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Entenda a madrugada do crime em que homem matou amigo esfaqueado em Herval

19/02/2022 - 18h08min

Atualizada em 19/02/2022 - 18h12min

Corpo de Jeferson foi encontrado morto a poucos metros da casa da mãe (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval / Gramado – A Polícia Civil concluiu, nesta semana, o inquérito do assassinato de Jeferson da Silva Pimentel, 24 anos. O investigado, de 21 anos, que se entregou com um advogado horas depois do crime, não foi preso justamente por se apresentar espontaneamente.

Jeferson foi morto aos 24 anos (FOTO: Arquivo pessoal da família)

Ele foi indiciado por homicídio doloso – quando há intenção de matar – qualificado por motivo fútil. Se condenado, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão. O inquérito já foi remetido ao Poder Judiciário e, conforme prevê a legislação, ele permanece solto até o julgamento ou, então, até o Ministério Público requerer sua segregação, ou não.

O crime ocorreu na madrugada do dia 29 de julho de 2021 em Alto Padre Eterno, divisa com Serra Grande/Gramado. A vítima foi morta a facadas. A polícia teve acesso ao celular de Jeferson e, nas conversas pelo Messenger – no WhapsApp não há registro –, averiguaram que a vítima e indiciado não tinham qualquer discórdia que pudesse motivar o crime. Eram amigos.

Polícia Civil concluiu o inquérito nesta semana (FOTO: Cleiton Zimer)

Motivo fútil: dívida de R$ 100

O investigado devia R$ 100 para a Jeferson, o que seria referente à uma relação de moto. Teria combinado de pagar em duas vezes.

Naquele dia, já na parte da manhã, ambos trocaram mensagens. “Ó, vamos trabalhar até mais tarde, vamos chegar em casa umas 9h30, 10h. Mas te chamo quando chegar e te levo aí, beleza?”, escreveu o indiciado.

“Não, tranquilo”, respondeu Jeferson.

Nada indicava para uma premeditação 

Já se aproximava da meia-noite. “Bah, onde tu tá? Tá friozão, já me entoquei”, escreveu Jeferson. Àquele dia, de fato, era o mais frio do ano, com precipitação de neve inclusive. Jeferson afirmou que já estava deitado, pois teria que acordar às 5h.

“Vem aí então pegar a moeda. Eu vou até a metade”, escreveu o acusado.

“Vem aí. Também estou indo”, respondeu Jeferson.

O indiciado ainda brinca “leva a lanterna, kkkkkk, tenho um pouco de medo. Não ri”.

O crime aconteceu em questão de minutos

De acordo com as câmeras de segurança das proximidades, à 00h15 Jeferson foi visto subindo à RS-373. Ele caminhava tranquilamente iluminando o caminho com o celular.

Sete minutos depois, à 00h22, ele volta correndo. 00h34 um carro vai atrás dele e entra pela rua onde o corpo foi encontrado, em questão de um minuto o veículo retorna. Demora cerca de 10 minutos e dois carros (o primeiro e mais um) voltam para o lugar, desta vez em alta velocidade, e depois saem novamente.

Ao amanhecer daquele dia o corpo de Jeferson foi encontrado, ensanguentado e com golpes de faca no pescoço e bochecha, a poucos metros da casa da mãe em uma estrada sem saída, paralela à RS. O padrasto o viu primeiro e acionou a polícia.

De acordo com o laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP), Jeferson morreu em decorrência de hemorragia cervical e asfixia por laceração da laringe.

Investigação chegou ao suspeito em poucas horas

Faca que foi usada no crime, de acordo com a Polícia (FOTO: Cleiton Zimer)

Imediatamente a Brigada Militar e Polícia Civil de Santa Maria do Herval foram ao local, isolando-o e fazendo as oitivas. Em pouco tempo chegaram ao nome de um suspeito e já foram intimando pessoas próximas dele. Ao ver que o cerco se fechava, ele se entregou espontaneamente na Delegacia por volta das 20h, com seu defensor.

À polícia, disse que havia se encontrado com a vítima, que se desentenderam e entraram em luta corporal. Em determinado momento Jeferson teria sacado uma faca, que o desarmou, mas que não sabia se o tinha atingido. Cada um teria ido para o seu lado e teria jogado a faca no mato.

Disse que não efetuou o pagamento combinado pois Jeferson estava muito alterado. Que eram amigos, sempre bebiam juntos e jogavam conversa fora.

Irmão do indiciado disse que chamaram por socorro

Em depoimento à Polícia, o irmão do indiciado disse que ele chegou em casa afirmando que havia brigado com Jeferson, que achava que ele estava machucado. O irmão teria ido atrás, porém, não o achou. Voltou, perguntou novamente e, mais uma vez, teria ido em busca. Desta vez encontrando o corpo no chão.

Disse que chegou a ver Jeferson com um pouco de sangue no rosto e que estava com os olhos abertos. O pai do suspeito teria ficado no carro, sem sair. E o acusado não teria ido junto.

Eles teriam retornado para casa e, somente então, acionado o socorro. Conforme o inquérito, afirmou que primeiro ligaram para os Bombeiros, que teriam orientado chamar o Samu, porém, isso não foi confirmado.

Ainda de acordo com o inquérito, no depoimento o irmão disse que indiciado e a vítima, ambos, tinham o costume de carregar uma faca. A lâmina em questão, que é de uma faca sem cabo, foi localizada pela Brigada Militar no local onde teria ocorrido a briga.

A mãe do investigado disse que ele não deu muitos detalhes quando chegou em casa, mas que teria dito que “ou era a senhora chorando, ou a mãe dele”.

Rastro de sangue

O corpo de Jeferson estava deitado na lateral da estrada sem saída, a poucos metros da casa da mãe, onde estava morando há alguns dias. Antes do cadáver, rastros de sangue antecipavam a cena do crime. Em alguns locais, havia poças de sangue, levando a entender que a vítima caía, levantava e seguia adiante, até perder as forças e desfalecer totalmente.

A mãe Rosália Maria de Moraes e o padrasto Jeferson Stahler contam que se mudaram do local, onde tinham a casa própria, pois a cada dia viam a cena do corpo do filho. Assim, se mudaram para Gramado, onde vivem pagando aluguel.

Filho de dois anos

Jeferson, aos 24 anos, trabalhava como pedreiro. Deixou um filho de dois anos. “Ele pega a foto e diz, este é meu pai”, revela Rosália. O padrasto conta que por vezes o menino olha para o céu e diz que “o papai está lá em cima”.

Indiciamento

De acordo com o escrivão João Tadeu o indiciado confessou o crime – mesmo que parcialmente  -, pois confirmou que houve a briga. E há a prova do crime. O motivo fútil seria a cobrança de R$ 100. Para a Polícia, também chegaram relatos de que havia um conflito amoroso, em que a vítima teria conversado com a ex companheira do suspeito, porém, isso não foi comprovado.

Com base neste contexto e nas oitivas e diligências realizadas, houve o indiciamento por homicídio doloso qualificado por motivo fútil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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