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Diário Rural: seca diminui produção e aumenta custos de agricultores

23/02/2022 - 15h23min

Jocemir Boone mostra que as espigas não produzem o milho (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – Os períodos de seca chegaram pelo terceiro ano seguido em 2022. A falta constante de chuvas tem trazido prejuízos aos produtores rurais de todas as categorias que precisam da água como recurso básico e essencial para as produções agrícolas e criações de animais. Com o solo seco, as culturas não se desenvolvem e nem mesmo a silagem, vinda das plantações de milho, são suficientes para alimentar o gado que fornece o leite.

O agricultor e conselheiro fiscal do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Nova Petrópolis e Picada Café, Jocemir Boone, de Linha Brasil, diz que o momento é chamado de “seca verde”. “Quando você olha as plantações por cima, você enxerga tudo verde e bonito. Mas se olhar por baixo, vai ver que estão secas e sem se desenvolverem completamente”, conta.

Boone também é criador de vacas leiteiras, aliás, essa é sua principal atividade, e teve sua produção bastante afetada em 2021 comparado ao ano anterior. Segundo ele, os 640 litros diários diminuíram para 570 de um ano para o outro. “As vacas sofrem com o calor. Eu gasto em média seis mil litros de água por dia e tenho algumas fontes, mas algumas já estão falhando. Em outros lugares do município e da região, muitas já secaram”.

Más previsões

O presidente do sindicato, Ari Boelter, diz que sua lavoura de milho está produzindo metade do que deveria, e aquilo que ele colhe, vem sem a qualidade necessária. Como há pouca água, as espigas não se formam até o tamanho ideal e, consequentemente, não criam todos os nutrientes que deveriam. “Esta tem sido a realidade de todos os agricultores. Em Nova Petrópolis temos quase três mil hectares de milho e toda a produção tem sido afetada, assim como as estufas, os aviários, os hortifrútis, tudo”, afirma.

Sem chover direito deste novembro de 2021, os efeitos, conforme explica o presidente, tendem a ser prolongados. E, para piorar, as previsões também não são favoráveis. Nem mesmo no inverno há a expectativa de chuvas constantes. “Há meteorologistas afirmando que teremos água suficiente só a partir de dezembro ou 2023”.

O ideal seria uma boa chuva por semana, como explica Mariana Marcon, agricultora e vice-presidente do sindicato. “Nós precisamos de uma chuva que seja constante, para que consiga penetrar o solo e irrigá-lo. Chuvas torrenciais, como aconteceu na semana passada, podem ser prejudiciais pois elas são fortes, lavam o solo mas não penetra”, conta. Na sexta-feira, 19, em algumas regiões de Nova Petrópolis, como o Centro, Pinhal Alto e São Jacó, choveu até granizo. Porém, em outros lugares, como na Linha Brasil, onde fica a propriedade de Jocemir Boone, e a região do Vale do Caí, não choveu quase nada.

Custos com animais

Boone possui 18 hectares de milhos, cada um deveria produzir cerca de 60 toneladas cada, mas a colheita tem resultado na metade disso. Depois de colhidos, a plantação vira silagem para os animais, mas para alguns, isso é insuficiente. Assim, é necessário comprar de fora e como a estiagem segue até o Mato Grosso do Sul, os suprimentos devem ser comprados do centro-oeste pra cima a um custo maior. Produtores de aviários também passam pela mesma necessidade, já que possuem milhares de frangos e perus que necessitam diariamente da água para beber.

Plantação de Jocemir está verde por cima, mas seca por baixo (Créd.: Dário Gonçalves)

De acordo com Boone, uma seca como essa não acontecia desde 2004 e eles temem que esta seja uma nova realidade para a região. Por conta disso, seus custos com adubo e outros produtos subiram em mais de 200%. “Nós temos ciclos, e já estamos há três anos com falta de água. Mas como vivemos em um país tropical, acreditamos que isso mude”, disse Mariana Marcon.

O produtor de leite costuma fazer a ordenha das vacas pela manhã e abre uma fonte para que a água escorra por um riacho, onde elas bebem e depois vão para o campo descansarem nas sombras. Feito isso, a fonte é fechada e mostra um cenário bem diferente dos períodos de chuvas, quando a água corre em abundância.

Seca gera desemprego

Os agricultores contam que como os custos de produção aumentam muito com a seca, muitos produtores tendem a deixar a profissão no campo de lado. “Muita gente tira dinheiro da aposentadoria para completar a renda e seguem na agricultura pela tradição familiar, mas os mais jovens estão buscando outras áreas”, afirma Boone. A vice-presidente complementa dizendo que quando um agricultor sai do campo, ele precisa buscar trabalho em outros mercados, gerando mais concorrência e, por consequência, alguém fica sem a vaga.

Soluções

Para os três, Boone, Boelter e Marcon, uma opção para os agricultores é investir em cisternas para captar e aproveitar a água da chuva. Inclusive, o Governo do Estado, por meio do Programa Avançar RS está investindo em meios de irrigação para os produtores rurais. Entre os investimentos, estão a criação de microaçúdes, poços artesianos e a construção de cisternas, algumas delas em Nova Petrópolis.

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