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DIÁRIO RURAL: Agricultura em Linha Temerária une casal no campo há 25 anos
Nova Petrópolis – Adriana e Vantuir Rögelin, de 43 e 46 anos, começam a trabalhar junto com o nascer do sol na Linha Temerária. Ao clarear dos primeiros raios do dia, o casal já está de pé para exercer o trabalho que tem hora para começar, mas nem sempre para terminar. Para dar conta dos quatro hectares de plantações, é necessária muita disposição e, também, amor pelo que fazem. Ele conta que trabalha no campo a vida inteira, já ela, desde que se casaram há 25 anos, completos no início de maio. O pai de Adriana, um caminhoneiro aposentado, também ajuda para poder passar o tempo e exercer alguma atividade.
Quem chega na propriedade, se encanta com o verde que colore os campos. Pés de couve, repolho e alface podem ser vistos logo na entrada, mas basta caminhar um pouco que uma grande variedade de legumes e hortaliças são encontrados. No verão, o forte dos produtores Rögelin são as raízes, como batata, beterraba e batata-doce. Já nas outras estações, planta-se de tudo um pouco, de forma escalonada, para que sempre haja o que colher. “Quando uma plantação está acabando, a outra já está nascendo. E assim conseguimos sempre ter uma grande variedade. Não podemos deixar de vender porque certo produto já acabou”, explica Vantuir.
A colheita é a primeira atividade do dia, assim, já saem da terra com o orvalho em suas folhas. Durante o dia, são feitos os cuidados nos campos e, por fim, a lavagem do que foi colhido. Adriana corta o que não será aproveitado e coloca as verduras em uma grande caixa d’água. Vantuir pega o produto, mergulha, lava e o tira fresquinho e limpo direto para a caixa que sairá para venda. Para os tubérculos, é usado uma espécie de lava-jato para tirar toda a terra, mas sem machucar os alimentos.
Entregas
A colheita é feita nas segundas e quartas-feiras. Nas madrugadas seguintes, nas terças e nas quintas-feiras, os caminhões saem para fazer as entregas que ocorrem em Gramado e Canela (terças) e Caxias do Sul, na Ceasa (quintas). Para Gramado e Canela, Andreia acompanha uma amiga nas entregas, pois quem fazia essa parte até um ano atrás pertence ao grupo de risco do coronavírus, e por isso se ausentou da função. “No início, comecei a fazer entregas junto para quebrar o galho, mas o tempo passou e eu continuei. Agora essa rotina já dura um ano”, conta Adriana.
Para Caxias, quem leva as entregas é Eduardo dos Reis, filho de Iria e Jurandir dos Reis que apareceram no Diário Rural em novembro do ano passado. A parceria entre produtores vizinhos faz com que eles compartilhem o que produzem e ainda economizem nos gastos, uma vez quem um ajuda o outro. “Nós sempre sabemos mais ou menos o que é preciso colher pelo que já existe de pedidos. Então a gente consegue se organizar. Mas uma vez, neste ano, fizeram um grande pedido em cima da hora e eu fiquei até 3 da madrugada lavando as batatas. Fui dormir quando a Adriana já estava levantando”, relembra Vantuir.
Desvalorização
O casal de agricultores conta que por 10 anos investiram em salsa e cebolinha, mas que isso acabou sendo um atraso de vida. Exigia muito trabalho e gerava um retorno financeiro muito baixo, por vezes até prejuízo. Por isso, mudaram o foco e passaram a plantar conforme a estação. Ainda assim, os problemas continuam, mesmo que não dependam deles.
Vantuir conta que hoje recebe pela dúzia da alface praticamente o mesmo valor que 17 anos atrás, quando o Plano Real foi implementado. A desvalorização do produto foi tanta que os lucros foram sumindo ano a ano. “Eu lembro que quando o presidente era o Fernando Henrique Cardoso e ele instituiu o Plano Real, nós recebíamos o mesmo que hoje. Estamos no quarto presidente depois do FHC e os valores não mudaram”.
E como eles não vendem diretamente para o consumidor final, é muito difícil aumentar o ganho em cima do produto, afinal, quanto maior o número de envolvidos, revendedores, mercados, etc, menor é a margem pois outros precisam ganhar em cima para fazer as hortaliças chegar à mesa do cliente.
Estufas para pepinos e pimentões
Adriana e Vantuir investiram em duas estufas que, em breve, estará fornecendo pepinos e pimentões. A estrutura está pronta, o solo preparado e, já no próximo inverno, a primeira colheita deve aparecer. A propriedade fica em uma área de Nova Petrópolis que não sofre com grandes geadas ou outros imprevistos da natureza, no entanto, é necessária a estufa para fornecer calor nos dias mais frios e garantir a produção.