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Diário da Terceira Idade: aos 65 anos, aposentado cuida de sua criança interior

04/02/2022 - 11h36min

Atualizada em 04/02/2022 - 11h40min

Andar de bicicleta é uma de suas atividades (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – Irani Gomes de Oliveira, que completará 66 anos no dia 17 de fevereiro, é morador do Ninho das Águias e usa seu tempo para “viver”, depois de “anos de sobrevivência”, como ele mesmo diz. O aposentado, formado em Administração e Economia, trabalhou por anos no Banco do Brasil. E foram esses os anos que ele chama de sobrevivência. Não que tenham sido dias difíceis ou perigosos, mas é porque as obrigações precisavam ser cumpridas, afinal, para se conseguir aquilo que se busca, é necessário trabalhar.

Mas já aposentado, o tempo é de viver, buscar aquilo que o faz feliz e deixar a vida em equilíbrio, sempre fazendo bom uso do seu tempo para não desperdiçá-lo naquilo que não lhe trará retorno. É assim que ele cuida de seu maior propósito de vida, que é cuidar de sua criança interna. Algo que ele acredita que todos têm, mas muitos se esquecem. “A vida é uma grande brincadeira. Temos que cuidar da criança que vive dentro da gente, pois os sentimentos que temos hoje, são os mesmos que tínhamos na infância”, conta.

Irani com seu equipamento e os vales onde voa (Créd.: Dário Gonçalves)

Ele explica que, quando crianças, todos aprendem com o passado. Os mais velhos ensinam sobre o que é, na visão deles, certo ou errado, perigoso ou divertido, entre tantas outras coisas. “Quando somos crianças, nossos sentimentos são puros, e aí aprendemos aquilo que os mais velhos nos passam. Depois é que viramos adultos e temos que assumir as responsabilidades”.

Para ele, ser adulto é uma fase de integração entre a criança e o velho em que se deixa de dar prioridade para assumir outras responsabilidades. “Tudo isso faz parte da sobrevivência, nós precisamos uns dos outros. Mas para vivermos, é preciso sabermos lidar com nossas emoções”, acrescenta.

O lado bom da vida

Chegar à terceira idade lhe trouxe muitos ensinamentos. Entre eles, o de que há coisas que fogem ao nosso controle e que não podemos mudar. “Não adianta ficar com raiva se chover na hora que queremos sair, porque isso não depende de nós. Ficar com raiva não vai fazer parar. Então podemos olhar para o lado bom, que é o benefício às plantas, aos rios, etc”, explica. Por entender que não tem controle sobre quando irá morrer, ele prefere entregar-se ao fluxo da vida.

Tocar seu par de congas é uma de suas atividades (Créd.: Dário Gonçalves)

Voando alto

Irani nasceu em Carazinho, onde começou a ter contato com a aviação graças ao aeroporto local. Anda criança, brincava de voar com um guarda-chuva. Quando tinha de 14 para 15 anos, iniciou os saltos de paraquedas. Prática essa que durou por mais de 20 anos, até 1977. Mudou-se para Porto Alegre e, aos finais de semana, gostava de sair cedo de casa, pegar sua moto e ir até Nova Petrópolis. Depois de algumas voltas, retornava para a Capital. “Era um bate e volta. Às 10h30 eu já estava em casa”, relembra.

O tempo passou e, em 2005, decidiu voltar a voar, dessa vez de paraglider, e não parou mais. Já são quase 17 anos, desde voos curtos que duram menos de meia hora, até longos que duraram mais de 4h30 no ar pelo Estado e pelo Brasil.

Há mais de 15 anos, Irani voa de paraglider (Créd.: Divulgação)

Mercedita

O aposentado gosta de dar nomes aos seus bens. Até 2020, ele dirigia a Consuelo, sua Hilux. Porém, um deslizamento da encosta em trecho da Avenida Ninho das Águias enquanto ele passava, a levou embora. Ele escapou ileso. Seu novo carro desde então é uma Mitsubish Pajero, ou melhor a Dona Brô. O nome é uma homenagem a uma antiga cuidadora, Dona Bromilda, que esteve com ele quando ficou doente.

Irani foi capa por conta de um acidente em 2020 (Créd.: Dário Gonçalves)

E agora, após meses de espera, chegou a sua Mercedita. O equipamento é o que há de melhor hoje no ramo de paraglider e é fabricado na Suíça. “É a Mercedes dos paraglider, por isso chamei de Mercedita”, explica. “Para quem iniciou a carreira de voador/paraquedista pulando agarrado num guarda-chuvas velho do telhado do galpão lá de casa, me sinto um cara privilegiado. Esse é o presente que me concedo as vésperas de completar sessenta e seis primaveras. Afinal, navego no tempo mas continuo criança”, finaliza.

Mercedita é seu novo brinquedo (Créd.: Arquivo Pessoal)

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