Destaques

Com ajuda de moradora e BM de Morro Reuter homem reencontra a família após 10 anos

26/08/2020 - 15h36min

Atualizada em 26/08/2020 - 15h47min

Irmãos Luis, Olmiro, Odil e Mailton, se preparando para voltar para casa depois de 10 anos (FOTO: arquivo pessoal)

Por Cleiton Zimer

Morro Reuter – Uma mobilização regada pelo amor ao próximo terminou com um final feliz. Odil Daleste da Silveira, 37 anos, reencontrou a família depois de mais de 10 anos distante e, há sete, sem nenhum tipo de contato. Isso só foi possível através da união dos moradores da localidade de Picada São Paulo, por onde andava há cerca de dois meses perambulando pelas ruas, dormindo ao relento, aquecendo e alimentando-se através da bondade dos moradores, que sempre o ajudavam.

De acordo com o sargento Gilson Borges Nunes, a Brigada Militar foi acionada há uma semana devido à mudança de comportamento que o rapaz passou a ter e, ao encontrarem-no, verificaram que estava dormindo em uma casa desocupada e teve que sair do local mediante o pedido do dono da propriedade. Não havia, entretanto, ocorrência por desaparecimento do homem.

Nesse momento entrou o papel da protagonista desse reencontro. Angélica Schneider, moradora da localidade, percebeu que depois da abordagem Odil simplesmente sumiu, não voltando mais. Preocupada, teve a ideia de divulgar a situação nas redes sociais, na esperança de que algum familiar o reconhecesse. Dona Bernadete, mãe de Angélica, dava café da manhã, almoço e janta para o rapaz, além de roupas, calçados e cobertores, assim como outros vizinhos também faziam. Através disso havia conversado com ele e conseguido informações como seu nome, nome da mãe e onde já tinha morado.

Persistência

Angélica conseguiu complementar os dados com a Brigada Militar e, através disso, buscou por pessoas com o mesmo sobrenome em São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo, mas, não obteve sucesso. Não desistiu e resolveu se inscrever em um grupo de brick de São Luiz Gonzaga, torcendo para que a aceitassem. Ela se inscreveu na segunda da semana passada e no dia seguinte a aceitaram. Na mesma noite ela fez a publicação; horas depois já foi chamada por familiares que estavam à procura de Odil. “De coração, nós pagaríamos uma passagem para ele voltar de ônibus, levaríamos ele para embarcar; mas comentei com os irmãos que, por ter passado tanto tempo na rua, não sabíamos como reagiria”.

Os familiares então vieram para Morro Reuter na sexta-feira, procuraram por todo o final de semana, com a ajuda de Angélica que saiu do trabalho para auxiliar e, também, da Brigada Militar. Porém, não o localizaram. Deixaram o número de telefone nas casas, na esperança e que alguém ligasse, caso o vissem.

Os outros irmãos voltaram para casa. Mas, Luis Carlos Daleste Silveira, 48 anos, que mora em São Leopoldo, seguiu na busca e na segunda-feira, 24, o encontrou na Linha Temeraria (Nova Petrópolis), através da comunicação entre a Brigada Militar de Morro Reuter e as demais cidades. “Tentei convencê-lo a voltar para casa, mas não obtive sucesso”, contou Luis, que acionou os outros irmãos que voltaram e, na terça-feira, 25, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal localizaram-no indo a pé em direção à Caxias do Sul. “A polícia deixou ele com a gente às 10h, foi difícil, mas às 16h ele decidiu voltar conosco”, disse o irmão.

Odil voltou para os braços da sua mãe, dona Maria Elenir Daleste (FOTO: arquivo pessoal)

 

“Não sabia se estava vivo ou morto”

Odil teria saído de casa em São Luiz Gonzaga para trabalhar na região e sofre por dependência química e, agora, graças a ajuda de Angélica e da Brigada Militar de Morro Reuter, voltou para seu lar e está com sua mãe, dona Maria Elenir Daleste. “Estamos nos sentindo muito felizes, pois até então a gente não sabia se estava vivo ou morto. Não tínhamos notícias há sete anos”, disse o irmão Luis, que há sete anos, tinha sido o último a conversar com ele por telefone.

Emocionado Luis agradeceu em nome de toda família. “Muito obrigado a Angélica, por ter postado no grupo, foi fundamental; e também ao sargento Gilson da Brigada Militar de Morro Reuter, que nos ajudou bastante”.

Feliz em ajudar o próximo

Bernadete e Angélica ajudaram Odil o quanto podiam (FOTO: arquivo pessoal)

Angélica conta que sempre ajudavam Odil. “Víamos que ele estava sofrendo nas ruas, principalmente nesses dias tão frios”, lamentou. Questionada como foi ter protagonizado esse reencontro, afirma que se sentiu muito feliz em ajudar o próximo. “Vi as fotos do encontro dele com a mãe e os irmãos. Chorei bastante. Fiquei muito feliz por ter dado tudo certo”. O desejo dela é que todos os moradores de rua tivessem um final feliz desses. “Graças a Deus conseguimos ajudar uma mãe e os irmãos a encontrar um filho. O filho pode ter todos os defeitos do mundo, mas mãe é mãe; eu sentia que em algum lugar tinha alguém procurando por ele”.

Sair da versão mobile