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Assalto que terminou em morte em Feliz foi comandado de dentro da cadeia

08/09/2020 - 09h36min

Atualizada em 08/09/2020 - 09h48min

Feliz/São José do Hortêncio – O assalto que terminou com a morte do representante comercial, na última quinta-feira, no Centro de Feliz, foi coordenado por um presidiário. A revelação foi feita por policiais militares que participaram do cerco a quadrilha, no limite de Presidente Lucena com São José do Hortêncio, entre a manhã de quinta e madrugada de sexta, quando os dois últimos homens que participaram do crime foram presos.

A identificação de Wesley David Serafini, o Alemão Dili, 20 anos, e Alan dos Santos Dias, o Cavalinho, 21 anos, que estavam no mato, e os detalhes da ação foram obtidas pelos policiais no começo da tarde de quinta, quando Luiz Fernando Silveira de Borba, 26 anos, assaltante preso pela manhã, na divisa de Presidente Lucena com Ivoti, decidiu colaborar com a investigação, depois que sua participação no assalto ficou cristalina.

O criminoso narrou que tanto ele – que não tinha nenhum antecedente criminal até então -, quanto os comparsas que estavam no mato, eram inexperientes em roubo à joalheria, e contavam com a orientação de um quarto criminoso, que encontra-se preso. Através de mensagens via WhatsApp, o detento deu dicas de como deveriam agir e orientou sobre os cuidados que precisavam ter.

Demonstrando certo conhecimento do local que seria atacado, o presidiário alertou os comparsas sobre a existência de câmeras no entorno da ótica Pérola. Também pediu para que os dois bandidos que invadiram a loja ficassem atentos para os pontos em que estavam instaladas as câmeras de monitoramento internas da joalheria.

Quando a Polícia Civil pedir a quebra do sigilo telefônico dos criminosos, terá acesso ao conjunto de mensagens trocadas entre o presidiário e os assaltantes.

POR QUE BM MANTEVE CERCO

Luiz Fernando colaborou com a investigação (FOTO: ISAÍAS RHEINHEIMER)

Os esclarecimentos de Luiz Fernando também foram determinantes para a Brigada Militar manter o cerco na divisa de Hortêncio com Presidente Lucena. O leopoldense explicou que após o assalto iniciaram a fuga em dois carros, uma Duster e um Ônix. A caminhonete foi abandonada na localidade de São Roque, no interior de Feliz, próximo a divisa com Linha Nova. Os dois bandidos que estavam na Duster, então, embarcaram no Ônix, que era dirigido por Luiz Fernando.

Quando a quadrilha descia o último trecho da rua Constantino Guerino Lippert, pouco antes da ponte sobre o rio Cadeia e próximo da VRS 865, em Presidente Lucena, Alemão Dili e Cavalinho observaram a movimentação de viaturas da BM na estrada à frente, na localidade do Lichtenthal, e ordenaram que Luiz Fernando entrasse em uma estrada secundária.

Entretanto, como não conheciam a região, acabaram entrando em uma rua sem saída, que dava acesso a uma propriedade particular. Com medo de seguir adiante, Alemão Dili e Cavalinho desceram e se embrenharam no mato, na região de Capela do Rosário, em São José do Hortêncio. Luiz Fernando foi orientado a seguir em frente e usar a desculpa de que era Uber, caso fosse abordado pela polícia.

Para a BM, saber que a dupla havia ido para o mato, sem ter outro carro de apoio, foi o código para manter e ampliar o cerco na região. Se valendo da experiência de policiais que conhecem bem o interior de Presidente Lucena e Hortêncio, apesar da imensidão de mata existente, a área foi isolada.

A prisão aconteceu quando resgate chegou

Cerca de 80 policiais participaram do cerco (FOTO: BM)

A BM sabia que, devido às características do lugar, os criminosos só conseguiriam fugir dali com a ajuda de terceiros, e de carro. Por isso, cerca de 80 policiais militares, até mesmo um pelotão do Batalhão de Choque de Porto Alegre, foram empregados na missão. O patrulhamento das estradas vicinais e campanas em pontos estratégicos foram algumas das táticas da BM para o êxito da ação. Um helicóptero também auxiliou nas buscas durante a tarde.

