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Aluno precisa encontrar alternativas para estudar sem acesso à internet em Herval

01/09/2020 - 15h44min

Sem acesso à internet Deivid pega os matérias impressos na escola com ajuda dos pais e professores; estuda em casa, na cozinha, ao lado da avó, do pai e do irmão. (Créd. Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – Nesse momento as aulas remotas são a única alternativa para a educação, mas, nem todos têm acesso à tecnologia por uma série de fatores, como é o caso de Deivid Eduardo Zahler, 14 anos, que mora na localidade de Linha Marcondes, próximo à divisa com Gramado e não tem sinal de internet de qualidade.

A casa fica em um local isolado, entre os vales do município; por isso o sinal de dados móveis é precário o que impede o acesso às aulas virtuais dos professores. Seu pai Márcio Vanderlei Zahler, 39, tentou instalar internet com a empresa local, porém, foi informado da impossibilidade pois o sinal dos repetidores não chegaria até a residência. Outra alternativa seria a internet via satélite, mas que no momento não cabe no orçamento da família de agricultores.

Nenhum desses obstáculos impede Deivid de continuar nos seus estudos. Logo quando as aulas foram retomadas remotamente ele e seu pai tinham que ir até a escola para pegar o material impresso. O trajeto, ida e volta, é de 16 quilômetros. Passado algum tempo encontraram outra maneira; agora sua mãe Patrícia, que trabalha em uma fábrica de calçados no Centro leva o material até a indústria e, a coordenadora da escola Fabiana Foppa Bassegio o busca, deixando novos conteúdos na Padaria Kielling, logo ao lado da fábrica, onde a mãe os retira.

Agora a mesa onde Deivid estuda é a da cozinha de casa (Créd. Cleiton Zimer)

Método tradicional

Dessa forma, enquanto que a maioria dos estudantes ingressou na “era digital” durante a pandemia, Deivid teve que aderir ao método mais tradicional – assim como outros alunos também. Mas faz falta para ele ter contato com os professores, por isso, às vezes vai à casa da sua avó em Boa Vista do Herval e, lá, tem acesso à internet e consegue acompanhar as vídeo aulas.

Caso isso não seja possível, vai a pé até a casa de um dos seus vizinhos que fica há cerca de um quilômetro, onde também tem acesso. Sempre que faz isso leva seu irmão David, cinco anos, que o acompanha aonde vai. “Eu cuido dele. Levo meu celular junto e, lá, o deixo ele brincar enquanto faço minhas coisas”, conta.

Uma das alternativas de Deivid é ir usar a internet na casa de um vizinho; ele cuida do seu irmão menor e o leva junto (Créd. Cleiton Zimer)

Ajudando na roça e sendo exemplar

Ele também trabalha na roça, ajudando seu pai e avó Valida de 62 anos colhendo milho, cortando lenha, plantando cebolas. “Eu gosto de trabalhar na roça”, afirma, sorrindo. Para quem pensa que o trabalho dele na lavoura o atrapalha nos estudos está enganado. Na verdade, ele demonstra destreza, tendo uma média muito boa; 80 na maioria das matérias. Deivid está no nono ano e, a disciplina que mais gosta é matemática, além de ciências. “Só sinto falta dos amigos”, lamenta. A avó Valida o elogia, dizendo que realmente é um aluno muito aplicado e, que as dificuldades desse momento não diminuíram seu empenho.

O pai Márcio considera que é uma situação complicada, mas que não há o que fazer. Diz que o filho está até mesmo estudando mais agora do que antes. “Estão vindo muito mais atividades para casa; eles mandam muitas coisas”.

Se reinventando

A coordenadora da escola Fabiana Foppa Bassegio diz que estão fazendo de tudo para que todos os alunos consigam ter acesso às aulas. “Para os que não têm como acessar o Classroom, enviamos as atividades impressas”. Da mesma forma, estão imprimindo o material para as crianças menores e toda semana os pais vão retirar na escola, com os devidos cuidados. “Os que têm acesso, enviam para os professores; os que não, nos trazem na semana seguinte, tiramos fotos e enviamos para os profes”, conta.

Fabi conta que seria muito bom se todos tivessem acesso à tecnologia, assim, os mestres estão tendo que se reinventar. “Os professores estão de parabéns. Todos compraram quadros, gravam aulas; se colocam à disposição dos pais e alunos para tirar dúvidas, ajudar nas dificuldades, cobrar atividades que não foram entregues no prazo”.

Ela conta que há outros alunos na situação do Deivid, mas, são poucos.

 

 

 

 

 

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