Avô constrói ‘trenzinho’ para passear com netos por Ivoti

Ivoti – Apesar de incomum, encontrar pelas ruas do município uma espécie de trenzinho em miniatura, feito de pneus de borracha, com cinto, baú e, em dias de muita chuva ou muito sol, com um guarda-sol, tem se tornado parte da rotina dos moradores. Mesmo assim, a surpresa e o encantamento seguem com a mesma intensidade: não importa quanto tempo passe, a criação chama a atenção dos pedestres e dos motoristas por onde transita.

O trenzinho foi construído por Jacó Luiz Fuhr, com o objetivo de inserir um pouco mais de diversão na vida dos netos, João Luiz, de sete anos, e Luis Henrique, de um ano e 11 meses – os passageiros. Aposentando, aos 62 anos, a alegria do avô é poder passar o dia ao lado dos netos e construir memórias que, como destaca, “eles jamais irão se esquecer”.

A ideia surgiu com o anúncio da chegada do neto mais velho, em 2013. Na época, a criação foi um pouco diferente: o primeiro carrinho foi feito em madeira e, já muito bem pensado, contava com mais de um tipo de assento, para acompanhar as fases de crescimento do menino, podendo, inclusive, ser utilizado com um bebê conforto. Alguns meses antes do nascimento de João Luiz, o carrinho já estava pronto, só esperando por ele – que deu seu primeiro passeio na criação no mesmo dia em que chegou do hospital.

Jacó comenta que o seu lado criativo, o qual lembra sempre ter sido aflorado, veio do seu avô, que costumava dizer: “a história é tu que tem que fazer, não pode ser comprada”, salientando ainda que brinquedos fabricados em casa possuem mais valor. Agora, o percurso da narrativa vem se repetindo, já que o trenzinho feito de pneus foi construído após um pedido de João, que gostaria de poder passear com o avô e com o irmão.

“É bem legal andar no trenzinho”, afirma João Luiz, enquanto o pequeno Luis Henrique se diverte tentando guiar o “automóvel”.

Criando lembranças

O ex-catequista conta que, com a pandemia, para facilitar a rotina da filha e do genro, os netos passaram a morar com ele e com a esposa, no bairro Farroupilha. Assim, com Jacó também em casa, as tardes com os meninos viraram o passatempo preferido dele. “Se eu ficasse sozinho, iria enlouquecer. Eles me trazem muita alegria. O mais velho, que já entende mais as coisas, é muito meu parceiro”, comenta.

Além dos carrinhos para passear com os netos, ele gosta de trabalhar, com os materiais que tiver, fazendo coisas para a casa. Assim, ele já construiu enfeites de jardim e uma sala inteira feita de pedra, na cháchara que possuem. Lá, ele também produziu carrinhos de lomba, casa na árvore e está fazendo uma tirolesa, com o objetivo de seguir proporcionando aos netos um espaço onde cresçam sendo estimulados.

“Tudo que eu tinha antigamente, com os meus avós, eu procuro passar para eles também. Eu sempre pensava que um dia queria proporcionar essas experiências para os meus netos”, diz ele, lembrando que logo que comentou que construiria os carrinhos, a família achou que não seria possível. “Mas tudo que tu quiser fazer, se colocar fé, tu faz”, completou.

Momentos

Apesar de gostar de estar sempre produzindo novidades, a descoberta de alguns problemas na coluna tem feito com que Jacó precise pegar mais leve nas criações. “Pelo menos os carrinhos já estão prontos e, caso venha mais netos, dá para acrescentar módulos”.

Ele comenta que, algumas vezes, ao serem parados na rua, já o pediram para que produzisse carrinhos para vender. No entanto, além de afirmar não ser esse o objetivo de suas criações, ele recebeu um pedido especial do neto mais velho. “João pediu para que eu não fizesse para outras pessoas porque, se mais pessoas tivessem, nós não seríamos mais parados na rua”, conta, lembrando da situação com humor.

Enquanto catequista, ele lembra que a mensagem que queria passar aos alunos, era a mesma que tenta, através de gestos, passar hoje também aos netos: “sempre dizia para, em vez de comprar um presente, tentar fazer algo, escrever um cartão… quem recebe vai criar lembranças boas e a pessoa que faz ainda pode descobrir uma nova habilidade”, finaliza Jacó, com um simpático sorriso no rosto ao ver os netos se divertindo.