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Casal mantém a tradição de fabricar vassouras de palha no interior de Herval
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – A tecnologia veio para suprir muito trabalho manual que, gradativamente, vai sendo substituído pela eficiência das máquinas. Entretanto, algumas coisas se perpetuam ao longo dos anos e ainda se mantêm vivas através das gerações, como é o exemplo da confecção das vassouras de palha (stroh besen) feitas pelo casal Ilse, 67 anos, e Geraldo Backes, 66, na localidade de Padre Eterno Baixo e que tem a produção há cerca de 30 anos. Mesmo que surjam novos modelos de vassouras – aquelas de plástico e fibra – as feitas por eles são uma referência na cidade e, até, nos municípios vizinhos.
Eles não produzem muito – esse ano devem fazer cerca de 260 peças – mas essa não é a principal atividade do casal de agricultores aposentados que somente fazem vassouras quando as condições climáticas não permitem as demais funções na roça; como plantar milho, mandioca, feijão. Parte da produção é vendida em casa mesmo, já que moram em uma estrada que dá acesso à Três Coroas e Igrejinha e, portanto, há muito movimento – as vassouras secam ao sol em frente à casa e, volta e meia, alguém para e compra. O restante é direcionado para mercados de Herval e, até mesmo, para o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Dois Irmãos.
Herança de uma geração
Seu Geraldo conta que aprendeu a função com seu sogro Aloysio Kappes que morava na localidade de Alto Padre Eterno. “Ele não produzia muito, vendia pouco”, conta. Mas foi com seu Aloysio – que já faleceu há 33 anos – que o casal adquiriu o conhecimento das técnicas que consistem em conhecer o tempo exato para plantar as sementes, colher a palha (besen raize), selecioná-la, esperar o tempo de secagem e, depois, aplicar o processo de produção que é totalmente manual, feito no pátio de casa.
O processo de produção
Depois que a colheita da palha é feita Geraldo conta que ela é selecionada em três tamanhos: a pequena, média e grande. Logo depois disso vem a parte que demanda mais tempo, que é cortar o caule da parte maior de forma diagonal para que essa se sobreponha da maneira correta sobre as demais e, assim, não gere muito volume.
Feito isso dona Ilse já esquenta a água pois antes de ser colocada sobre o cabo da vassoura – que é comprado -, é necessário deixar a palha um pouco de molho na água fervente a fim de que ela não se torne quebradiça depois e, também, seja mais fácil de manusear na hora de fazer o processo.
Assim, no pátio de casa, Geraldo prende um arame na árvore e se posiciona na outra extremidade, prende-o através de um prego no cabo de madeira. Então dona Ilse começa a alcançar a matéria prima para ele que coloca a palha pequena na primeira camada, enrola-a com o arame e assim, já coloca a palha média na camada seguinte. Depois, para concluir, coloca a terceira e mais grossa camada que, como mencionado, possui o caule cortado em formato diagonal para evitar o excesso de volume.
Cansativo
É um trabalho cansativo, diz Geraldo. “Não podemos fazer muito, pois sempre dói o braço”. É compreensível, pois, para que a palha fique bem firme ele puxa o cabo que está preso à arvore de forma a fixar a palha da maneira mais eficaz possível. “Nos dias que a gente faz as vassouras, trabalhamos uma ou no máximo duas horas nisso e conseguimos fazer uma dúzia, em média”, conta Ilse.
Depois que a palha é colocada, Geraldo termina de fixar o arame através de um prego que bate ali mesmo, sobre um cepo de madeira. Dona Ilse ajuda e amarra a palha – cuja parte vai servir para varrer -, com uma corda a fim de que ela não fique muito solta. Afinal, depois disso tudo feito, é necessário deixar a vassoura secando ao menos por uma semana ao sol para que ela não venha a apodrecer depois, quando os clientes a comprarem.
Nesse meio tempo eles se ocupam de tirar as sementes que tem na palha. Quem ajudava muito nisso era o pai de Geraldo, seu Aloysio Backes, que faleceu há menos de um mês aos 94 anos – o senhor mais idoso de Padre Eterno Baixo. “Ele sempre queria ajudar um pouco”, relembra o filho.
Passado o tempo de secagem da planta eles utilizam uma presilha de madeira para prensar a palha e, com isso, fazem uma costura de três linhas e, depois disso, as vassouras já podem ser utilizadas.
Ajuda na renda da família
Casados há 46 anos, Ilse e Geraldo dizem que gostam de fazer as vassouras, ainda mais agora que ambos estão aposentados. Já há três anos eles vendem cada vassoura por R$ 20. “Com esse valor conseguimos comprar o mantimento para a casa”, conta Geraldo. Eles moram sozinhos na casa.
Ilse diz que gosta de ajudar. Ela só não faz a parte pesada que é a hora de colocar a palha no cabo, o restante ela acompanha tudo. Até agora, desde o início do ano, o casal já produziu 160 vassouras e, dessas, 35 já estavam vendidas.