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Em Ivoti, Cidade das Abelhas Nativas pretende informar sobre a importância da preservação
Ivoti – Com o intuito de incentivar a preservação da vida de uma das principais polinizadoras, há cerca de um ano, a bióloga Cristina Portela deu início ao projeto Cidade das Abelhas Nativas. A iniciativa surgiu em meio a pandemia, quando a profissional buscou encontrar um novo modo de falar sobre educação ambiental para todos os públicos. Com o projeto ainda em desenvolvimento, o objetivo de Cristina é, por meio do encantamento, reformular a relação entre humanos e abelhas, aproximando-os e mostrando o quão similares – e dependentes – são seus mundos.
Antes das mudanças na rotina ocasionadas pela chegada da Covid-19, a ivotiense trabalhava há 22 anos levando os projetos Conhecendo a Amazônia e Vida Marinha a alunos da rede educacional. No entanto, com a paralisação das atividades presenciais nas escolas, seu trabalho também foi afetado. Foi então que ela começou a se dedicar nos estudos sobre as abelhas – das suas rotinas e contribuições, até a interferência humana nesse processo.
Não é de hoje que a existência das abelhas vem sendo ameaçada e o que a educadora percebeu foi que a falta de informação é um dos principais motivos pelo qual isto está ocorrendo. No projeto, todas as abelhas são de espécies nativas do Rio Grande do Sul e não possuem ferrão. Assim, ela pretende mostrar ao público que há muito mais motivos para se aproximar delas, do que para afastá-las.
“As pessoas têm muito medo e pouco conhecimento sobre as abelhas. Então, a ideia é levar informação e evidenciar a importância da preservação”, pontua, observando ainda que com a ausência do trabalho destes pequenos insetos polinizadores, todos são afetados. “É aquela questão: sem abelhas, sem polinização, sem alimento”.
Lar das abelhas
Para além de ensinar, Cristina também quer atrair. Por isso, em vez de deixar as abelhas apenas nas caixas em que normalmente são criadas, ela, o marido, Claudio Francisco, e a cunhada, Vera Lúcia Silva, tiveram uma ideia: construir uma pequena casa para cada espécie e formar, assim, uma cidade em miniatura.
A criação das casinhas acontece em grupo: Claudio as monta e Cristina e Vera pintam e decoram. Remetendo a região, todas seguem o estilo enxaimel e europeu. Entre prefeitura e igreja, escola e farmácia, floricultura e delegacia, comércio e hospital – e vários outros setores – cada espécie de abelha, recebe um espaço que representa um estabelecimento ou organização que são encontrados nas cidades de verdade. Do mesmo modo, os locais escolhidos, além de beleza, também têm um significado.
A bióloga conta que, quando estiverem expostas, em cada casinha que pararem, os visitantes receberão uma explicação que vai ao encontro com o que o espaço está representando. “Por exemplo: as abelhas são muito organizadas e trabalhadoras, cada uma tem sua função. Então, na representação da prefeitura, falaremos sobre a abelha-rainha, que tem o papel de gestora dentro do mundo delas”, descreve, Cristina. Assim, em fragmentos, a vida e as funções das abelhas poderão ser mais conhecidas.
“Mas as casinhas também são bonitas porque queremos que as pessoas sintam vontade de ter uma dessas em casa. Acham as caixas de abelha feias para ter em casa? Não tem problema, é só colocar em uma casinha”, pontua Cristina, ressaltando ainda que “Eu sempre falo, é um pet que todo mundo sonha”.
Parque ambiental e pedagógico
No momento, a criação de abelhas e as casinhas ainda estão no atelier e no pátio da residência de Cristina, no Centro de Ivoti. No entanto, a pequena cidade será a atração principal de um Eco Parque, em Igrejinha. Idealizado por ela e pelos familiares que a ajudam, o local contará com diversas atividades ambientais e pedagógicas.
“Eu sempre falo o seguinte: é preciso conhecer para preservar”.
O espaço será preenchido com museus, trilhas, observatório, planetário, jardim dos sentidos e também com os dois projetos que a educadora ambiental já possuía. A expectativa é que nos próximos meses o local já comece a ganhar forma.
No parque, haverá em torno de 100 casinhas com abelhas – já que a ideia é ter amostra de todas as espécies gaúchas. Os visitantes que desejarem, poderão comprar uma casa para as abelhas e para adquiri-las serão indicados alguns criadores. Como destaca Cristina, a ideia é mostrar para as pessoas que as abelhas nativas são “seres inofensivos” e que, ao ter um enxame em casa, também se está ajudando na preservação – da vida, de modo geral.
“Eu sempre trabalhei muito com impactos ambientais, na verdade, eu sempre trabalhei muito com a morte e, de repente, trabalhar com as abelhas é trabalhar com vida”, ressalta, com um sorriso no rosto, Cristina.