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DIÁRIO RURAL: Agricultor de Picada Feijão produz sucos e vinhos artesanais

06/01/2021 - 14h16min

Ivoti – Nos dias quentes de meados de dezembro e início de janeiro, enquanto trabalha, Blasio Alberto Bervian procura por abrigo do sol embaixo da sombra produzida pelo parreiral. Isto porque este é o período de safra da uva Vênus, a qual ele planta em seu hectare de terra em Picada Feijão.

Já realizando a colheita das uvas plantadas em julho do ano passado há cerca de quatro semanas, o agricultor de 54 anos estima que até o final da próxima semana, todos os cachos já terão sido recolhidos da plantação, encerrando mais um ciclo de produção.

Neto e filho de agricultores, apesar de durante toda sua vida ter aprendido a lidar com a terra de diversas maneiras, ele sempre demonstrou maior interesse pelo pequeno parreiral que seus pais cultivavam. Mas foi em um intercâmbio para a Alemanha que ele pôde se especializar.

Em 1990, a Cooperativa Piá proporcionou que filhos de agricultores da região embarcassem para a Europa e lá pudessem ficar dois anos aprendendo técnicas de cultivo, em aulas práticas e teóricas. No entanto, o que era para ser dois anos fora do País, se transformou em cinco para Blasio. Ao se formar em técnico de viticultura na Alemanha, ele partiu para a Suíça, onde trabalhou em uma propriedade familiar que produzia uvas e vinho artesanal.

“Foi uma oportunidade muito boa para adquirir mais conhecimento. Tive aulas sobre diversos assuntos e pude me especializar com muita experiência na produção de uvas e vinhos, que é o que realmente gosto”.

Quando retornou para o Brasil, Blasio resolveu que ficaria junto aos pais – que estavam sozinhos e aspiravam cuidados. Foi a partir de então que ele começou a expandir a plantação de uvas nas terras da família. Hoje, para poder focar apenas no cuidado e em suas produções próprias – de suco e de vinho –, as terras da família, que não estão adaptadas para receber as plantações de uva, são alugadas para as plantações dos vizinhos.

Variedades

Apesar de ter sob seus cuidados a plantação de quatro variedades de uva, a Vênus é a única cultivada pelo agricultor em sua propriedade em Picada Feijão. Sendo essa uma uva de mesa precoce, ela costuma ser a primeira a ser colhida. Sem sementes e com frutos bem doces, Blasio destaca que o sabor da fruta está também relacionado com o momento em que ela é apanhada.

“De modo geral, para fazer a colheita de modo correto, não se pode ir tirando os cachos dos parreirais ordenadamente. É necessário que se observe cacho por cacho e que se colha apenas os que já estiverem bem maduros”.

Depois de colhida, a uva Vênus plantada por Blasio é vendida nas feiras locais e em comercialização direta aos consumidores de duas formas: in natura e como suco. Desde 2008, ele viu uma oportunidade de utilizar os cachos não tão belos e fartos para a produção de sucos integrais. Hoje, apesar de produzir também sucos de algumas outras frutas, anualmente ele produz cerca de 5 mil litros de suco.

Um pouco mais singela, mas também mais antiga, é a produção de vinho de Blasio. Especializado no assunto, desde 1999 ele passou a produzir a bebida que, hoje, chega a uma produção total de mil litros ao ano. No entanto, para produzir vinho, ele precisou ir atrás de outras variedades da fruta.

Atualmente, em parceria com uma proprietária de terras em Nova Petrópolis ele cuida de uma produção do tipo Pinot Noir. Já em Alto Feliz, como prestação de serviço, ele cultiva as uvas Cabernet Franc e Rebo. Todas estas três variedades viram, por fim, vinhos tintos produzidos pela Vinícola Berwian – da qual tem todo seu processamento feito na residência de Blasio.

De acordo com ele, a produção de vinho é algo que deseja expandir. Sua produção de Pinot Noir, que iniciou em 2019, já no ano passado triplicou de tamanho e para este ano, a expectativa é que siga aumentando. Enquanto isto, ele tem se preparado com cautela para garantir mais uma safra de qualidade.

Cuidados

“O cultivo da uva – qualquer que seja ela – requer muitos cuidados, é necessário um trabalho bem intenso para que se produza com qualidade. Mas é algo que eu tenho muito prazer em fazer”, afirma o agricultor, lembrando dos momentos em que ele inicia as colheitas e os aproveita para degustar bastante o fruto – “e, mesmo em tantos anos, nunca enjoo”.

Responsabilidade é a palavra-chave, segundo ele. Para poder cuidar das uvas de maneira adequada, ele diz fazer uso dos produtos de forma moderada, nunca usando mais que o necessário. Além disto, é sempre preciso estar atendo aos fatores climáticos – e aos pássaros, que chegam a comer cerca de 30% de sua produção.

Em meados de outubro passado, Blasio conta que o clima o assustou. Isto pois o tempo seco e de forte sol o fez pensar que o período de estiagem iniciaria e, com ele chegaria também o receio sobre o destino incerto que tomaria a produção de todo um ano de trabalho. “Mas não passou de um susto, graças a Deus”, fala o agricultor, comentando sobre os períodos de chuva que a região passou a ter nos meses que se seguiram.

Apesar do período vegetativo da uva durar, em média, cerca de cinco a seis meses, ele comenta que “o ciclo de cuidados nunca cessa, dura todo o ano”. Depois da colheita, é necessário iniciar a limpeza e preparação do solo. Ademais, para quem ainda produz bebidas a partir da fruta, como é o caso de Blasio, a produção se estende ainda mais

“Sem dúvidas, é um trabalho corrido, demanda muitos cuidados. Mas, no final, é o que eu realmente gosto de fazer, sinto prazer. Cada parte do processo, para mim, é gratificante”.

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