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Com saúde e disposição, hoje Zulmira Lehnen festeja o aniversário de 100 anos

10/12/2020 - 09h23min

Atualizada em 10/12/2020 - 11h09min

Picada Café – Em 10 de dezembro de 1920, as casas existentes no atual centro de Picada Café podiam ser contadas nos dedos. Era apenas uma rua, e nela ficava o casarão de alvenaria onde, nesta data, nasceu Maria Zulmira Nosvitz Lehnen. Hoje, além do aniversário de 100 anos, ela festeja uma vida repleta de realizações e o fato de seguir com independência nas suas tarefas do dia a dia e sempre com muitos cuidados na saúde. 

O cuidado rigoroso com a saúde, especialmente a alimentação, é a resposta para a pergunta que todos fazem quando alguém festeja 100 anos. É o segredo para se chegar tão longe. Muita disciplina ao seguir as recomendações do médico, que é visitado regularmente. E o consumo de alimentos colhidos ao lado da casa, na horta em que Zulmira é a responsável até mesmo pelo plantio.

A boa saúde também tem a ver com os exercícios físicos que a idosa faz todos os dias em sua bicicleta ergométrica. No mínimo, 20 minutos e, no máximo, até não aguentar mais. A atividade de pedalar faz parte da rotina diária que Zulmira costuma iniciar entre as 5h e as 6h da manhã, o que não significa que ela dorme pouco, já que costuma deitar-se por volta das 20h. 

De manhã, tudo começa com a tarefa de fazer fogo no fogão à lenha. Nas horas seguintes, são três as preferências. Enquanto pedala, Zulmira assiste às missas na televisão, instalada estrategicamente na frente da bicicleta. Em outros momentos, o som que ecoa pela casa é o da Rádio Imperial. Para completar, o Diário, que ela já não consegue ler, mas segue acompanhando.

Antes da pandemia, a rotina virtuosa ainda incluía os eventos dos grupos de terceira idade e do Clube de Mães. Zulmira também participava bastante da programação religiosa, indo com frequência à Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – igreja esta que é um capítulo à parte na história da aniversariante. E, por falar em fé, este é o ponto que completa a receita do centenário hoje festejado. “’Der Mensch denkt, Gott lenkt” (o homem pensa, Deus guia), afirmou a aniversariante durante a entrevista concedida em alemão nesta quinta-feira, dia 9. “Estou sempre com Deus. Nunca estou sozinha”. 

 

Tijolos, bailes, cavalos e um amigo especial

Situada na Rua Emancipação, a casa onde Zulmira nasceu ainda existe e acaba de ser restaurada. Ela foi construída há mais de cem anos pelos pais dela, com tijolos fabricados pela própria família. Isso graças ao barro retirado de um banhado que havia na propriedade. Mais tarde, o casarão chegou a servir como salão de bailes e nele foi realizado o primeiro evento do gênero da história de Picada Café. 

Mas a vocação principal da família era mesmo a agricultura. E as plantações se espalhavam por todos os lados. “Hoje eu olho para as várzeas do Rio Cadeia, onde eram as nossas roças, e só vejo casas”, comenta a aniversariante. Para se ter uma ideia de como tudo era diferente de hoje, na infância de Zulmira o centro da picada ficava em Joaneta. E a ligação equivalente ao que hoje é a Rua Vicente Prieto ainda não existia. 

“Meu pai tinha mulas e bois para trabalhar na roça. E dois cavalos especiais para ir na missa, em Joaneta. Para chegar lá, precisávamos passar o Rio Cadeia. Quando chovia muito, não dava para ir”, relembra a longeva cafeense. 

Embora os pais fossem agricultores, os filhos passaram a ter outras ocupações. Zulmira teve três irmãs e um irmão (uma das irmãs morreu antes de Zulmira nascer). O fato do irmão estar aprendendo o ofício de dentista fez com que hoje Zulmira não tenha nenhuma foto dele criança. “O fotógrafo precisava ser convidado e era difícil ele vir. Quando ele veio, meu irmão estava fora, estudando”, explica. 

Zulmira era a filha mais nova e quando começou a ir para a escola, conheceu um menino chamado Aloísio Lehnen, tornando-se sua amiga. Mais tarde, aos 14 anos, Aloísio passou a trabalhar na queijaria de Afonso Schmitz, o que o aproximou um pouco mais da amiga da escola. Isso porque Zulmira era a encarregada de levar leite até a fábrica, o que sempre rendia um mate com o rapaz. “Éramos amigos, mas eu nunca imaginei que ele se tornaria o meu marido”, comenta ela.

 

<BOX>O primeiro sapato costurado em Picada Café

Já casado com Zulmira, Aloísio recebeu um convite para se tornar sócio da fábrica de calçados Utzig e Finger, que visava a ampliação. Ele não queria ser empregado para sempre e os donos da fábrica sabiam que ele tinha algum capital e que era empreendedor. Foi assim que surgiu a Utzig e Lehnen, que também ficou conhecida como Caflex. 

Zulmira passou a se dedicar ao trabalho calçadista. Eram menos de 10 trabalhadores na fábrica e ela precisava se envolver com a produção. Assim, ajudou a fazer peças como tamancos de madeira e chinelos de couro. Quando a empresa comprou a primeira máquina para costurar sapatos, ninguém sabia operá-la, pois era de segunda mão e chegou sem o livro de instruções. Zulmira teve que ir até Morro Reuter durante dois dias para aprender a costurar. Quando voltou, suas mãos manejaram a máquina e costuraram o primeiro sapato da empresa, que foi também o primeiro de Picada Café.

Gladis, a filha mais velha de Zulmira e Aloísio, chegou a trabalhar na fábrica de calçados durante as férias de verão. Já os outros filhos, Cláudio, Ceni e Romeu, não se envolveram. O pai fazia muita questão de que todos completassem os estudos. 

Celebração em um lugar especial

O aniversário de 100 anos de Zulmira é celebrado na manhã de hoje, com uma missa presidida pelo bispo Dom Zeno Hastenteufel na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O momento é restrito a familiares e tem as devidas medidas de distanciamento entre as pessoas. 

Aquela igreja é um lugar de significado muito especial para a aniversariante, que ajudou pessoalmente na sua construção e esteve presente na primeira festa. 

Por precaução, as festividades do aniversário de Zulmira foram canceladas. “Isso significa que ela está desafiada a chegar aos 101 anos, para que possamos então fazer a merecida festa”, afirma a filha Gladis. Além dos quatro filhos, Zulmira tem 14 netos e 19 bisnetos. “Todos vivos”, destaca a aniversariante do dia.  

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