses.
Na Encosta da Serra, o movimento tem sido feito de forma parecida. Sócio-proprietário da Imobiliária LandHaus, de Ivoti, Sérgio Dhein, diz que estão havendo mais negociações com os inquilinos. “90% dos contratos estão sendo negociados para baixo. A pandemia também preocupa, então temos que levar isto em conta”, pontua ele. A empresa aluga 500 imóveis na região.
“Aumento foi muito ruim”, diz inquilina
A empresária Simone Mattos mora na Av. Presidente Lucena, no bairro Centro, em Ivoti, onde também aluga um imóvel comercial. Ela avalia que, na negociação com a proprietária dos dois imóveis, tanto comercial quanto residencial, não teve dificuldades. No entanto, a casa da mãe que mora no Bairro Farroupilha, que está alugada diretamente com a imobiliária, gerou uma negociação mais complicada. “Acho que este aumento foi muito ruim, não precisava haver em 2021. Foi um valor absurdo”, critica ela.
Até então, Simone pagava cerca de R$ 1.860 de aluguel na residência da mãe, valor que seria reajustado para cerca de R$ 2.230. Ela negociou, e a imobiliária diminuiu o preço final para algo em torno de R$ 2.050.
“As imobiliárias aproveitaram este momento ímpar para aumentar, agora que as pessoas passaram a procurar um lugar maior para morar, em razão do home-office”, disse ela.
“90% dos contratos estão sendo negociados para baixo”
As causas para o aumento do índice
Por que o índice subiu tanto? “O IGP-M, neste período, refletiu o forte aumento dos preços das commodities, principalmente minério de ferro, soja, carne bovina e combustíveis, provocada pela desvalorização do real, visto que elas são atreladas ao dólar. Sendo assim, este aumento era esperado”, comenta Moura. Segundo ele, o real perdeu um terço do valor em um ano.
A mudança de métrica tem sido levada em conta também, por exemplo, em outras situações, como no cálculo do IPTU dos municípios, onde não há um padrão definido. Em Estância Velha, a Administração optou pelo IPCA para reajustar o imposto nos mesmos 4%. Já em Linha Nova, a Prefeitura usou o IGP-M de setembro de 2019 a agosto de 2020 (13,02%).
Bom-senso é a palavra-chave
No caso dos aluguéis, Moura opina que deve prevalecer o bom-senso entre as partes. “Locador e locatário devem olhar para a relação entre eles. Pagamento em dia, eventuais problemas no imóvel resolvidos harmonicamente e, principalmente considerando o momento que exige muita reflexão, sendo a perda da renda a mais evidente”, comenta o economista.
Já Strassburger, do Secovi, pondera que muitos locadores têm determinado imóvel como sua única fonte de renda. “Se, de um lado, tem alguém com dificuldade, do outro tem também quem precisa do aluguel. O interesse é que ambos sejam sinceros e francos, e de valorizar que os negócios continuem, e assim, possamos recuperar nossa capacidade econômica”, argumenta ele.