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Diário da Terceira Idade: casal de idosos completa 65 anos de matrimônio
Nova Petrópolis – Quando a história de Arno e Vilonda Boone, hoje ambos com 85 anos, começou, “tudo era mato”. A expressão que por muitos é usada para descrever as mudanças vistas através do tempo, para eles é usada no sentido literal. Afinal, eles são de uma Nova Petrópolis ainda totalmente rural e voltada para as produções agrícolas.
Arno morava na Linha Brasil Fundos, Vilonda na Fazenda Pirajá. A distância entre os dois era de cerca de 20 quilômetros, mas encurtava nos bailes. Os dois se conheceram no Salão Lamberty, e lá começaram um relacionamento. Sem veículos, Arno ia de bicicleta todos os finais de semana, por dois anos e meio, para ver a namorada.
Depois de tantas pedaladas, o casamento foi marcado. Então, no dia 16 de fevereiro de 1957, uma grande festa reuniu cerca de 200 pessoas para celebrar a união entre os jovens de 20 anos. Aliás, a celebração aconteceu na mesma propriedade que hoje pertence à Jocemir Boone, que apareceu no Diário Rural do dia 23 de fevereiro.
Família
Um ano depois, nasceu Persio, primeiro filho do casal. Mais tarde, em 1961, tiveram o segundo filho, Nilson. E então se mudaram para Esteio. No entanto, Persio ficou doente devido à problemas respiratórios. “O médico disse que se eu quisesse salvar meu filho, teria que voltar pra Nova Petrópolis onde o ar era puro”, contou Arno. E assim fizeram. Voltaram para Linha Brasil Fundos, onde o pai de família tinha terras. A primeira, comprada aos 15 anos.
A volta para Linha Brasil Fundos não durou muito e logo os Boones se mudaram para onde hoje é o Logradouro. Arno manteve-se na vida de agricultor enquanto Vilonda cuidava da casa e dos filhos. Cultivavam de tudo, principalmente milho e leite. “Lembro que quando eu era criança, nós tirávamos o leite e levávamos para o Hospital Nova Petrópolis em baldes”, comenta o filho Nilson, hoje com 61 anos.
Profissões
Até hoje, quando pode, Arno cuida da plantação que fica nos fundos de casa. Agricultor a vida inteira, também fazia extras como garçom. Aos 35 anos começou a trabalhar na Churrascaria Edio, que ficava na BR-116. Lá ele trabalhou por ¼ de século. “Foram 25 anos, todos os finais de semana, sem feriado”, relembra ele com orgulho. E na época, para trabalhar, ele precisava manter em dia sua Carteira Sanitária. O documento é guardado até hoje, comprovando que já naquele tempo era necessário se vacinar.
Um dos momentos que ele lembra com muita felicidade, foi quando assou um porco inteiro em uma festa da família Rapone para mais de 150 pessoas. “Ninguém queria fazer isso, mas eu fiz. Comecei às 15 horas e só saí depois das duas da madrugada”, afirma. A festa em questão era para comemorar a piscina que havia sido instalada na propriedade. E como gratificação, Arno recebeu um bom pagamento.
Também atuou como agente do Correio Rio Grandense por 35 anos, jornal de Caxias do Sul que deixou de circular em 2017 após mais de 100 anos. Arno coletava assinaturas e entregava os exemplares em uma bicicleta emplacada. “As bicicletas tinham placas, como os carros. Eram outros tempos”, explica. Carros, aliás, ele nunca dirigiu.
Vilonda também não teve vida fácil. Trabalhou na roça até não poder mais e sempre cuidou muito bem dos filhos e da própria casa. “Meus pais são de uma geração diferente, que não se permitia descansar. Tudo sempre foi voltado para o trabalho”, conta Nilson.
Rotina atual
Há nove meses, a esposa de Nilson, Valesca, faleceu. Como ele passou a morar somente com a filha Luize, em uma casa grande, trouxe Arno e Vilonda para morar com eles. “A casa deles era do outro lado da rua. Então, para facilitar, trouxe eles para morar aqui pois chegou a hora de eu cuidar deles”, explica.
Quando o sol nasce, o casal já está de pé. Arno gosta de começar o dia lendo O Diário, tanto é que muitas vezes ele espera o entregador no portão de casa. Vilonda o acompanha, sempre com o chimarrão. As notícias são justamente o que os dois gostam de consumir. “Filme não traz comida pra mesa”, diz Vilonda.
Depois do almoço, feito por Nilson, dormem um pouco, caminham, e, sempre que podem, contam histórias. “Se eu falasse tudo o que vivi, preencheria o jornal inteiro”, finaliza Arno.