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“Esse vírus existe e pode ser muito grave; precisei lutar para sobreviver”
Por Melissa Costa
Dois Irmãos – Ela tem 46 anos, não possui comorbidades, tem hábito de correr e praticar exercícios físicos. Contra todas as estatísticas, a técnica em enfermagem Ilone Batista contraiu o novo coronavírus e, em poucos dias, seu quadro de saúde piorou e precisou ser intubada em um leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Foram quase 30 dias internada e lutando pela vida no hospital de Sapucaia do Sul. Moradora do bairro Bela Vista, ela recebeu alta nesta terça-feira, dia 14.
“Pelo meu histórico, não poderia ter sido tão grave, mas foi”
Ilone ainda está em fase recuperação e os cuidados seguirão na sua residência. Ela ainda sente dificuldade em relação à respiração, para caminhar e atividades simples, no entanto, a melhora no quadro de saúde superou todas as probabilidades. “Vou ter que seguir me recuperando em casa. Não há um período definido para isso, tudo vai depender de como o organismo vai reagir”, conta ela. Com voz baixa e pausada, Ilone faz questão de alertar a comunidade. “Eu sou um exemplo de que a Covid-19 pode atingir todas as pessoas. Pelo meu histórico, não poderia ter sido tão grave, mas foi. Tive que lutar com todas as forças para sobreviver a isso e quero alertar a todos que esse vírus existe e pode ser muito grave. Sou uma das pessoas que contraiu, ficou entre a vida e a morte e conseguiu vencer. Só quem passa, sabe o quanto é difícil”.
“Os médicos fizeram tudo que podiam e pediram para rezar”
Ilone apresentou os primeiros sintomas no início do mês de junho. Ela sentia muito cansaço e logo apresentou febre alta. Como trabalha no Hospital Geral, em Novo Hamburgo, logo fez o exame. No segundo dia, a febre continuava alta, beirando os 39 graus. Ilone procurou atendimento no Postão 24h e, no quarto dia, já estava internada no hospital de Dois Irmãos. “Parecia estar melhorando, foi quando piorei demais”. Entre os dias 12 e 13 de junho, Ilone foi transferida para o hospital de Sapucaia do Sul e, imediatamente, intubada. Por estar internada com Covid e seguindo os protocolos de segurança, a família não podia visitá-la. Os filhos Dionatan e Sulivan somente conseguiam informações da mãe uma vez por dia e por telefone. “Não desejamos isso a ninguém. Era difícil demais. Ficávamos nervosos, pois não tinha hora certa para receber informações. Hoje, entendemos os dois lados; o nosso por querer saber da mãe e estar longe dela e o lado deles, que estavam no meio de tudo, atendendo cada dia mais pacientes”, conta o filho Sulivan.
“Nos dois hospitais, o atendimento foi ótimo”
Depois de 16 dias entubada, as notícias começaram a melhorar. No entanto, os primeiros dias foram críticos. “Os médicos nos disseram que já tinham feito tudo que podiam pela mãe e pediram para a gente rezar. Foram dias difíceis demais”, conta o irmão Dionatan. Ilone faz questão de agradecer todas as equipes e profissionais que lhe ajudaram. “Nos dois hospitais, o atendimento foi ótimo. As equipes se preocupavam, faziam tudo que estava ao alcance. Pude fazer muitas amizades e minha gratidão será eterna”, disse ela.
“Na saúde, encontrei minha vocação”
Ilone é uma pessoa bastante conhecida e querida na cidade. Por muito tempo, ela trabalhou em indústrias calçadistas. Há dois anos, realizou um grande sonho se formando como Técnica em Enfermagem, após curso feito em Novo Hamburgo. Na sala da sua casa, ela mostra com orgulho o quadro com sua foto na formatura. “Foi um dia muito feliz”. Atualmente, Ilone trabalha no Hospital Geral, em Novo Hamburgo, e no Lar das Irmãs Imaculada Coração de Maria, em Dois Irmãos. “Na saúde, encontrei minha vocação. Poder ajudar um paciente me traz muita alegria. Amo o que faço e saber que os nossos cuidados ajudam é algo que me realiza”, conta ela. Em nenhum momento, Ilone pensou em desistir do trabalho em razão dos riscos de contaminação. “Eu fiz um juramento e jamais iria optar por voltar para casa. Nós, que estamos na linha de frente, precisamos encarar isso. Meu filho estuda nessa área também e, se fosse necessário, seríamos voluntários juntos para ajudar”.
PESSOAS DO CONVÍVIO TESTARAM NEGATIVO
Assim que foi diagnosticada com Covid-19, a família de Ilone e demais pessoas da sua convivência passaram pelo exame e todos testaram negativo. “Assim que acordei da sedação, minha principal preocupação foi saber se todos estavam bem e sem a Covid. Logo, achei que tinha ficado uma semana entubado. Quando os médicos me disseram que foram 16 dias, me surpreendi”. Ilone diz que muita coisa mudará em sua vida. “Amo meu trabalho, no entanto, não vou mais viver tendo ele como prioridade. Trabalho em dois lugares e muitas vezes não pude sair com amigos e família por causa dos plantões. Quando isso tudo passar, vou me pôr em primeiro lugar. Vou trabalhar, sim. Mas vou cuidar mais de mim e das minhas pessoas”.