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DIÁRIO RURAL: mesmo aposentado, casal ama o trabalho que exerce no campo

24/11/2020 - 18h01min

Atualizada em 25/11/2020 - 09h18min

Jurandir e Iria trabalham diariamente nas plantações (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – Aposentados há cerca de 15 anos, Iria dos Reis, 66 anos, e Jurandir dos Reis, 68 anos, permanecem cuidando do campo para garantir o sustento da família. Se dependessem apenas do salário da aposentadoria, certamente haveriam dificuldades. E para isso, os dois agricultores, diariamente, cuidam de suas diversas plantações, tendo no cultivo de chás, a principal atividade.

Mas, mesmo que isso seja necessário, ambos afirmam que gostam da atividade, pois é algo que fizeram a vida inteira. Iria nasceu ali mesmo, naquela propriedade, em uma casa tão antiga na Linha Temerária que nem mesmo consegue precisar a idade. Jurandir, filho de pai português, nasceu e se criou em Caxias do Sul, mas ao se casar com Iria, veio para junto dela. Todos os dias, trabalham de “sol a sol”, como conta Jurandir. “Às cinco da manhã nós já estamos de pé. Limpamos o campo, ligamos a irrigação, mas tem que ficar atento, porque se molhar de mais, pode prejudicar”.

Iria em meio às centenas de pés de radicci (Créd.: Dário Gonçalves)

Jurandir em meio aos pés de alface (Créd.: Dário Gonçalves)

Juntos, o casal planta e colhe de tudo, chás de hortelã, manjericão, coentro, alecrim, sálvia, capim cidreira, couve, radicci, tomilho, alho-poró, alface, abobrinha, pepino, cebolinha, orégano, batata, e muito mais. Diversidade é o que não falta. A cada semana, dois caminhões saem da propriedade em direção à Ceasa, em Caxias do Sul, para vender as culturas. Quem faz o transporte é o filho, que, na verdade, é quem faz a maior parte do trabalho pesado e recentemente apostou que a família também poderia plantar milhos. “Eu achava que não daria certo, porque o solo é muito molhado para isso. Mas os pés estão crescendo e cada vez ficam mais bonitos”, conta Iria.

A família inteira é envolvida na agricultura familiar. Além do casal e do filho, a nora também tem suas plantações. Porém, no momento ela está um pouco afastada já que há seis meses se tornou mãe. Mas quem nunca fica de fora, é o Toninho, um salsichinha que não sai de perto de Jurandir. Por onde ele caminha, Toninho vai atrás. E na hora de ir embora, basta o dono chamar uma vez, que o cãozinho pula no quadriciclo e, atento, retorna pra casa em cima do veículo.

Jurandir está sempre acompanhado do cão Toninho (Créd.: Dário Gonçalves)

Dificuldades

A propriedade fica às margens do Rio Caí, e antigamente a água para irrigação vinha direto dele. Mas as décadas passaram e muita coisa mudou. No último verão, a família sofreu com a estiagem. Agora, o rio já está mais baixo do que estava na mesma época, em 2019. As pedras no fundo podem ser vistas e, consequentemente, as dificuldades aumentam. E para não correrem mais este risco, os agricultores investiram na abertura de um lago, onde precisaram investir R$ 23 mil. Parte deste valor, foi adquirido em uma parceria com a Sicredi Pioneira RS.

Rio caí vem ficando cada vez mais baixo (Créd.: Dário Gonçalves)

Se a questão da água foi resolvida, por outro lado, duas grandes áreas de terra não podem mais serem usadas para a plantação. Uma delas é onde fica o lago, a outra fica ao lado, onde toda a terra escavada do lago foi colocada. Não bastasse isso, Iria e Jurandir reclamam que falta incentivo público. “Passamos por uma eleição e nenhum candidato esteve aqui. Não buscam saber quais são as necessidades do produtor rural”, reclama Jurandir.

Além disso, Iria conta que o trabalho não é valorizado, pagam pouco e ainda acham o preço caro. Contudo, quando vão nos mercados comprar carnes e outros produtos, o preço é sempre alto e não tem negociação.

Criação de aves

Mas não é só a agricultura que tem a atenção de Iria e Jurandir. O casal também cria muitas aves, como galinhas, patos, gansos, marrecos e, a atração principal, pavões. São seis machos e cerca de 10 fêmeas. No fim do dia é quando os pavões costumam abrir seu belíssimo leque de penas. E quando um faz isso, os outros entram na onda, cada um querendo mostrar mais beleza e vigor para as pavoas. O pescoço longo e azul brilhante destaca sua presença de longe, mesmo quando o leque está fechado. E quando resolvem abrir o bico, o som que produzem pode ser ouvido de muito longe.

Pavões andam livremente e colorem a propriedade (Créd.: Dário Gonçalves)

Além das galinhas normais, na propriedade também há várias galinhas polonesas, uma espécie que pode ser facilmente identificada pelo “topete” que apresentam. Até mesmo os filhotinhos apresentam uma “cabeleira” diferente das tradicionais. A mamãe ganso protege suas crias sem deixar ninguém chegar perto e grasnando para todos que tentam se aproximar. E em uma das estufas de alface, ao menos seis casas de João-de-barro foram construídas e servem de moradia para outros pássaros depois que os construtores vão embora.

Casas de João-de-barro construídas nas estufas (Créd.: Dário Gonçalves)

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