Depois de um dia inteiro sem grandes novidades, apenas com a certeza de que os bandidos estavam no mato, a situação começou a esquentar com o cair do dia. Por volta das 19 horas, o primeiro carro que resgataria Alemão Dili e Cavalinho foi interceptado pela BM, próximo a saibreira em Presidente Lucena. A estrada é caminho para Capela do Rosário. O homem, que estava em um Prisma Maxx preto, alegou ser Uber e disse que havia sido contratado para fazer uma corrida para Novo Hamburgo. O nome dele não foi divulgado.

A prisão do restante da quadrilha aconteceu a 1h20 de sexta-feira, próximo a ponte sobre o rio Cadeia, quando o segundo carro de resgate chegou. No Fiat Idea estavam Patrick Varela, 30 anos, e Ilham Rodrigues da Silva, 19 anos. Eles foram abordados na Estrada Geral, após policiais que faziam campanas no mato, identificarem a circulação do carro pelo interior. Os dois confessaram que estavam ali para resgatar Alemão Dili e Cavalinho.

Carro usado de isca

Com isso, a BM preparou a cartada final ao cerco. Monitorados, Patrick e Ilham passaram a rodar pela Estrada Geral até que os comparsas que estavam no mato “brotassem”. A isca deu certo. Assim que Alemão Dili e Cavalinho saíram do mato para embarcar no carro que estavam Patrick e Ilham, os policiais militares os renderam.

Alemão Dili e Cavalinho estavam usando coletes a prova de balas no momento da prisão. Eles também estavam armados com uma pistola 9mm e um revólver calibre 38. Tinham, ainda, dois carregadores, com 32 projéteis de calibre 9mm. O revólver que estava com Cavalinho havia sido furtado em 2008, em São Francisco de Paula. Com a dupla que veio fazer o resgate, a BM apreendeu um rádio na frequência da polícia. Também foram apreendidos com os assaltantes sete relógios roubados na Ótica Pérola.

“Foi desgastante, frio, molhado, mas no final, fora a situação da morte, deu tudo certo”, pontuou o comandante da BM de Ivoti, tenente Erlon Cesar de Paula, que coordenou a missão, em parceria com seus superiores. Foi o tenente que opinou pela manutenção do cerco policial, já que as chances de capturar os bandidos era grande. O comandante ressaltou, ainda, que a dupla que estava no mato não chegou a fazer moradores reféns ao longo do dia, um dos principais receios da BM durante todo o cerco. “Não deu tempo, mas acredito que poderiam estar indo pra esse caminho”, sublinhou.

Armas e coletes apreendidos com Cavalinho e Alemão Dili
(FOTO: BM)

Relembre o caso

Edevaldo Tonatto foi morto no assalto

O assalto que terminou em morte aconteceu por volta das 9 horas da última quinta, na Ótica Pérola, na esquina das ruas Pinheiro Machado com Maurício Cardoso. Cavalinho e Alemão Dili invadiram o local e renderam o dono da joalheria e o representante comercial Edevaldo Tonatto, 53 anos.

Tonatto reagiu e foi baleado com dois tiros, um na altura do pescoço e outro no tórax. O morador de Erechim chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital local. Natural de Barão do Cotegipe, Tonatto era casado e tinha quatro filhos.

 

FOGO AMIGO

Cavalinho foi baleado pelo comparsa, Alemão Dili

O assalto teve um episódio conhecido como “fogo amigo”. Durante a luta corporal entre os bandidos e o vendedor de joias, que acabou morrendo, o assaltante Alan dos Santos Dias, o Cavalinho, foi baleado pelo comparsa Wesley David Serafini, o Alemão Dili. O tiro quebrou seu braço esquerdo. Após ser preso, Cavalinho foi levado ao hospital de Feliz e, no começo da tarde de sexta, foi transferido para o Hospital Vila Nova, em Porto Alegre.

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