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Depois que chegou em Dois Irmãos, Lucila nunca mais foi embora

27/09/2021 - 11h13min

Aos 80 anos, Lucila se alegra em fazer parte da história de Dois Irmãos (Créd. Priscila Heller Backes)

Lucila Gregórius nasceu em Ivoti, na enchente de 1948, em cima da mesa da cozinha de casa e foi levada de carroça para Dois Irmãos

Por Priscila Heller Backes

Dois Irmãos – Nascida no Buraco do Diabo, em Ivoti, na enchente de 1948, em cima da mesa da cozinha, Lucila Gregórius, 80 anos, guarda muitas lembranças que foram contadas pela mãe Maria Antônia. Ela se diverte ao lembrar do seu nascimento, forma muito comum na época, onde as mulheres ganhavam os filhos em casa, com a ajuda de uma parteira.

Os avós maternos moravam em Dois Irmãos. Depois do seu nascimento, o pai Guilherme foi até eles para contar que a filha havia nascido. A cavalo, pegaram a carreta com palha dentro e levaram Lucila nos braços da mãe para Dois Irmãos, de onde nunca mais saiu. “Não fui mais embora”, brinca. Anos mais tarde nasceram suas duas irmãs, Ester e Ângela.

Depois de passar um tempo com os avós, o pai comprou uma casinha, localizada do lado do Museu. No local tinha uma queijaria no andar de baixo e a casa ficava no andar superior. A rua não tinha calçamento, “parecia de roça”. Na época eram poucas casas e pessoas, bem diferente dos dias atuais. Lucila lembra ainda da igreja e da Sociedade Santa Cecília.

Em sua lembrança está o ônibus, que era aberto e tinha cortinas. O destino dos passeios era Novo Hamburgo, uma cidade grande, onde iam fazer compras. Aos 9 anos Lucila ia sozinha à cidade vizinha para comprar couro, auxiliando assim ao pai, que era sapateiro e barbeiro. Para a entrega dos sapatos, o pai colocava Lucila no cavalo e ela seguia aos lugares, inclusive em Picada Verão, onde lembra se alegrar ao chegar. Na localidade tinha o “secos e molhados” e a mãe lhe mandava uma lista de coisas para levar para casa.

A pedido de conhecidos o pai abriu um armazém em casa mesmo. As pessoas incentivavam ele abrir um comércio, inclusive financeiramente, caso precisasse, pois não havia outro próximo na localidade em que estavam morando. “Precisava ir longe para comprar um quilo de arroz, de farinha…”. E Lucila seguiu ajudando os pais no armazém, que tinha de tudo, inclusive roupas, que eram confeccionadas pela mãe e colocadas à venda. “Eu descarregava até farinha do caminhão”. Os clientes costumavam comprar de tudo, faziam rancho. “Eram pessoas honestas, sempre pagavam”.

“Domingo era dia de matinê dançante e cinema no fim do dia. Não temos mais e sinto falta”

Casada com o falecido há quatro anos, Aloísio Ernesto Gregórius, Lucila tem dois filhos e dois netos. Inicialmente, por aproximadamente 3 anos, moraram com os sogros, na casa onde vive até os dias atuais, mas que passou por reforma. Lucila conta que não perdia os bailes na Sociedade Atiradores e Santa Cecília. E foi em um baile que dançou pela primeira vez com Aloísio. Os dois também trabalhavam juntos na antiga fábrica de calçados Lindomar e atual Wirth.

Outra atividade exercida por Lucila foi o bolão, que participou por 30 anos. “Quando falaram que iam fechar eu disse que não, só por cima de mim”, brinca. Lucila foi peça fundamental na construção do bolão da Sociedade Atiradores. Infelizmente, o problema na coluna não permitiu mais que ela continuasse.

Aos domingos, o programa que os jovens não perdiam era a matinê dançante à tarde e o cinema à noite. “As gurias se encontravam e íamos juntas. Não tinha outra coisa”. Entre os filmes estavam principalmente os de comédia. E ninguém ia mau vestido. “Sem gravata não entrava, bem diferente dos dias atuais”.

Todas essas mudanças e o crescimento do município Lucila enxerga de forma positiva. Para ela, o crescimento foi muito ligeiro, mas que Dois Irmãos é uma cidade muito bonita e boa para morar.

 

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