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Editorial: Os políticos de Nova Petrópolis fazem de conta que o município é uma ilha de prosperidade
A situação geral é essa: maior crise mundial dos últimos 100 anos; desemprego vai dobrar; redução de salários na faixa de 30 a 50%; previsão é de que 30% das empresas desaparecerão; milhões de informais recebendo auxílio emergência de R$ 600,00; outros milhões com contratos suspensos ou redução de jornada e salários bancados pelo governo federal.
Em Nova Petrópolis o panorama é o mesmo: os negócios estão girando ao nível de 30 a 50%; informais e trabalhadores de empresas com salários sendo pagos pelo governo por dois meses. A redução de salários e contratos vão de 30 a 50%.
Num período em que ninguém sabe ainda o que vai acontecer e ninguém tem o emprego garantido e a sobrevivência das empresas está em risco, existe em Nova Petrópolis uma ilha de prosperidade destoando do restante do quadro. No mundo real isto seria inimaginável. Porque haveria de ter um setor com tanta sorte que escape ileso ao estrago provocado por um vírus que nem sequer poupou os ricos? De qualquer maneira, na área da saúde, o coronavírus não poupa ninguém. E na área econômica ele é tão letal quanto o número de mortes que provoca em termos de vidas. A sua letalidade é igual entre as empresas. Portanto, todos pagam igual, ricos e pobres, trabalhadores ou empresários. Portanto, estamos em meio a maior crise da história do Brasil desde o seu descobrimento em 1.500. Nunca o país teve o seu PIB caindo 10%.
Façam de conta que ninguém está se lembrando que vocês tem estabilidade no emprego e não terão o salário reduzido como aqui fora no mundo real. Insistindo com este aumento, apenas demonstrarão total indiferença a uma pandemia que apavora a população de Nova Petrópolis.
Portanto, partindo desse pressuposto, os políticos de Nova Petrópolis ao que parece não foram avisados que o município também está de joelhos. Que não é hora de literalmente brincar com coisa séria, que no mínimo dos mínimos os servidores municipais também tem que ajudar a pagar a conta. Mas não. O Poder Executivo, capitaneado pelo prefeito Lelo, se comporta com relação aos servidores, como se nada tivesse acontecido. Nem leva em consideração que a massa salarial da Prefeitura, em termos reais, foi aumentada em 5 vezes nos últimos 20 anos. O prefeito encaminhou para a Câmara de Vereadores um projeto de lei que “só” faz a reposição da inflação em 2%¨. O restante do “prejuízo” seria, então, compensado pelo vale-alimentação, com um aumento de R$ 140,00, passando de R$ 550,00 para R$ 690,00. Ele é o prefeito, tem o dever de tomar decisões, inclusive esta, em meio a pandemia. Mas esta decisão não tem amparo no mínimo da lógica e do bom senso justamente pela época em meio a maior crise mundial em 100 anos. Em vez de demitir metade dos Ccs, de 100 para 50, para reduzir a folha, ele não demite ninguém tampouco congela o salário dos servidores. Pelo contrário, dá aumento real. Uma média de R$ 200,00 para cada um significa muito mais que a inflação. Não se viu até agora caso parecido de aumento real em meio ao pico da pandemia no Brasil inteiro. Nova Petrópolis dá a impressão de ser uma ilha de prosperidade.
Agora vem o papel da Câmara de Vereadores. O Legislativo precisa aceitar ou não o aumento proposto por Lelo. Sinceramente, o projeto representa um deboche para o trabalhador comum de Nova Petrópolis e mereceria ter sido levado para a lata do lixo naquela mesma hora às 17h27min quando entrou na Câmara. Não vamos perder tempo com horário, mas ele faz parte do enredo com que os políticos se valem para tirar da população e dar aos servidores. Um adendo: o salário médio dos servidores da Prefeitura é mais alto do que na média do resto da população, mas não é um exagero. O problema é o inchaço, que passou de 200 para 700 funcionários em poucos anos. Você tem que dividir o bolo por 3 vezes mais gente do que seria o necessário.
Os vereadores já deram o sinal de que rejeitariam o projeto. No entanto, o que não se entende é o debate em torno do assunto. Porque queimar energias em algo que ofende 95% da população de Nova Petrópolis. Por outro lado, 95% dos servidores, conscientes de que não é o momento para receber um pouco mais, e sim, um pouco menos, deveriam ficar quietos em vez de fazerem barulho em torno do assunto. Façam de conta que ninguém está se lembrando que vocês tem estabilidade no emprego e não terão o salário reduzido como aqui fora no mundo real. Insistindo com este aumento, apenas demonstrarão total indiferença a uma pandemia que apavora a população de Nova Petrópolis.
Em vez de demitir metade dos Ccs, de 100 para 50, para reduzir a folha, ele não demite ninguém tampouco congela o salário dos servidores. Pelo contrário, dá aumento real.
Por último, uma palavrinha sobre o vale-alimentação. Quando foi criado se chamou vale-refeição. As boas intenções iam até aí. Depois que virou vale-alimentação se transformou em salário disfarçado. Ou fardos de latões de cerveja podem ser considerados como item integrante do vale-alimentação? Em suma, é um acréscimo de salário disfarçado. Como quase tudo na coisa pública acaba se transformando numa picaretagem, o vale-alimentação é tratado pelo prefeito Lelo como o caminho para aumentar o salário dos servidores sem aumentá-lo na prática. Como grande parte da população é leiga no assunto, Lelo dribla um problemão que caiu no seu colo com a repentina pandemia para não perder os votos dos servidores na eleição municipal de outubro. Se os vereadores forem insensíveis a pandemia como o prefeito Lelo, aquele ditado enviado por um leitor do Diário vale principalmente para Nova Petrópolis. Ele é o seguinte:
“Os nossos políticos são uma tragédia. Eles são mais nocivos do que o próprio coronavírus”.